Conheça o besouro que ameaça 1,8 mil árvores de Belo Horizonte

Infestação de besouro e ataque às raízes deixa espécimes vulneráveis. Após identificar surto há quatro meses, prefeitura anuncia corte de emergência para minimizar risco no carnaval

Mateus Parreiras Junia Oliveira
Primeiros alvos de ataque foram observados em 2013, no Prado. Na Rua Três Corações, rota de coletivos e escolares, ainda há troncos infestados - Foto: Beto Novaes/EM/DA Press

- Foto: Beto Novaes/EM/DA PressCom até oito centímetros de comprimento, carapaça brilhante e capaz de causar estragos enormes, o chamado besouro metálico se tornou o novo inimigo número um das árvores de Belo Horizonte, deixando 1.800 espécimes sob alerta, monitorados por risco de ruir sobre pessoas, imóveis e veículos – como já ocorreu recentemente. De nome científico Euchroma gigantea, o inseto foi identificado por pesquisadores e técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente em troncos e raízes de mungubas e paineiras de grande porte, em passeios de todas as regiões da cidade. O surto populacional foi constatado há quatro meses, mas não se descobriu ainda inseticida ou método que seja eficiente para combater os insetos, restando aos agentes da prefeitura catá-los manualmente e buscar soluções para a praga. Mais uma preocupação para uma cidade que assiste a cada chuva troncos de grande porte despencando sobre carros e bloqueando vias nos bairros e até na Praça 7, no Hipercentro, onde um exemplar esmagou um veículo no domingo. Diante dessa situação e com a capital prestes a receber 2,4 milhões de foliões que devem lotar as ruas no carnaval, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou a supressão ou poda de 50 árvores no trajeto dos blocos.


O besouro metálico em si não provoca danos às árvores, mas suas larvas – de até 12 centímetros – devoram o miolo dos troncos e escavam a estrutura das raízes, abrindo galerias. O ataque tira a firmeza do tronco, que fica vulnerável a ventos e chuva. Em 2013, especialistas do Meio Ambiente observaram pela primeira vez a ação dos insetos em BH, em mungubas do Bairro Prado, na Região Oeste, e descreveram hábitos e consequências das infestações em um artigo científico para a revista Tecnologia e Ciência Agropecuária. “O ataque das larvas é denunciado pelo desfolhamento da copa e pelo aspecto amarelado das folhas, possibilitando uma segura indicação de corte, ante o iminente perigo que as árvores afetadas representam para a comunidade”, diz o artigo.


De acordo com a urbanista Márcia Mourão Parreira Vital, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, foi por meio do inventário das árvores de Belo Horizonte que a prefeitura conseguiu identificar as espécies preferidas pelos besouros, para tentar fazer o monitoramento e a supressão das condenadas.

Contudo, o inventário cobre apenas 300 mil das estimadas 480 mil árvores da capital. O trabalho, interrompido em 2014 e atualmente sem contrato para continuação, abrangeu as regionais Leste, Oeste, Noroeste, Centro-Sul e parte da Pampulha. “Pelo inventário conseguimos identificar os alvos que podem estar infestados. Dessas cerca de 1.800 árvores, algumas com certeza serão alvo de supressão. Embora não tenhamos a cidade mapeada, as regiões Barreiro, Venda Nova, Norte e o restante da Pampulha têm um trabalho de rotina para monitoramento da vegetação. A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) também está apoiando o trabalho”, afirma.

AMEAÇA DE PÉ
O inseto foi identificado inicialmente nas ruas Três Corações e Safira, no Bairro Prado, Oeste de Belo Horizonte. Quatro anos depois, a presença da praga ainda é notória entre os moradores, que relatam até a queda de uma munguba há dois meses, na Rua Três Corações, que quase atingiu uma senhora no passeio. “Tinha chovido e a árvore caiu, bloqueando a rua. Foi um grande susto e por sorte a mulher que passava não foi esmagada”, lembra a gerente de departamento pessoal Camila Santos Dias, de 28 anos, que mora na rua há nove. Nas calçadas do seu quarteirão há pelo menos cinco grandes mungubas infestadas de besouros metálicos. “Todos os dias vejo esses besouros, e nunca imaginei que era por causa deles que as árvores daqui estavam caindo. Dá muito medo, porque a gente pode estar passando no momento e ser atingida”, disse.


Pelo artigo da revista científica de 2013, foram localizadas oito mungubas infestadas na Rua Três Corações e 29 na Rua Safira. Os besouros metálicos podem ser vistos em plena luz do dia nessas vias, voando entre galhos, muros de casas e portarias de prédios.

Nas árvores em que foram avistados, a presença de larvas também deixou rastros compatíveis com os descritos no artigo científico – orifícios profundos nos troncos e raízes, acúmulo de serragem saindo pelas aberturas, diversas marcas de cicatrização na casca e apodrecimento de raízes e parte inferior dos troncos. Nas duas ruas, a queda de uma das grandes árvores pode causar uma tragédia, uma vez que circulam por lá ônibus do transporte público e várias vans de transporte escolar. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, a coleta dos besouros e a supressão de árvores infestadas foi iniciada e o trabalho mais intenso tem sido realizado pela Regional Centro-Sul.
- Foto: Beto Novaes/EM/DA Press

INIMIGO SILENCIOSO

Conheça o inseto que, depois do ataque da mosca-branca-do-fícus, representa o novo risco para a vegetação urbana e para cidadãos de BH


BESOURO METÁLICO

Nome científico: Euchroma gigantea
Distribuição: América do Sul
Dimensões: 8cm (adulto) 12cm (larva)

CICLO DE VIDA

As fêmeas põem ovos entre osmeses de dezembro e março, por entre rachaduras em cascas de árvores. O período médio de incubação é de 19 dias

As larvas escavamgalerias no troncoenas raízes, onde completam o ciclo biológicode 240 dias, tornando-se pupas por mais de 300 dias

Após emergir, o adulto escava uma galeria de forma ovalada, no sentido vertical, em direção à superfície do solo

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Como as larvas destroem o sistema de raízes, as árvores ficam sem sustentação, caindo facilmente pela ação do vento

Fonte: Universidade Federal de Goiás

Motoserra no roteiro dos blocos

Além dos riscos do dia a dia, as árvores infestadas pelo besouro gigante metálico trazem uma preocupação imediata e de proporções gigantescas: o carnaval de Belo Horizonte. A combinação dos espécimes comprometidos pelo inseto com chuva, raios e ventos é potencialmente arriscada no meio da multidão de 2,4 milhões de foliões que prometem tomar conta das ruas da capital. Para tentar evitar acidentes como o que ocorreu em plena Praça Sete no domingo, quando uma árvore de grande porte despencou sobre dois veículos, atingindo um deles em cheio, a prefeitura anunciou a supressão ou poda de 50 mungubas e paineiras atacadas pela praga. Elas estão no trajeto dos 350 blocos que vão desfilar pela cidade, principalmente nas regiões Centro-Sul e Leste.


Ontem, foi cortada uma árvore na Rua Juiz de Fora, no Barro Preto (Centro-Sul de BH), e hoje está programada poda de um exemplar na Rua dos Otoni, no Bairro Santa Efigênia. “A operação no carnaval é para fazer a gestão de riscos e desastres em virtude de cerca de 400 desfiles, alguns com mais de 50 mil pessoas, decorrentes de árvores e chuvas. Em função da queda da árvore na Praça Sete, nos antecipamos, pois haveria pânico e correria se isso ocorresse na festa”, afirmou o coordenador da Defesa Civil Municipal, coronel Alexandre Lucas.

No trajeto dos blocos foram avaliadas quais árvores estavam com a situação comprometida, com risco de queda ou atacadas pelo besouro metálico. A análise está sendo feita por biólogos e engenheiros-agrônomos e florestais.


O secretário Municipal de Meio Ambiente, Mário Werneck, ressaltou que as ações têm respaldo técnico-científico e tudo está sendo feito de forma a não assustar a população nem provocar caos. “As árvores são frondosas e têm características diferentes. Olhando, não observamos que estão ruins, mas podem cair muito rapidamente, principalmente nesta época, com chuvas torrenciais e muito vento”, disse.


Engenheiro-agrônomo da PBH e doutor em entomologia, Dany Sílvio Amaral informou que o surto populacional da espécie de besouro, conhecido há muito tempo e endêmico do Brasil, foi observado há quatro meses. “O ataque é silencioso. A árvore pode estar frondosa, com frutos, mas sendo corroída”, afirmou. Algumas das causas apontadas pelo especialista para a infestação são a diminuição de inimigos naturais e da diversidade biológica na cidade. Segundo ele, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto Biológico de São Paulo estão estudando formas de controle, como inseticidas injetáveis nos troncos das árvores e armadilhas para capturar os insetos.

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