O besouro metálico em si não provoca danos às árvores, mas suas larvas – de até 12 centímetros – devoram o miolo dos troncos e escavam a estrutura das raízes, abrindo galerias. O ataque tira a firmeza do tronco, que fica vulnerável a ventos e chuva. Em 2013, especialistas do Meio Ambiente observaram pela primeira vez a ação dos insetos em BH, em mungubas do Bairro Prado, na Região Oeste, e descreveram hábitos e consequências das infestações em um artigo científico para a revista Tecnologia e Ciência Agropecuária. “O ataque das larvas é denunciado pelo desfolhamento da copa e pelo aspecto amarelado das folhas, possibilitando uma segura indicação de corte, ante o iminente perigo que as árvores afetadas representam para a comunidade”, diz o artigo.
De acordo com a urbanista Márcia Mourão Parreira Vital, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, foi por meio do inventário das árvores de Belo Horizonte que a prefeitura conseguiu identificar as espécies preferidas pelos besouros, para tentar fazer o monitoramento e a supressão das condenadas.
AMEAÇA DE PÉ O inseto foi identificado inicialmente nas ruas Três Corações e Safira, no Bairro Prado, Oeste de Belo Horizonte. Quatro anos depois, a presença da praga ainda é notória entre os moradores, que relatam até a queda de uma munguba há dois meses, na Rua Três Corações, que quase atingiu uma senhora no passeio. “Tinha chovido e a árvore caiu, bloqueando a rua. Foi um grande susto e por sorte a mulher que passava não foi esmagada”, lembra a gerente de departamento pessoal Camila Santos Dias, de 28 anos, que mora na rua há nove. Nas calçadas do seu quarteirão há pelo menos cinco grandes mungubas infestadas de besouros metálicos. “Todos os dias vejo esses besouros, e nunca imaginei que era por causa deles que as árvores daqui estavam caindo. Dá muito medo, porque a gente pode estar passando no momento e ser atingida”, disse.
Pelo artigo da revista científica de 2013, foram localizadas oito mungubas infestadas na Rua Três Corações e 29 na Rua Safira. Os besouros metálicos podem ser vistos em plena luz do dia nessas vias, voando entre galhos, muros de casas e portarias de prédios.
INIMIGO SILENCIOSO
Conheça o inseto que, depois do ataque da mosca-branca-do-fícus, representa o novo risco para a vegetação urbana e para cidadãos de BH
BESOURO METÁLICO
Nome científico: Euchroma gigantea
Distribuição: América do Sul
Dimensões: 8cm (adulto) 12cm (larva)
CICLO DE VIDA
As fêmeas põem ovos entre osmeses de dezembro e março, por entre rachaduras em cascas de árvores. O período médio de incubação é de 19 dias
As larvas escavamgalerias no troncoenas raízes, onde completam o ciclo biológicode 240 dias, tornando-se pupas por mais de 300 dias
Após emergir, o adulto escava uma galeria de forma ovalada, no sentido vertical, em direção à superfície do solo
%u2714A RAIZ DO PROBLEMA
Como as larvas destroem o sistema de raízes, as árvores ficam sem sustentação, caindo facilmente pela ação do vento
Fonte: Universidade Federal de Goiás
Motoserra no roteiro dos blocos
Além dos riscos do dia a dia, as árvores infestadas pelo besouro gigante metálico trazem uma preocupação imediata e de proporções gigantescas: o carnaval de Belo Horizonte. A combinação dos espécimes comprometidos pelo inseto com chuva, raios e ventos é potencialmente arriscada no meio da multidão de 2,4 milhões de foliões que prometem tomar conta das ruas da capital. Para tentar evitar acidentes como o que ocorreu em plena Praça Sete no domingo, quando uma árvore de grande porte despencou sobre dois veículos, atingindo um deles em cheio, a prefeitura anunciou a supressão ou poda de 50 mungubas e paineiras atacadas pela praga. Elas estão no trajeto dos 350 blocos que vão desfilar pela cidade, principalmente nas regiões Centro-Sul e Leste.
Ontem, foi cortada uma árvore na Rua Juiz de Fora, no Barro Preto (Centro-Sul de BH), e hoje está programada poda de um exemplar na Rua dos Otoni, no Bairro Santa Efigênia. “A operação no carnaval é para fazer a gestão de riscos e desastres em virtude de cerca de 400 desfiles, alguns com mais de 50 mil pessoas, decorrentes de árvores e chuvas. Em função da queda da árvore na Praça Sete, nos antecipamos, pois haveria pânico e correria se isso ocorresse na festa”, afirmou o coordenador da Defesa Civil Municipal, coronel Alexandre Lucas.
O secretário Municipal de Meio Ambiente, Mário Werneck, ressaltou que as ações têm respaldo técnico-científico e tudo está sendo feito de forma a não assustar a população nem provocar caos. “As árvores são frondosas e têm características diferentes. Olhando, não observamos que estão ruins, mas podem cair muito rapidamente, principalmente nesta época, com chuvas torrenciais e muito vento”, disse.
Engenheiro-agrônomo da PBH e doutor em entomologia, Dany Sílvio Amaral informou que o surto populacional da espécie de besouro, conhecido há muito tempo e endêmico do Brasil, foi observado há quatro meses. “O ataque é silencioso. A árvore pode estar frondosa, com frutos, mas sendo corroída”, afirmou. Algumas das causas apontadas pelo especialista para a infestação são a diminuição de inimigos naturais e da diversidade biológica na cidade. Segundo ele, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto Biológico de São Paulo estão estudando formas de controle, como inseticidas injetáveis nos troncos das árvores e armadilhas para capturar os insetos.