Um mês depois do anúncio do surto de febre amarela pelas autoridades de saúde do estado, a doença traça em Minas uma geografia que exige atenção, na avaliação de infectologistas. Além de haver casos humanos espalhados por praticamente todos os quadrantes do estado, o mapa que mostra o registro de morte de macacos – fenômeno que indica possível circulação do vírus – gera alerta em todas as regiões de Minas.
Já são 144 municípios com algum tipo de notificação de morte de primatas. Em 70 deles há suspeita; em 22 há investigação em curso, e em 52 dessas cidades a mortandade foi confirmada por febre amarela (veja mapa). Ao avaliar os últimos 30 dias, especialistas afirmam que as medidas de controle mostraram eficiência, mas alertam que o momento não é de baixar a guarda. Até porque, o número de mortes e casos confirmados voltou a subir e a proximidade do período de carnaval – com intenso trânsito de turistas por todo o país –, pode favorecer a disseminação da doença.
Balanço da Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgado ontem mostra que já são 908 casos suspeitos de febre amarela no estado, 39 a mais que o dado do dia anterior. Os diagnósticos confirmados subiram de 184 para 190, enquanto as mortes sob investigação saltaram de 141 para 146. Do total de óbitos, 66 já tiveram a confirmação para a virose.
Ao traçar um balanço dos 30 dias de surto, o infectologista Carlos Starling, diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, chama a atenção para a necessidade de se manter o bloqueio vacinal contra a disseminação da doença, com prioridade para as áreas atingidas, até que se alcance em torno de 80% da população mineira vacinada. Na década anterior ao atual surto (2006/2016), esse índice era de 49% no estado. “Com cerca de 80% da população imunizada é possível evitar que o surto progrida, porque se consegue ter uma proteção por arraste, ou seja, um grupo de pessoas vacinadas consegue proteger uma outra não vacinada”, afirma.
O especialista afirma que, além das áreas com registro de casos humanos, os locais onde foram identificadas mortes de macacos devem ter reforço vacinal em um raio de até 50 quilômetros. “Essa distância é determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e é importante ser levada em consideração para se alcançar o fim do surto e evitar o surgimento de novos casos, não só em Minas, mas em outras partes do país”, explica. Ele destaca que é “fundamental seguir à risca o programa de vacinação nacional, do Ministério da Saúde, para que se possa manter a resistência ao avanço da doença”.
O especialista pondera que não há motivo de pânico que exija vacinação em massa e em tempo recorde em todo o estado, a não ser nas áreas prioritárias. Mas diz que, com planejamento e com informação clara, os órgãos de saúde devem buscar a atualização do cartão de vacina das pessoas que continuam desprotegidas. “Esse foi um surto de grandes proporções. O maior dos últimos tempos. Ainda no olho do furacão não é possível definir todas as causas, mas muito provavelmente a cobertura deficiente da vacina em áreas de risco foi determinante para que ele ocorresse”, afirma, destacando que não é possível deixar que a situação se repita.
Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Estevão Urbano também diz que o momento é de olhar para o sofrimento gerado pela febre amarela, para evitar que a enfermidade continue sendo uma ameaça. “É preciso aprender com a história e seguir a vacinação pelo país, como prevê o calendário nacional do Ministério da Saúde. Desta vez, o surto foi principalmente em Minas. Não é possível prever quando e qual será a próxima região. É preciso prevenir”, disse, lembrando que o carnaval pode facilitar a transmissão da doença, diante da maior circulação de pessoas em todo o país.
CRISE DO SISTEMA De olho no impacto que o surto trouxe para os serviços de saúde das regiões afetadas, infectologistas reforçam ainda mais a necessidade de se manter o bloqueio vacinal ativo. “Foi um período muito complicado. As redes que já trabalham sobrecarregadas foram ainda mais exigidas. Outro agravante foi a transição de governo em muitos municípios, com descontinuidade da política pública em alguns casos”, ressalta Carlos Starling. Ele lembrou ainda que o já crescente registro de casos das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (dengue, zika e chikungunya) e outros problemas de saúde típicos da época, como leptospirose e diarreia, geram ainda mais sobrecarga no atendimento, com impacto importante para gestores, trabalhadores e, sobretudo, para a população.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que, assim como é do entendimento dos especialistas, vem mantendo o trabalho de prevenção e bloqueio vacinal, bem como de vigilância e investigação, tanto de novos casos humanos quanto das mortes de macacos. A pasta informou que mantém estratégias de vacinação definidas por critérios, divididos em três categorias.
Nas cidades com casos e mortes por febre amarela ou morte de macacos confirmadas pela doença, a imunização, classificada como em situação de emergência epidemiológica, é feita de forma intensificada. Há vacinação nos postos fixos, volantes e de casa a casa. Nos municípios com rumores ou investigação de morte dos animais e em cidades limites a regiões com doentes humanos e mortes de primatas confirmadas, a aplicação é intensificada na rotina e, na zona rural, feita de casa em casa. Já nas regiões sem suspeita de casos humanos ou morte de macacos, os serviços de saúde devem permanecer vacinando conforme demanda espontânea e a rotina do calendário nacional.
Ainda de acordo com a secretaria, a distribuição das vacinas se mantém constante, dentro da capacidade de entrega pelo ministério e de armazenamento e administração das doses pelas equipes de saúde dos municípios. Até ontem, a pasta havia distribuído 4,48 milhões de doses para atender às áreas de intensificação e rotina de imunização. Dados fornecidos pelas unidades regionais de saúde mostram que já foram aplicadas 2,4 milhões de vacinas, sendo 1,4 milhão nos municípios com surto de febre amarela.
Já são 144 municípios com algum tipo de notificação de morte de primatas. Em 70 deles há suspeita; em 22 há investigação em curso, e em 52 dessas cidades a mortandade foi confirmada por febre amarela (veja mapa). Ao avaliar os últimos 30 dias, especialistas afirmam que as medidas de controle mostraram eficiência, mas alertam que o momento não é de baixar a guarda. Até porque, o número de mortes e casos confirmados voltou a subir e a proximidade do período de carnaval – com intenso trânsito de turistas por todo o país –, pode favorecer a disseminação da doença.
Balanço da Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgado ontem mostra que já são 908 casos suspeitos de febre amarela no estado, 39 a mais que o dado do dia anterior. Os diagnósticos confirmados subiram de 184 para 190, enquanto as mortes sob investigação saltaram de 141 para 146. Do total de óbitos, 66 já tiveram a confirmação para a virose.
Ao traçar um balanço dos 30 dias de surto, o infectologista Carlos Starling, diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, chama a atenção para a necessidade de se manter o bloqueio vacinal contra a disseminação da doença, com prioridade para as áreas atingidas, até que se alcance em torno de 80% da população mineira vacinada. Na década anterior ao atual surto (2006/2016), esse índice era de 49% no estado. “Com cerca de 80% da população imunizada é possível evitar que o surto progrida, porque se consegue ter uma proteção por arraste, ou seja, um grupo de pessoas vacinadas consegue proteger uma outra não vacinada”, afirma.
O especialista afirma que, além das áreas com registro de casos humanos, os locais onde foram identificadas mortes de macacos devem ter reforço vacinal em um raio de até 50 quilômetros. “Essa distância é determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e é importante ser levada em consideração para se alcançar o fim do surto e evitar o surgimento de novos casos, não só em Minas, mas em outras partes do país”, explica. Ele destaca que é “fundamental seguir à risca o programa de vacinação nacional, do Ministério da Saúde, para que se possa manter a resistência ao avanço da doença”.
O especialista pondera que não há motivo de pânico que exija vacinação em massa e em tempo recorde em todo o estado, a não ser nas áreas prioritárias. Mas diz que, com planejamento e com informação clara, os órgãos de saúde devem buscar a atualização do cartão de vacina das pessoas que continuam desprotegidas. “Esse foi um surto de grandes proporções. O maior dos últimos tempos. Ainda no olho do furacão não é possível definir todas as causas, mas muito provavelmente a cobertura deficiente da vacina em áreas de risco foi determinante para que ele ocorresse”, afirma, destacando que não é possível deixar que a situação se repita.
Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Estevão Urbano também diz que o momento é de olhar para o sofrimento gerado pela febre amarela, para evitar que a enfermidade continue sendo uma ameaça. “É preciso aprender com a história e seguir a vacinação pelo país, como prevê o calendário nacional do Ministério da Saúde. Desta vez, o surto foi principalmente em Minas. Não é possível prever quando e qual será a próxima região. É preciso prevenir”, disse, lembrando que o carnaval pode facilitar a transmissão da doença, diante da maior circulação de pessoas em todo o país.
CRISE DO SISTEMA De olho no impacto que o surto trouxe para os serviços de saúde das regiões afetadas, infectologistas reforçam ainda mais a necessidade de se manter o bloqueio vacinal ativo. “Foi um período muito complicado. As redes que já trabalham sobrecarregadas foram ainda mais exigidas. Outro agravante foi a transição de governo em muitos municípios, com descontinuidade da política pública em alguns casos”, ressalta Carlos Starling. Ele lembrou ainda que o já crescente registro de casos das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (dengue, zika e chikungunya) e outros problemas de saúde típicos da época, como leptospirose e diarreia, geram ainda mais sobrecarga no atendimento, com impacto importante para gestores, trabalhadores e, sobretudo, para a população.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que, assim como é do entendimento dos especialistas, vem mantendo o trabalho de prevenção e bloqueio vacinal, bem como de vigilância e investigação, tanto de novos casos humanos quanto das mortes de macacos. A pasta informou que mantém estratégias de vacinação definidas por critérios, divididos em três categorias.
Nas cidades com casos e mortes por febre amarela ou morte de macacos confirmadas pela doença, a imunização, classificada como em situação de emergência epidemiológica, é feita de forma intensificada. Há vacinação nos postos fixos, volantes e de casa a casa. Nos municípios com rumores ou investigação de morte dos animais e em cidades limites a regiões com doentes humanos e mortes de primatas confirmadas, a aplicação é intensificada na rotina e, na zona rural, feita de casa em casa. Já nas regiões sem suspeita de casos humanos ou morte de macacos, os serviços de saúde devem permanecer vacinando conforme demanda espontânea e a rotina do calendário nacional.
Ainda de acordo com a secretaria, a distribuição das vacinas se mantém constante, dentro da capacidade de entrega pelo ministério e de armazenamento e administração das doses pelas equipes de saúde dos municípios. Até ontem, a pasta havia distribuído 4,48 milhões de doses para atender às áreas de intensificação e rotina de imunização. Dados fornecidos pelas unidades regionais de saúde mostram que já foram aplicadas 2,4 milhões de vacinas, sendo 1,4 milhão nos municípios com surto de febre amarela.