A morte de macacos contaminados pela febre amarela na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) alerta para a circulação do vírus da doença na capital e cidades vizinhas e a necessidade de reforço vacinal na região. A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) confirmou ontem resultados positivos para a doença em animais que morreram em Belo Horizonte, Betim e Contagem. Também atestou mais duas mortes no estado de pessoas infectadas pela doença, o que soma 68 óbitos, dos 195 casos confirmados de um total de 954 notificações da febre.
Além da constatação de macacos infectados na Grande BH, a SES confirma a contaminação de primatas em Bocaiuva (regional de saúde de Montes Claros, Norte de Minas), Poços de Caldas (regional de Pouso Alegre, no Sul), Curvelo (regional de Sete Lagoas, Região Central) e Japaraíba (regional de Divinópolis, Centro-Oeste). De acordo com o comunicado, apesar da presença de circulação do vírus da febre amarela em macacos, não há ainda notificação de casos de febre amarela em humanos nesses locais.
O infectologista Carlos Starling, diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, destaca que as mortes de macacos, mesmo não sendo os únicos animais reservatórios do vírus, é um importante indicador para a vigilância da febre amarela, pois os primatas adoecem primeiro e fornec’em informações valiosas sobre a circulação do vírus. “A partir do local de detecção da mortandade deles, será necessário realizar, de dentro para fora, o bloqueio vacinal crescente”, destaca.
Starling descarta vacinação em massa, indistinta, já que a imunização deve obedecer critérios prioritários. “Apesar da orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de reforço vacinal num raio de 50 quilômetros a partir de onde foram identificadas mortes de macacos, há uma limitação logística, tendo em vista a disponibilidade da vacina. O bloqueio imunológico deve, então, se iniciar nas áreas de matas em que houve a constatação das mortes, num raio de dois quilômetros, quatro e assim até onde possível, uma vez que os vetores da febre amarela silvestre, os mosquitos Haemagogus e Sabethes, estão nas copas das árvores”, aponta. O infectologista vê no bloqueio vacinal em área de mata o caminho para evitar que o Aedes aegypti, que tem competência para transmitir a doença, não venha a se tornar um vetor da febre amarela nas áreas urbanas.
Embora até o momento a febre amarela no estado seja do tipo silvestre, o Aedes – transmissor da dengue, zika e chikungunya (veja quadro) – é capaz de agir como vetor dessa doença, levando o vírus de humanos para humanos em ambientes urbanos. Apesar de não haver nenhum caso de febre amarela transmitida pelo Aedes desde 1942, o crescimento da doença num momento em que o estado está infestado por esse mosquito preocupa. “Há vetor suficiente para passar qualquer doença – dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Por isso, é bom reforçar a atenção”, disse ontem o infectologista Dirceu Grecco, ao analisar o avanço da chikungunya no estado, que somente nos 37 primeiros dias do ano já registra 59,3% do total de casos prováveis do ano passado inteiro.
Segundo a SES, as ações de prevenção e combate à febre amarela estão sendo realizadas de forma oportuna e conjunta com o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e Secretarias Municipais de Saúde dos municípios afetados. A secretaria destaca que a vacinação estará disponível conforme estratégias pré-definidas para a população que pode receber a vacina, o que inclui avaliação da equipe de saúde e do cartão de vacinação).
No comunicado, a secretaria destaca que os macacos não transmitem a febre amarela para o homem. “Eles são indicadores importantes para vigilância da febre amarela”, ressalta. A notificação da morte ou mesmo de macacos doentes pode ser realizada por qualquer pessoa, e deve ser feita o mais breve possível para Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para que as devidas providências possam ser tomadas a contento, completa.