Belo Horizonte já apura primeiros casos de febre amarela em humanos

Seis moradores da capital foram internados no Barreiro com sintomas, mas secretaria crê que eventual contágio tenha ocorrido no interior. Alerta se espalha na região metropolitana

Guilherme Paranaiba Valquiria Lopes
Equipes de agentes vasculham moradias da Região Oeste em busca de focos do mosquito transmissor - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press
Belo Horizonte investiga os casos dos primeiros moradores da cidade internados com suspeita de febre amarela. A Secretaria Municipal de Saúde confirmou que seis habitantes da capital deram entrada no Hospital Metropolitano do Barreiro com sintomas, depois de voltar de municípios da área que enfrenta surto no interior de Minas. Além deles, três pacientes vindos de cidades do Vale do Rio Doce foram tratados na unidade hospitalar, sendo que um deles, de Itueta, morreu. Os demais são de Bom Jesus do Galho e São Sebastião do Maranhão. Dos nove doentes, quatro receberam alta  e  quatro permanecem internados (veja arte). As internações tiveram início em 13 de janeiro, no serviço que é referência para pacientes que chegam a unidades municipais. O Hospital Eduardo de Menezes é referência para pacientes com primeiro atendimento no interior.

Enquanto a aproximação da doença amedronta a capital – embora autoridades sanitárias destaquem ser provável que a possível contaminação tenha ocorrido fora da cidade –, cresce também o mapa de investigação da doença na Grande BH, onde chegou a sete o total de cidades com registro de morte de macacos. Ontem foi a vez de Juatuba, a cerca de 50 quilômetros de Belo Horizonte, se juntar à lista.
No último domingo, ciclistas encontraram o corpo de um mico na zona rural da cidade. O animal foi encaminhado para análise da Fundação Ezequiel Dias.

De acordo com boletim da Secretaria de Estado de Saúde, Minas tem 992 casos suspeitos da doença, com 169 mortes notificadas e 69 confirmdas. A Grande BH não tem casos humanos diagnosticados, mas há confirmação de que macacos encontrados em BH, Betim e Contagem morreram por febre amarela, enquanto em Nova Lima o processo segue investigação. Em Lagoa Santa e Ribeirão das Neves, por enquanto, o registro ainda se restringe a rumores de que primatas tenham sido encontrados mortos.

Em Belo Horizonte, a prefeitura intensificou ontem as ações de vacinação e controle de zoonoses. Além do macaco que comprovadamente morreu vítima do vírus,  em venda Nova, corpos de outros dois foram recolhidos na cidade e são submetidos a exames. O último morreu no Parque Jacques Cousteau, no Bairro Betânia, Região Oeste, o que levou muitas pessoas a buscar vacinas nos três postos de saúde da comunidade. No Centro de Saúde Betânia, a fila tinha cerca de 40 pessoas por volta das 9h30, quando as doses já eram aplicadas. Segundo funcionários da unidade, a partir das 16h uma senha foi distribuída para organizar o atendimento.

Ontem, equipes começaram a percorrer cerca de 120 casas em um raio de 200 metros em torno do parque para eliminar focos do mosquito Aedes aegypti, que também pode transmitir a febre amarela, e  para orientar a comunidade sobre a necessidade de se vacinar. Em algumas casas foram descobertas larvas do inseto, também transmissor da dengue, zika e chikungunya. O último caso de febre amarela urbana foi registrado no Brasil em 1942. O atual surto em Minas é considerado silvestre, com transmissão pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes.
- Foto: Arte EM
REFORÇO A Prefeitura de BH aplicou inseticida no interior do Parque Jacques Cousteau, unidade que está interditada e ainda vai receber telas com o mesmo produto químico no entorno de suas instalações. A barreira também começou a ser instalada ontem no entorno da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Venda Nova, na região que teve o único macaco morto já com contágio confirmado por febre amarela. “As telas são importantes nas Upas, porque são os locais em que a PBH estabiliza pacientes com suspeita da doença antes de serem encaminhados ao Hospital do Barreiro”, afirmou a enfermeira Adriana Cristina Camargos de Rezende, referência técnica da Gerência de Assistência da Secretaria de Saúde.

Repercussão e mais verbas


O pior surto de febre amarela enfrentado por Minas Gerais na história recente foi assunto de debate ontem, na Assembleia Legislativa.
A fala mais contundente foi do deputado Antonio Jorge (PPS), ex-secretário de estado da Saúde. “Precisamos procurar o governo do estado, o governo federal e as prefeituras para resolver esse problema gravíssimo”, disse. João Leite (PSDB) engrossou o coro e denunciou a aproximação do surto de áreas urbanas. “A população está correndo sérios riscos, enquanto o governo cruza os braços”, disse, recebendo apoio do colega de plenário Bonifácio Mourão (PSDB), que denunciou a paralisação de obras de 14 hospitais no estado.

O Ministério da Saúde anunciou ontem que vai disponibilizar R$ 7,4 milhões para assistência a vítimas da doença em Minas. Os recursos deverão ser empregados para custear serviços hospitalares e ambulatoriais, além de despesas emergenciais durante os próximos três meses. O montante será repartido entre a Secretaria de Estado da Saúde e os municípios de Teófilo Otoni, Ipatinga e Caratinga..