Depoimento: injeção de desânimo após longas horas de fila para vacina contra febre amarela

Editor de Política do Estado de Minas, Renato Scapolatempore fala sobre as longas horas à espera da imunização

Renato Scapolatempore
Alguém me disse que o posto de saúde abriria às 8h.
Pensei então que, se chegasse às 7h, ficaria entre os primeiros e conseguiria ser vacinado contra a febre amarela até as 8h30. Mas, por volta das 7h10, quando cheguei ao Centro de Saúde Oswaldo Cruz, no Barro Preto, fui surpreendido por uma fila de 40 pessoas. Em poucos minutos eram mais de 100. Outra surpresa: a imunização só começaria às 9h. E uma terceira: a fila era apenas para cadastro na unidade. Depois disso – aí sim – entraria na bendita fila da vacinação.


Consegui ser vacinado às 11h10, quatro horas depois de entrar no posto. Ao longo desse tempo, foram muitas as reclamações das pessoas na fila.

Ouvi gente xingando Dilma, Lula, Temer, Pimentel e Kalil. Todos lembrados na hora de atribuir a culpa por aquela demora. “Isso é uma vergonha”, dizia um. “Maldade que fazem com a gente”, acrescentava outro.

Depois de três horas de espera, a paciência por um fio, nem mães com criança de colo, idosos e portadores de deficiência escapavam das línguas afiadas. O problema é que era atendida uma pessoa da fila de prioridade a cada três atendimentos normais, mas volta e meia alguém reclamava que os prioritários estavam passando na frente. “Se soubesse que ia ser assim, trazia meu sobrinho pequeno para vacinar”, resmungava uma mulher dois lugares à minha frente.

Apesar de se mostrarem prestativos, os funcionários do Oswaldo Cruz já acusam o golpe de receber, de uma hora para outra, centenas de pessoas à procura de vacina. Ontem, no Barro Preto, apenas dois atendentes faziam cadastro e só uma equipe aplicava a vacina. “Estamos no limite”, reclamou uma funcionária. O centro de saúde aguarda a chegada de reforço para melhorar o atendimento, mas ninguém sabe quando isso vai ocorrer.

Uma sugestão para quem pretende enfrentar a fila da vacina: leve uma garrafinha de água, se possível um lanche, e vá com espírito desarmado, sabendo que passará horas no centro de saúde, a maior parte do tempo em pé. É isso ou torcer para que a prefeitura coloque em prática o mais rápido possível o plano de contratar temporariamente atendentes de enfermagem para desafogar os postos. Como disse o próprio Kalil durante a campanha para prefeito, a população de BH precisa de carinho. Ainda mais agora, com a febre amarela assombrando a cidade.

.