A sessão é presidida pela juíza Maria Isabel Fleck, em substituição ao juíz titular, Gluaco Soares, que está de licença por conta da morte da mãe. Na abertura do júri, ela leu a denúncia, que dá conta de que Gustavo estava em um motel na BR-356, aparentemente na presença de mulheres, onde alugaram duas suítes. Na saída, ele passou pelo Bairro Buritis, Oeste de BH, antes de entrar na Raja Gabaglia pela contramão e atingindo o carro de Fernando Paganelli na altura da alça de acesso à BR-356, no Bairro Belvedere.
No início do interrogatório, a juíza ressaltou que Gustavo Bittencourt permaneceu calado durante toda a tramitação do processo, e que hoje seria a primeira vez que falaria. A magistrada fez perguntas de cunho pessoal e sobre o acidente. O estudante revelou não se lembrar de nada, apenas do momento da batida.
Ele disse que um amigo dele dormia no veículo e também não tem muitas recordações. Gustavo também revelou que se mudou para Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, após o acidente, e que tem um filho recém nascido. O réu disse ainda que passa até hoje por tratamento psicológico depois da batida e também falou que naquele dia estava indo para casa, no Bairro de Lourdes, Centro-Sul da capital. Porém, ele não explicou porque estava subindo a Raja Gabáglia e não descendo, caminho natural para o Bairro de Lourdes.
O réu se recusou a responder as perguntas feitas pelo promotor Francisco Santiago, que representa o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Entre as questões, Santiago perguntou o que Gustavo fez com os R$ 300 que sacou quando estava no motel, se ele prestou socorro a Fernando Paganelli e se ele procurou saber a situação da viúva do empresário, Ana Cristina Tavares Nunes Paganelli de Castro, que teve um AVC meses depois do acidente.
Defesa e acusação arrolaram oito pessoas como testemunhas, que foram dispensadas com o consentimento das partes. O conselho de sentença é composto por cinco mulheres e dois homens.
O acidente foi na madrugada de 1º de fevereiro de 2008. O carro de Gustavo estava na contramão e bateu de frente com o carro da vítima, que estava a caminho do trabalho. De acordo com a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), depois da batida o estudante fugiu do local e foi encontrada uma lata de cerveja amassada dentro do seu carro. Gustavo foi preso no mesmo dia e se recusou a fornecer material para exame de teor alcoólico. Ele foi solto dois meses depois, graças a uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que suspendeu a prisão preventiva.
EXPECTATIVA A família de Paganelli espera que Bittencourt seja condenado.
Os dois adolescentes cuidaram da mãe, que ficou dois anos internada. “Tudo que a gente passa diariamente, nenhuma pena no mundo vai reverter essa situação, mas é uma forma de demonstrar um alívio pra gente e mostrar que os atos são puníveis”, diz o rapaz. “Tudo que eu queria era não estar aqui, vivendo esse momento, te dando essa entrevista, eu só queria meu pai”, lamenta Bruno.
Antes da sessão, o promotor Francisco Santiago disse que acredita na condenação do acusado. “Venho com a expectativa não da condenação, mas de fazer um trabalho bem feito, de convencer os jurados de que esse crime - que será um marco em Belo Horizonte -, de que quem sai dirigindo um veículo, com alta velocidade, na contramão de direção, após ingerir bebida alcoólica, tem que ser penalizado”, analisa o promotor. “Não é tão simples você fazer o que fez, matar um pai de família, destruir uma família, porque a viúva seis meses depois teve um AVC, proveniente certamente da morte do marido. A gente tem que provar que esse jovem é merecedor de uma condenação”, enfatiza.