O vice-diretor de Produção de Bio-Manguinhos, Antônio Barbosa, explica que, desde dezembro, quando se teve notícia dos primeiros casos da virose, a instituição começou a estocar mais doses da vacina. Em janeiro, a produção mensal, que era de 2 a 3 milhões de doses/mês, saltou para até 9 milhões, o que representa a capacidade máxima do laboratório. “A produção varia de acordo com a demanda do programa nacional de imunização, mas em geral é de 22 milhões a 30 milhões de doses por ano.
Outra medida que o laboratório precisou adotar para reforçar a produção da vacina da febre amarela foi alterar o planejamento em relação a outros imunizantes. “Alteramos o plano-mestre e postergamos a entrega da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola). Em vez de entrar em produção em fevereiro, ela vai entrar em abril”, explica o vice-diretor. Porém, Antônio Barbosa afirma que a mudança no calendário não trará prejuízo à população, já que há estoque do produto no Ministério da Saúde. “Essa linha de produção (da tríplice viral) é compartilhada. Quando voltarmos a produzi-la, serão duas linhas de produção: a dela e a da febre amarela, que praticamente não para.” O imunizante contra a febre amarela é produzido em duas etapas e leva cerca de 80 dias para ficar pronto.
Apesar dos altos números de doses, a atual produção e distribuição da vacina não é recorde em Bio-Manguinhos, segundo Antônio Barbosa, diante do grande número de casos em outros grandes surtos já registrados no Brasil, a exemplo do ocorrido em 2009. O laboratório sempre exporta o que é excedente da demanda nacional. “Nossa prioridade é atender ao programa nacional de imunização e ao Sistema Único de Saúde. Se não sobrar nenhuma dose, não exportamos, e é o que tem ocorrido no momento. Não estamos vendendo para o exterior desde novembro”, explica.
Em Minas Gerais, a febre amarela já tem 995 casos notificados, com 76 mortes confirmadas e 93 sob investigação. Apesar da procura que lota postos de saúde em cidades como Belo Horizonte, o vice-diretor acredita que a produção atual de vacinas está alinhada com a demanda do ministério, e crê que, além de o surto de febre amarela silvestre estar chegando ao fim, a doença não vai se espalhar para outras áreas no país, nem se urbanizar. “A febre amarela silvestre sempre existiu. A chance de uma pessoa doente ser picada por um mosquito Aedes aegypti na cidade e transmitir a doença existe, mas é pequena. Nós, da Fundação Oswaldo Cruz, não acreditamos na urbanização da doença. E defendemos que as pessoas se vacinem, paulatinamente, com responsabilidade e seguindo o calendário de vacinação e a recomendação das áreas endêmicas”, afirmou.
Mais R$ 8,9 mi para Minas
Minas Gerais vai receber mais recursos para intensificar as ações de imunização da população contra a febre amarela. O Ministério da Saúde publica hoje, no Diário Oficial da União, portaria autorizando a liberação de R$ 8,9 milhões para o estado, informou ontem, por meio de nota, o senador Aécio Neves (PSDB), que se reuniu com o ministro Ricardo de Barros e prefeitos mineiros para discutir o surto no estado. Os novos recursos se somam aos R$ 7,4 milhões já autorizados na quarta-feira para cobrir despesas hospitalares e ambulatoriais.