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Estado de Minas

Este senhor tem tarefa importante nesta madrugada; que ele repete há 30 anos

Nilton dos Santos atrasa os ponteiros em uma hora com o fim do horário de verão


postado em 18/02/2017 06:00 / atualizado em 18/02/2017 08:27

(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Os quase 100 degraus de pedra da estreita escada em caracol não intimidam Nilton dos Santos, de 65 anos, há três décadas dedicado ao setor de manutenção da Igreja de São José, no Centro de Belo Horizonte. Neste fim de semana, como faz desde 1986, ele vai subir até a torre e cumprir um ritual que exige conhecimento, prática e, claro, disposição. Com o fim do horário de verão, que termina à meia-noite de hoje – os relógios deverão ser atrasados em uma hora –, Nilton vai acertar os ponteiros com o tempo para que, a partir do primeiro minuto de amanhã, quem passar em frente ao templo centenário não perca o horário da missa, do trabalho, do lazer e dos demais compromissos com a vida.

Os quatro relógios da São José são regidos por um maquinário alemão datado de 1910 e instalado no ano seguinte. A cada semana, Nilton vai até a torre a fim de dar corda no equipamento, num trabalho movido a força e jeito, já que são 56 voltas no sistema totalmente manual. No início da tarde de quinta-feira, quando os fiéis cantavam, na tradicional Adoração do Santíssimo, ao meio-dia, a canção Hallelujah, de Leonard Cohen (1934-2016), o que dava um toque celestial ao interior da nave, o funcionário fazia uma pequena demonstração do seu ofício.

“Tudo demanda teoria e prática. Mas hoje o tempo parece que passa voando”, acredita o homem, nascido em Taquaraçu de Minas e residente da capital há muitos anos. No caso específico do fim do horário de verão, instituído no Brasil desde 1931 e em vigor regularmente desde 1985, ele diz que faz diferença apenas no primeiro dia – “depois a gente acostuma”. Para a economia do estado, segundo a Cemig, faz diferença. A empresa registrou redução no consumo de 0,5%, o que significa que 108 mil megawatts-hora foram poupados. Essa energia seria suficiente para abastecer BH durante nove dias.

Toda semana o trabalhador cumpre a tarefa de dar corda no maquinário alemão instalado na década de 1910(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Toda semana o trabalhador cumpre a tarefa de dar corda no maquinário alemão instalado na década de 1910 (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Como se fosse um “senhor do tempo”, Nilton explica que acertar o relógio agora é bem diferente da entrada do horário de verão, que, desta vez, teve 126 dias de vigência nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. A operação é simples: basta parar o pêndulo, aguardar por uma hora e depois pô-lo em movimento novamente. “Já para adiantar uma hora é mais trabalhoso. É preciso parar o maquinário, liberar os ponteiros e acertar os quatro mostradores”, conta Nilton. No relógio maior, o marcador grande tem 80 centímetros de comprimento, tamanho que passa completamente fora da percepção dos fiéis e dos pedestres que passam apressados pela Avenida Afonso Pena.

Nova fase
A restauração da Igreja São José entrará em nova etapa logo depois da festa do padroeiro, celebrada em 19 de março. A segunda fase da parte externa vai contemplar a fachada lateral esquerda, voltada para a Rua Tupis. A estimativa de duração dos serviços é de oito meses e os recursos serão provenientes da campanha “São José é 10”, com ampla participação comunitária.

Desde 2011, quando começou o projeto de restauro, foram empregados cerca de R$ 5 milhões. A primeira fase se refere ao interior da igreja, entre 2010 e 2013, e a segunda, em 2014, com a recuperação da fachada. Naquele ano, foi também recuperada a capela interna, chamada de Oratório. Depois da lateral, chegará a vez do fundo da igreja. A continuação da pintura ficará a cargo da especialista Maria Regina Reis Ramos, do Grupo Oficina de Restauro, responsável pela obra desde o início.

A parede lateral vai acompanhar as linhas da fachada, com as cores originais: vermelho, laranja e cinza. A parte interna já concluída é um atrativo a mais para o patrimônio interior. Recebendo a visita diária de tanta gente – no domingo, passam pelo templo cerca de 5 mil –, a Igreja de São José resgatou a luminosidade interna com um trabalho artístico esmerado de restauro.

Considerado o maior conjunto desse tipo de ornamentos em igrejas da capital, o interior da matriz reúne uma variação de motivos religiosos e alguns pagãos: há figuras de 28 santos, de um lado os homens e do outro as mulheres; o patrono da matriz no alto do arco-cruzeiro, com a inscrição “Rogai por nós”; os evangelistas; painéis mostrando José do Egito, que não tem nada a ver com o pai adotivo de Jesus, sendo vendido pelos irmãos e depois em sua volta triunfal; Nossa Senhora ao lado dos apóstolos; e até os símbolos do zodíaco, que, para os religiosos, representam constelações. A decoração pictórica de São José foi feita pelo alemão Guilherme Schumacher, entre 1911 e 1912.

Economia no verão

Segundo o Ministério das Minas e Energia, o horário de verão possibilitou uma redução média de 4,5% na demanda por energia no horário de pico e de 0,5% no consumo nos estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste , o

que equivale aproximadamente ao consumo mensal de energia de Brasília (DF), com 2,8 milhões de habitantes. Além disso, a estimativa de ganhos com o horário de verão é de R$ 147,5 milhões, que representam o custo evitado em despacho de usinas térmicas, para atendimento à ponta de carga no período de vigência.


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