Confusões após passagem de blocos de carnaval preocupam população de BH

Tumulto no Gutierrez após passagem de bloco leva moradores a pedir mais segurança e fiscalização durante a folia. PM vai monitorar áreas 'nevrálgicas'

Gustavo Werneck Cristiane Silva
Líder comunitário, Wellington Medeiros reclama de destruição na Praça Leonardo Gutierrez: "Este lugar precisa de reforma e pioraram a situação" - Foto: Túlio Santos/EM/DA Press
No lugar da alegria, estresse. Em vez de música, baderna. E substituindo o confete e a serpentina, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, além de objetos arremessados no ar. O “fim de festa” com tumulto, a exemplo do ocorrido na noite de domingo no Bairro Gutierrez, na Região Oeste de Belo Horizonte, acende o sinal de alerta para a segurança dos foliões e tranquilidade dos moradores após a passagem dos blocos de carnaval. Para dirigentes de associações comunitárias, a Polícia Militar (PM) e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) precisam tomar providências para evitar problemas como carros com som alto, consumo de drogas e ambulantes vendendo bebidas fora do horário permitido. “É preciso haver controle absoluto para evitar esse tipo de confusão. A felicidade da folia não pode se transformar em tristeza”, diz o presidente do Movimento das Associações de Moradores de BH (MAM-BH), Fernando Santana.

O tumulto no Gutierrez começou depois da passagem do bloco Me beija que eu sou pagodeiro, que reuniu cerca de 7 mil pessoas, conforme a PM. A agremiação saiu de manhã da Avenida Francisco Sá e terminou o cortejo, à tarde, na Praça Leonardo Gutierrez, no Gutierrez.
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um grande número de pessoas se deslocando às pressas por uma rua do bairro e também um homem com o rosto coberto por uma camisa lançando um objeto em direção aos policiais, ao lado de outras pessoas. Os militares teriam revidado com uma bomba. Também é possível ouvir sons de vidros se quebrando. Segundo a PM, não houve feridos e ninguém foi preso. Seis pessoas foram advertidas quanto ao som alto e venda de bebidas alcoólicas no local. Na Savassi, no fim de semana, houve furtos de celulares e apreensão de algumas pessoas.

Diante do tumulto no Gutierrez, os moradores temem problemas maiores durante o carnaval. “Temos todo o respeito pela diversão, mas é preciso haver responsabilidade, cumprimento de horário e respeito às leis”, defende Santana. Para ele, é primordial fiscalizar principalmente na hora de dispersão dos blocos, para afastar os impactos negativos. “O poder público não pode deixar isso ocorrer”, acrescenta. Conforme a legislação municipal, os vendedores ambulantes, este ano cerca de 9,4 mil cadastrados, só têm autorização para vender cerveja, refrigerantes, água e outras bebidas no local de concentração dos blocos e ao longo dos desfiles.


Em nota, a Prefeitura de BH informou que a atuação dos fiscais municipais visa a promover ações preventivas e educativas em relação a eventos realizados em via pública, para coibir ambulantes irregulares (principalmente os que comercializam bebidas em recipientes de vidro) e evitar que os credenciados se fixem em um ponto, de forma a garantir melhor fluidez aos blocos e ao trânsito. Na dispersão, as ações são intensificadas pelas equipes da Guarda Municipal, BHTrans e Polícia Militar. E no âmbito de sua competência, a fiscalização atua até o fim do evento, segundo a PBH.


MAU CHEIRO O líder comunitário do Bairro Gutierrez, Wellington Luiz de Medeiros, preocupa-se com o pós-festa e diz que muitos moradores ligaram para a polícia a fim de denunciar o som alto na praça. “Mas não foi só isso. Mesmo com os banheiros químicos, homens e mulheres fizeram xixi na rua sem o menor problema. Hoje (ontem) aqui está um fedor horrível, sem falar que destruíram a grama da praça. Este lugar está precisando de reforma e pioraram a situação”, disse.

Embora não tenha palco, a Savassi funciona com área natural de dispersão e no fim de semana reuniu milhares de pessoas. Diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) e morador da região, Alessandro Runcini afirmou que “carnaval na Savassi é sinal de transtorno e de perigo”. Ele explicou que, ao contrário de outros eventos de grande público, a prefeitura não fechou, desta vez, a Praça Diogo de Vasconcelos no sentido das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas. “Felizmente também, não haverá palco aqui na região”, afirmou.

Diante do tumulto no Gutierrez, o chefe da Sala de Imprensa da PM, major Flávio Santiago, diz que a PM está mapeando os pontos nevrálgicos dos desfiles de blocos, para se evitarem eventos pós-bloco como na noite de domingo. “Este ano temos mais de 400 blocos. Já resolvemos alguns pontos, como na Avenida Alberta Cintra (no Bairro União, na Região Nordeste).
Outros serão monitorados”, afirmou o militar, que está em contato com a PBH para resolver algumas questões. No caso dos ambulantes, ele diz que a fiscalização compete à prefeitura, enquanto o poder público municipal responde que o impedimento de carro com som alto é da alçada da PM.

Na avaliação do major, há uma mudança de perfil do folião. “Nós acreditamos que pontos específicos de ruptura da ordem podem até acontecer, e eles ocorrem principalmente por uma mudança do perfil do folião. O que aconteceu no Gutierrez ficou devidamente claro para nós, uma mudança de perfil”, explica o militar. Sobre o pós-desfile, ele afirmou que “chegam aqueles veículos com sons que realmente extravasam, extrapolam o potencial de aceitação da comunidade”. Ele prossegue: “O cenário encontrado no bairro já era diferente de uma festa de carnaval. A polícia tenta retirar as pessoas ali, negocia para a saída da via. Muitas garrafas, pedaços de madeira foram arremessados contra a polícia, inclusive, na tentativa da retirada daquelas pessoas”, disse. Ainda de acordo com o major, o tumulto no Gutierrez foi algo pontual.

REPÚDIO Ainda no domingo, os organizadores do bloco Me beija que eu sou pagodeiro publicaram uma nota em sua página no Facebook sobre a ocorrência, ressaltando que repudiam qualquer ato de violência. “Acabamos de tomar conhecimento de que a polícia agiu de forma truculenta na tentativa de dispersar o público, que ainda se encontrava na Praça Leonardo Gutierrez após o nosso cortejo.” Ainda segundo os organizadores, o desfile ocorreu normalmente e no horário combinado, das 11h às 16h, e contou com toda a infraestrutura e suporte da BHTrans, Polícia Militar e Guarda Municipal, sem “nenhuma irregularidade ou ação que demandasse intervenção policial”. (Com João Henrique do Vale)

Campanha alerta contra o assédio


Mulheres ligadas a blocos e foliãs que participam da festa de rua em Belo Horizonte lançaram ontem a campanha “Tira a mão: é hora de dar um basta”, contra o assédio durante a folia. Elas criaram um vídeo, um spot para rádio e banners que podem ser compartilhados pelas redes sociais e outras mídias. Os blocos de BH devem participar lendo o texto da campanha nos trios e também executando a canção Marchinho, composta e interpretada por Brisa Marques. “A ideia é que as pessoas se sintam proprietárias da campanha e ajudem a disseminar”, explica Renata Chamilet, uma das organizadoras. Segundo Renata, o assédio e preconceito já são tratados por diversos blocos carnavalescos de BH há algum tempo. Desta vez, elas decidiram criar uma campanha em tom universal, para alcançar mais pessoas. “O vídeo é alegre, não é pesado. A mensagem é de que estamos na rua. A mulherada está no carnaval, organiza bloco, toca, a mulher sai como quiser e a gente está na rua para divertir”, afirma. O material está disponível na página As Minas do Carnaval de Belô, no Facebook.
- Foto: Reprodução internet/Facebook.