Eram 15h10 quando os responsáveis pela retirada da pichação, com jalecos brancos e máscaras protetoras, começaram a trabalhar sobre as pedras de quartzito-itacolomito, comum na região de Ouro Preto. Inicialmente, Aldo fez a aplicação do spray, que tem na composição um solvente para amolecer a tinta, sobre cada uma das letras: a primeira foi Patrimônio. Depois foi a vez de passar o detergente, neutro e muito concentrado, sobre a superfície porosa por natureza devido aos grãos de quartzito e outros minerais. “O detergente impede que o solvente entranhe na cantaria. E a água, aplicada com um pressurizador, não pode ser jogada com muito força, deve ser em jato fraco”, disse o restaurador que, em 2010, fez o mesmo processo sobre uma pichação na fachada do museu.
A ação foi acompanhada pelo chefe do escritório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Ouro Preto, André Macieira, por autoridades municipais e por pessoas que se indignaram com a situação sofrida pelo Inconfidência, o segundo museu federal mais visitado do país (150 mil pessoas/ano), ficando atrás apenas do Museu Imperial, em Petrópolis (RJ).
Mourão explicou que o ato de vandalismo causou um grande problema ao museu e explicou que o caso está sendo investigado pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal – trata-se de um bem tombado pelo Iphan e localizado no Centro Histórico, reconhecido como Patrimônio da Humanidade, em 1980, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) – pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Minas Gerais – o caso teve inquérito instaurado, para apuração de danos ao patrimônio, pelo promotor de Justiça da comarca, Domingos Ventura de Miranda Júnior. Até agora, no entanto, não foram encontrados os culpados pelo ato, segundo informou a Polícia Civil, na tarde de ontem, por meio da assessoria de imprensa.
“COISA HORROROSA” A poucos metros da pichação, que ocupou a extensão de cerca de 20 metros, a vendedora de uma loja, Lucimar Fernandes, afirmou que a limpeza era de algo “que não era para ter acontecido”. Ele lembrou que se passaram mais de duas semanas e até que enfim as letras desapareciam. Conversando com a amiga, Valníria Cristiane da Silva acrescentou: “Ainda bem que saiu essa coisa horrorosa. Não dava para ficar, este prédio é um patrimônio da cidade”. Trabalhando numa grade, o serralheiro Reinaldo da Silva, de 42, disse que a pichação é “obra de gente sem serviço, de quem não tem o que fazer”. Para ele, agrediram um “patrimônio histórico”.
O material de limpeza da pichação foi doado pelo empresário de Diadema (SP) Francisco Rodriguez Vendrell, que não cobrou também o transporte. Ao museu, chegaram duas caixas de um removedor especial, com 24 unidades no total. Em entrevista ao Estado de Minas, Francisco explicou seu gesto. “Fiquei sensibilizado ao saber disso, pois já é a segunda vez”, disse, ao lembrar do ato de vandalismo cometido em 2010 no mesmo local. Francisco disse que o produto de nome Stark, produzido pela sua empresa, Rocket-Chemical, transforma a pichação em tinta solúvel, sem deixar marcas nas pedras”.
APURAÇÃO Uma das linhas de investigação é que o vandalismo esteja associado à retirada de ambulantes da Praça Tiradentes. Há um mês, mais de 20 pessoas que atuavam de forma irregular no espaço público foram obrigados a sair da área por determinação da prefeitura local, em ação realizada pelo setor de fiscalização municipal.
CASA DA LIBERDADE No edifício erguido em 1785 pelo governador da Capitania de Minas, Luís da Cunha Meneses, para ser Casa de Câmara e Cadeia, está o Museu da Inconfidência, que conta a trajetória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), e dos conjurados que lutaram pela liberdade, indica os caminhos do Ciclo do Ouro nas Gerais e destaca as maravilhas do Barroco, incluindo peças de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814) e partituras musicais. O acervo compreende mais de 4 mil objetos, com exemplares de todas as esferas da vida social mineira nos séculos 18 e 19..