“Belo Horizonte vai ter um grande carnaval, com diversos blocos desfilando em vias públicas. Entendemos que esse espaço vai ser compartilhado entre os veículos, pedestres e foliões”, afirma a diretora de Ação Regional e Operação da BHTrans, Deusuíte de Matos. “As pessoas têm que estar com esse espírito ao passar pelos locais dos blocos. Em algum momento não vão ter a prioridade no trânsito que têm normalmente”, acrescenta.
A diretora explica que os blocos desfilam conforme horários e itinerários de seus produtores, e que a Belotur tem se reunido com representantes de agremiações para minimizar os impactos na cidade como um todo, inclusive negociando horários de desfiles. Polícia Militar, Guarda Municipal, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e a BHTrans acompanham a movimentação nas ruas.
“Esse é um bloco de grande repercussão na cidade, que atrai muita gente, e tem a característica de desfilar na Afonso Pena. Não tem como falar para ir para outro lugar. O foco deles é ali. Era esperado que a gente fosse ter um trânsito mais lento. É óbvio que se você fecha uma das principais artérias da cidade às 18h30, não tem como falar que vai funcionar normalmente”, argumenta Deusuíte Matos. Um dos idealizadores do Chama o Síndico, Matheus Rocha, afirma que toda a construção do desfile do bloco ocorreu em reuniões conjuntas com a BHTrans, Bombeiros e Belotur.
A orientação da diretora é que os motoristas e a população em geral acessem as informações disponíveis nos sites da prefeitura e no aplicativo da Belotur, com horários e trajetos dos blocos de carnaval de Belo Horizonte, tanto para participar da festa quanto para evitar as rotas dos foliões. “Quem não tem opção e tem de passar, terá de compartilhar a via. O que posso assegurar é que a prefeitura pôs todos os recursos que tinha para causar o menor impacto possível”, diz.
Para Deusuíte, é importante que os moradores da capital entendam que houve uma mudança no perfil da folia nos últimos anos. “É preciso esse diálogo com a população, pois BH saiu do cenário anterior, quando não havia nada, para ter grandes atrativos no carnaval”, comenta. “O momento correto é de compartilhamento. As vias são usadas pelos veículos sim, e pelos foliões. A cidade está se apropriando dos espaços públicos.”
Segundo a BHTrans, além da estrutura do Centro de Operações da Prefeitura (COP/BH), com uma sala voltada para os desfiles dos blocos e representantes de diversos órgãos, 500 funcionários da empresa trabalham nas ruas para minimizar os impactos no trânsito. Haverá reforço no transporte público a partir de sábado, inclusive com desvios fixos para os coletivos. Uma região da área central, que está sendo chamada de mancha, terá um desvio fixo. A Avenida Afonso Pena será interditada das 2h de domingo até as 12h de quarta-feira, entre as ruas da Bahia e dos Guajajaras, em ambos os sentidos, no Centro. Na prática, a interdição normal dos domingos continuará após o término da Feira de Artes e Artesanato.
Em Santa Tereza, na Região Leste, haverá intervenções na região da Praça Duque de Caxias a partir das 2h de amanhã até as 20h de terça. A empresa de gerenciamento do trânsito na capital informa ainda que haverá aumento das viagens de ônibus nos horários de início e fim de desfiles de blocos e também durante a madrugada. A empresa promete divulgar hoje em seu site os quadros de horário.
ORGANIZAÇÃO Para o professor de engenharia de transporte e trânsito Márcio Aguiar, da Universidade Fumec, a ocupação das ruas durante o carnaval em BH é irreversível, mas é preciso mais organização. “Sinto falta de orientação, com agentes de trânsito ajudando. Belo Horizonte é uma cidade que não está preparada para esse tipo de evento e, por isso, tem que improvisar. No Rio de Janeiro, por exemplo, eventos ocorrem na praia e nas grandes avenidas à beira-mar. É preciso avisar com antecedência e sinalizar com faixas e fazer divulgação”, afirma. Para o especialista, a BHTrans tem dificuldade em fazer isso.
A cantora Aline Calixto, que se apresenta no carnaval da capital, entende que o crescimento da festa representa benefícios para vários setores, e que com diálogo é possível equacionar os interesses. “As pessoas não buscam mais outros destinos neste periodo e até percebemos um aumento na chegada de turistas. Hotéis praticamente lotados, comércio fervendo, geração de emprego, há um verdadeiro aquecimento da economia. Por outro lado, é importante pensar na infraestrutura para receber esse contingente de pessoas”, afirma. Ela concorda que é preciso desenvolver estratégias para mininizar os problemas de trânsito, segurança e limpeza. “Com planejamento adequado, as coisas tendem a funcionar melhor.”
Ponto crítico
É viável promover um desfile no início da noite, em dia útil, em uma das avenidas mais movimentadas de BH?
Matheus Rocha
Integrante da organização do Bloco Chama o Síndico
SIM
“A cidade tem que assumir que este é um período de carnaval, oficialmente, de 11 de fevereiro a 1º de março. Em todas as cidades que têm uma cultura do carnaval mais forte, as pessoas já sabem que haverá desvio no trânsito. Há poucas avenidas largas que possibilitem a passagem do bloco. A Avenida Afonso Pena será muito usada, e cada vez mais, por mais blocos. Sabemos que sair numa quarta-feira exige uma logística mais complicada, mas a gente entende que essa é uma característica muito própria, pois fazemos isso há cinco anos. Sair numa quarta-feira é possível, sim, quando se tem uma logística bem pensada e comunicação bem feita.”
José Aparecido Ribeiro
Consultor em assuntos urbanos e autor do Blog SOS mobilidade Urbana, hospedado no uai.com.br
NÃO
“A interrupção de tráfego na Avenida Afonso Pena em uma quarta e uma quinta-feira que antecedem o carnaval não é razoável para uma cidade de 2,5 milhões de pessoas. Inacreditável que um prefeito em sã consciência autorize o fechamento da principal avenida da cidade para uma festa. A conclusão que se tira é que não existem leis, regras, bom senso ou respeito pela população que trabalha e tem compromissos. Os prejuízos são incalculáveis.Toneladas de CO2 foram despejadas na atmosfera em virtude dos engarrafamentos gigantes. São dias marcados por estresse e prejuízos incalculáveis para a maioria, em detrimento de uma minoria. Há relatos de ambulâncias que foram impedidas de chegar ao Pronto-Socorro João XXIII, que fica nas imediações. A cidade tem locais mais adequados para festas e eventos culturais.”