Samarco apresenta resultados de obras de contenção de rejeitos em Mariana

Segundo mineradora, nível de turbidez da água que chega ao Rio Gualaxo do Norte indica que intervenções estão segurando a lama que ainda permanece na região da tragédia

Guilherme Paranaiba
Uma das obras concluídas pela mineradora é o dique S4, que alagou uma parte de Bento Rodrigues, mas preservou as ruínas do distrito devastado - Foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS
Terminadas as obras de contenção de rejeitos de minério no vale entre a Barragem do Fundão e o Rio Gualaxo do Norte, passando por Bento Rodrigues, distrito de Mariana, na Região Central do estado, arrasado pela lama da Samarco, a mineradora sustenta que já é possível perceber os primeiros resultados das intervenções e projetar o recomeço da exploração mineral. Tanto a Secretaria de Estado de Meio Ambiente quanto o Ministério Público Estadual afirmam que não há data para a retomada e que ela está condicionada a relatórios de impacto ambiental e a laudos que garantam segurança nas operações.

Segundo a empresa, a turbidez da água que está chegando ao Gualaxo apresenta nível de 25,7 NTU, enquanto o limite máximo estipulado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é de 100 NTU. Na época do desastre, em novembro de 2015, essa taxa atingiu 12 mil NTU.

A Samarco garante que com três estruturas mais robustas de contenção, batizadas de Nova Santarém, dique S3 e dique S4, consegue conter 8 milhões de metros cúbicos de rejeitos, o que é o dobro do pior cenário de carreamento estipulado por uma consultoria internacional contratada pela empresa. Ainda permanecem na região da tragédia cerca de 13 milhões de metros cúbicos de lama de minério.

Com essas medidas a mineradora acredita que reúne as condições de segurança suficientes para evitar novos desastres na região e, assim, retomar as operações no segundo semestre deste ano.Para que isso ocorra, o diretor de Operações da companhia, Rodrigo Vilela, diz que já existe um processo de licenciamento tramitando nos órgãos públicos com novo método de deposição de rejeitos. “Não usaremos mais barragens de rejeitos com técnicas de alteamento. Nossa intenção é trabalhar com cavas de mineração. A grande diferença é que queremos usar um espaço totalmente confinado, com possibilidade perto de zero de haver qualquer rompimento.
Esse é um processo defendido por especialistas”, afirma. Eduardo Moreira, que é coordenador de construções da Samarco, afirma que no mês que vem a empresa vai fazer as primeira medições sobre o nível de assoreamento do lago formado pelo dique S4. Objetivo é saber a quantidade de lama armazenada - Foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS

LICENÇAS
Além desse procedimento, em processo de licenciamento na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a empresa finaliza estudos referentes à correção de todas as licenças que foram suspensas em 2016 a pedido do Ministério Público de Minas Gerais.

Uma das obras que mais geraram polêmica dentro das intervenções previstas para conter os rejeitos foi a do dique S4, que significou o alagamento de parte do distrito de Bento Rodrigues. Porém, a mineradora mostrou ontem à imprensa que não houve alagamento da área das ruínas que ainda permaneceram visíveis depois da passagem da avalanche de lama que deixou 19 mortos na tragédia. "Esse dique foi projetado tendo como premissa a área do lago de forma a não impactar as ruínas e estamos mostrando que de fato não houve esse impacto", afirma Eduardo Moreira, coordenador de construções da Samarco.

A mineradora informou que a intenção é esvaziar o lago formado pelo dique S4 quando houver uma definição sobre o que será feito com o velho Bento Rodrigues. "Nós achamos que vai ser algo relativo ao memorial do distrito, mas isso depende de discussões com a comunidade e poder público para ser confirmado", afirma Rodrigo
Vilela.

A área inundada corresponde aos lugares que já tinham sido submersos pela lama. A partir do mês que vem a Samarco começará a medir os resultados do dique S4 do ponto de vista do armazenamento de rejeitos. Ele foi projetado para conseguir reter 1 milhão de metros cúbicos e seu barramento tem oito metros de altura.

DAQUI PARA O FUTURO
Nas mãos do Copam

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad-MG), informou que a empresa trabalha para conseguir duas licenças de forma concomitante. A primeira se refere ao Sistema de Disposição de Rejeitos da Cava Alegria Sul, e a segunda, sobre o licenciamento operacional para o complexo de Germano. Em ambos os casos, parecer técnico será submetido ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Para ambos os casos, não haveria datas estabelecidas. Para o Ministério Público Estadual, as ações preventivas têm sido satisfatórias, conforme auditoria externa contratada por meio de acordo judicial. O sinal verde para retomada de operações, porém, estaria condicionado à apresentação “de forma clara, global e transparente”, do planejamento para recuperação e “gestão com total segurança” do complexo de Germano.
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