Há uma grade entre a confusão e a alegria, um tapume separando a baderna da diversão e um aviso, em cartolina branca, para mostrar que o banheiro não é público. Neste carnaval de Belo Horizonte, que deverá receber cerca de 2,4 milhões de foliões – dos quais 500 mil turistas –, prédios residenciais, restaurantes, bares, postos de gasolina e outros estabelecimentos comerciais se defendem da multidão para evitar degradação do espaço, estragos de equipamentos, invasão durante a noite e, principalmente, perturbação a todo momento, com pedido para fazer xixi. Diante da expectativa de tanta gente, muitos se protegem pela primeira vez; outros, escaldados, sabem que será para sempre.
Na tarde ensolarada e quente de ontem, Arcelino Monteiro Filho, gerente de um posto de gasolina na esquina da Avenida Afonso Pena com Gonçalves Dias, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul, montava, com sua equipe, a grade pela qual foi pago R$ 1,5 mil. “Vai começar de novo. Ano passado foi terrível, as pessoas invadiram, urinaram no chão do posto e descarregaram os extintores de incêndio. Virou um carnaval aqui dentro”, lamenta Arcelino.
O posto funciona das 6h às 22h e Arcelino não quer confusão por ali, tanto que ontem os carros que iam abastecer já entravam e saíam por uma entrada estrategicamente deixada no anteparo. “Diante do que ocorreu no ano passado, resolvemos fazer desse jeito”, contou o gerente, encaixando as partes de metal. Para evitar maiores problemas, a Belotur/Prefeitura de Belo Horizonte, organizadora da festa, dá algumas dicas para facilitar a convivência entre foliões comerciantes, moradores e quem mais vier para BH.
ESCADARIA Não muito longe, na Rua Professor Morais esquina com Cláudio Manoel, a síndica decidiu também proteger com grades a frente do prédio, que tem uma escadaria.
O prédio está perto de um bar onde há grande aglomeração de foliões, e ela conta que, logo depois do carnaval do ano passado, a proprietária do estabelecimento sugeriu que os moradores pusessem grades. “Há muitos excessos, as pessoas sentaram na floreira e as mulheres fizeram xixi ali mesmo. Acabaram com o jardim e o porteiro não pôde fazer nada. As pessoas pedem para ir ao banheiro, mas como é que podemos deixar entrar desconhecidos?”, pergunta a síndica. O aluguel do tapume custou R$ 950 e ela espera que funcione até a madrugada da quarta-feira de cinzas.
Na Savassi, um grupo de bares e restaurantes das ruas Paraíba e Antônio de Albuquerque se uniu, cercou os locais com grades e contratou seguranças. Com cadeiras na calçada, o 80 Bar também se vale dessa iniciativa para garantir tranquilidade à clientela. “É uma forma de evitar que os ambulantes vendam aqui dentro”, diz o proprietário, Rond Gaspar. Ele explica que muitos frequentadores costumam deixar o celular sobre a mesa e podem ficar sem ele ao menor descuido. O banheiro também será exclusivo dos frequentadores.
Apoiada na grade que ela e o irmão mandaram instalar, Priscila Lipovetsky, gerente do bar e restaurante Tropical Savassi, na Avenida Cristóvão Colombo esquina com Rua Inconfidentes, matou dois coelhos com uma cajadada. “A grade protege e também cria uma área vip para os clientes”, adianta Priscila com bom humor.
Dicas de convivência
» Portaria, tô fora
Não fazer concentração na porta de edifícios residenciais e respeitar os estabelecimentos comerciais (abertos ou não), de forma a evitar a depredação
» Nem lixo, nem xixi
Os mijões devem procurar os banheiros públicos distribuídos pela cidade e área de desfile de blocos. Belo Horizonte não tem lei específica para impedir os abusos, mas há legislação federal proibindo ao cidadão mostrar a genitália na rua
» Som, apenas dos blocos
Parar o carro, abrir o porta-malas e ligar o som na maior altura não é bem-vindo. Portanto, motoristas não devem fazer isso em lugar nenhum
» Fora da dispersão
Assim que o bloco acabar o desfile, os foliões devem liberar a área de dispersão, de forma a deixar fluir o trânsito. Nada de fazer rodinha e continuar o fuzuê
» Sem atravessar o samba
Ambulantes não podem impedir a evolução do bloco, parando em frente à bateria. Devem escolher sempre as laterais próximas aos passeios
» Sem briga e corte
Os foliões devem dar prioridade ao consumo bebida em latas, e não em garrafas de vidro. Isso evita que o caco se transforme em arma ou vire armadilha para os pés
Fonte: Belotur, comerciantes e síndicos