A profissionalização artística dos blocos é vista, ouvida e ganha corpo a cada desfile. Na quarta-feira, a apresentação do bloco Chama o Síndico, com bateria formada por 150 percussionistas e banda em cima do trio elétrico, foi uma apoteose desse novo momento do carnaval, afinado e potente. Assim como os seguidores de Tim Maia e Jorge Ben Jor, blocos e músicos estão investindo na educação e formação de percussionistas e instrumentistas.
“O crescimento da qualidade musical do carnaval tem sido comentado. Há um conjunto de pessoas mais conscientes musicalmente, tocando mais”, afirma a percussionista Nara Torres, regente dos blocos Chama o Síndico e Fanfarra Feminina Sagrada Profana. Um trabalho que não se restringe aos dias de folia.
Um dos pioneiros desse trabalho é o Unidos do Samba Queixinho, que se apresenta amanhã, às 14h, com 80 ritmistas, no Carlos Prates, Região Noroeste de BH. “Desde o começo, em 2009, nos preocupamos em ensinar as pessoas a tocar. Queremos preparar os ritmistas para eles terem autonomia”, conta o fundador da escola de samba de rua, Gustavo Caetano. Ele ressalta que a retomada dos blocos retomou o interesse pela bateria, mas que BH tem tradição na formação de ritmistas por escolas de samba.
CONSCIÊNCIA O estudo da música tem se intensificado a cada ano em BH. Se, antes, a maioria dos desfiles contava com a bateria aberta – quem chegasse no dia da apresentação com o instrumento podia tocar –, agora, blocos maiores têm condicionado a participação na bateria à frequência a ensaios e oficinas. É o caso do Então, Brilha!, bloco queridinho do carnaval de BH, que sai hoje pela manhã da Rua dos Guaicurus, no Centro. É também o caso do Baianas Ozadas, do Havayanas Usadas e do Chama o Síndico.
Neste ano, o Síndico deu início à experiência com as oficinas e ensaiou 120 percussionistas. “São pessoas que não querem ser músicos profissionais, mas querem ter uma consciência maior do que estão fazendo. Muitos já batucam no carnaval e não tinham ideia de como estavam tocando”, afirma a regente do bloco, Nara Torres, satisfeita com o resultado. Além da ofici\na do sindicato, Nara ainda está à frente de duas: Abre-Alas, criada em 2013, e a Fanfarra Feminina Sagrada Profana.
O servidor público Lúcio Perez, de 55 anos, viveu o carnaval ao longo do ano inteiro. Ele vai tocar repinique no Queixinho e no Monobloco, além de ter feito parte da bateria de outros três blocos no pré-carnaval. “Aprender a tocar um instrumento é uma experiência musical e de vida. Você acaba criando amizades”, afirma. Ele estará acompanhado da esposa e da cunhada, que também participaram das oficinas. “Agora sabemos tocar. O carnaval vai ser o grande momento de mostrar para quem curte o carnaval que temos uma bateria que se dedicou a aprender”, reforça..