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Estado de Minas

Crescimento da folia exige profissionalização, já sentida na afinação dos blocos de BH

Para fazer a festa de milhares de pessoas, ritmistas estão se dedicando ao carnaval há pelo menos três meses - muitos deles há quase um ano -, numa rotina intensa de aulas e ensaios


postado em 25/02/2017 06:00 / atualizado em 25/02/2017 08:35

(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press -7/2/16)
(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press -7/2/16)
Quando você, folião, estiver sacolejando o corpo inteiro nos blocos de rua, ao som de surdos, tamborins, agogôs, abês, caixas e instrumentos de sopro, olhe bem para aquela potente bateria. Ainda que mentalmente, agradeça. Para fazer a festa de milhares de pessoas, ritmistas estão se dedicando ao carnaval há pelo menos três meses – muitos deles há quase um ano –, numa rotina intensa de aulas e ensaios. Com seu crescimento, a festa momesca em BH tem levado à formação de uma geração de músicos e batuqueiros responsáveis por elevar a qualidade musical, no carnaval e fora dele.


A profissionalização artística dos blocos é vista, ouvida e ganha corpo a cada desfile. Na quarta-feira, a apresentação do bloco Chama o Síndico, com bateria formada por 150 percussionistas e banda em cima do trio elétrico, foi uma apoteose desse novo momento do carnaval, afinado e potente. Assim como os seguidores de Tim Maia e Jorge Ben Jor, blocos e músicos estão investindo na educação e formação de percussionistas e instrumentistas.

“O crescimento da qualidade musical do carnaval tem sido comentado. Há um conjunto de pessoas mais conscientes musicalmente, tocando mais”, afirma a percussionista Nara Torres, regente dos blocos Chama o Síndico e Fanfarra Feminina Sagrada Profana. Um trabalho que não se restringe aos dias de folia. Ao longo do ano, e com mais ênfase no pré-carnaval, blocos e músicos ligados ao carnaval estão à frente de oficinas de percussão e sopro – a Pega no Piston! – para a formação de ritmistas.

Um dos pioneiros desse trabalho é o Unidos do Samba Queixinho, que se apresenta amanhã, às 14h, com 80 ritmistas, no Carlos Prates, Região Noroeste de BH. “Desde o começo, em 2009, nos preocupamos em ensinar as pessoas a tocar. Queremos preparar os ritmistas para eles terem autonomia”, conta o fundador da escola de samba de rua, Gustavo Caetano. Ele ressalta que a retomada dos blocos retomou o interesse pela bateria, mas que BH tem tradição na formação de ritmistas por escolas de samba.

Bloco do Queixinho, que desfila amanhã no Bairro Carlos Prates, é um dos pioneiros na preocupação com os ritmistas. Segundo Gustavo Caetano (no detalhe), um dos fundadores, mais de 2 mil pessoas já passaram por lá(foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Bloco do Queixinho, que desfila amanhã no Bairro Carlos Prates, é um dos pioneiros na preocupação com os ritmistas. Segundo Gustavo Caetano (no detalhe), um dos fundadores, mais de 2 mil pessoas já passaram por lá (foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Desde a fundação da escola de samba de rua, Caetano calcula que mais de 2,5 mil pessoas já tenham participado das formações. As oficinas semanais no barracão do Queixinho, também no Carlos Prates, começaram em abril. Neste ano, o trabalho se expandiu e contou com a parceria do Monobloco, famoso bloco do Rio de Janeiro, que promoveu uma das oficinas do barracão e também desfila no carnaval de BH, na terça-feira, às 17h, na Esplanada do Mineirão, na Pampulha. Os dois grupos contam com o mesmo padrinho: Mestre Odilon, que já esteve à frente das baterias da União da Ilha, da Beija-Flor e da Grande Rio.

CONSCIÊNCIA O estudo da música tem se intensificado a cada ano em BH. Se, antes, a maioria dos desfiles contava com a bateria aberta – quem chegasse no dia da apresentação com o instrumento podia tocar –, agora, blocos maiores têm condicionado a participação na bateria à frequência a ensaios e oficinas. É o caso do Então, Brilha!, bloco queridinho do carnaval de BH, que sai hoje pela manhã da Rua dos Guaicurus, no Centro. É também o caso do Baianas Ozadas, do Havayanas Usadas e do Chama o Síndico.

Neste ano, o Síndico deu início à experiência com as oficinas e ensaiou 120 percussionistas. “São pessoas que não querem ser músicos profissionais, mas querem ter uma consciência maior do que estão fazendo. Muitos já batucam no carnaval e não tinham ideia de como estavam tocando”, afirma a regente do bloco, Nara Torres, satisfeita com o resultado. Além da ofici\na do sindicato, Nara ainda está à frente de duas: Abre-Alas, criada em 2013, e a Fanfarra Feminina Sagrada Profana. Ela destaca que os blocos sem ensaio, mais despretensiosos, são marca do carnaval belo-horizontino e que há espaço para todos.

O servidor público Lúcio Perez, de 55 anos, viveu o carnaval ao longo do ano inteiro. Ele vai tocar repinique no Queixinho e no Monobloco, além de ter feito parte da bateria de outros três blocos no pré-carnaval. “Aprender a tocar um instrumento é uma experiência musical e de vida. Você acaba criando amizades”, afirma. Ele estará acompanhado da esposa e da cunhada, que também participaram das oficinas. “Agora sabemos tocar. O carnaval vai ser o grande momento de mostrar para quem curte o carnaval que temos uma bateria que se dedicou a aprender”, reforça.


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