A Fundação de Parques Municipais (FMP) iniciou um diagnóstico das 75 unidades sob sua gestão e, por enquanto, constatou que “apenas 15% dos equipamentos e infraestrutura estão em boas condições para uso da população”. Por trás do sucateamento impera o risco da violência.
Há casos que beiram o inacreditável, como o do Jardim Belmonte, no bairro homônimo da Região Nordeste. O parque foi inaugurado em 1996, em uma área de 57,6 mil metros quadrados, à margem direita do Córrego Maria Goreth. Moradores contam que dava gosto ver a garotada observando a fauna, composta de pássaros como trinca-ferro, sabiá-do-barranco, juriti, saracura, bem-te-vi, rolinha, sanhaço, pica-pau, maritaca, martim-pescador e gavião.
Por falta de manutenção, o espelho d’água secou.
O fim das atividades no Jardim Belmonte abriu a cancela para outro público: os usuários de drogas. Hoje, eles acendem cigarros de maconha no interior das construções abandonadas ou debaixo das mangueiras, espaços antes ocupados pela comunidade. Também desfrutam sem ser incomodados das margens do que já foi um espelho d’água com peixes.
A reivindicação dos dois é reforçada por garotos que frequentavam o grupo de escoteiros local. “Como o parque ficou assim, o grupo passou a se reunir em outro lugar. É longe, por isso tive de parar de ir. Gostaria que o parque voltasse a ser como antes, para eu poder voltar ao escotismo”, conta Sávio Rodrigues, de 13. “Éramos uns 100 escoteiros”, completa Victor Félix, enquanto observa brinquedos de madeira erguidos no gramado. Eram usados pelas crianças da escolinha. Alguns foram quebrados por vândalos.
Público expulso
Situação parecida ocorre no Parque Professor Guilherme Lage, inaugurado em 1982, em uma área de quase 120 mil metros quadrados no Bairro São Paulo, na Região Nordeste de BH. Maria Dias, que conhece bem o lugar, faz um alerta aos desavisados: “O fundo do parque é perigoso. Sempre há um pessoal usando drogas.
Grupos de viciados se embrenham na mata do lugar para usar drogas durante o dia. Para sustentar o vício, alguns cometem furtos e assaltos. O aposentado José Cristiano, de 65, conta que, “vira e mexe”, há relatos de crimes: “Muitos ‘noiados’ ficam no fundo do Guilherme Lage. Também tem prostituição”, reforça.
Notícias de crimes no parque já não são novidade. Em fevereiro de 2014, por exemplo, o corpo de um travesti foi encontrado entre as árvores. Em setembro do mesmo ano, dois homens foram presos no estacionamento com um carro que havia sido roubado. De lá para cá, relatos de assaltos e vandalismo vêm se acumulando.
Um dos banheiros precisou ser fechado, por exemplo, pois vândalos arrancaram torneiras, destruíram o espelho e danificaram outros objetos. Pichações estão presentes em várias construções, em um contraste à rica flora e fauna do lugar, criado com o objetivo de proteger fauna, flora e as diversas nascentes catalogadas naquele pedaço de terra.
Na unidade há mais de 150 espécies de árvores, como acácias, sapucaias, paus-ferro, ipês, quaresmeiras, palmeiras, ciprestes, mangueiras, jatobás, barrigudas e exemplares de pau-brasil. A fauna também é variada, composta de anfíbios, répteis, roedores, primatas e aves. Mas, com o abandono, também há lixo e preservativos usados descartados no estacionamento, em um exemplo de que o lugar precisa de atenção do poder público.