Essa era uma antiga demanda dos taxistas, que ganham com isso uma vantagem sobre os aplicativos de transporte particular como Uber e Cabfy, obrigados a trafegar pelas pistas mistas, onde há mais trânsito. A BHTrans e o Sindicato dos Taxistas (Sincavir) afirmam que ajustes devem ser feitos. Os taxistas só podem circular com passageiros embarcados, devem manter os faróis e a luz de eletrovisores (displays do teto) ligados e não podem parar no meio dos corredores para embarques e desembarques, sob pena de multa.
Os problemas de acesso e sinalização não se resumiram à não sinalização da saída do corredor Dom Pedro I antes da Estação Vilarinho. O acesso ao corredor no Centro, para o sentido aeroporto internacional de Confins só ocorre pela Avenida Oiapoque, Viaduto Leste e contorno do complexo da Lagoinha antes do Túnel Presidente Tancredo Neves. Muitos taxistas não sabiam disso, o que ficou evidenciado pela presença de vários condutores com suas setas ligadas para a esquerda, ao longo da avenida, tentando entrar nos antigos acessos, que foram fechados pela BHTrans. Somente três quilômetros depois de circular na pista comum a todos os veículos é que se encontra o primeiro acesso para a pista do Move, na altura do Bairro Aparecida (Região Noroeste de BH).
A reportagem do Estado de Minas testou ontem, no horário de almoço, quais seriam os ganhos de uma viagem de táxi do Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip) até o aeroporto internacional de Confins utilizando a pista mista e o corredor que era exclusivo ao BRT/Move. No final das contas, o ganho foi pequeno, com o táxi que usou a pista dos ônibus chegando em 34 minutos, ao preço de R$ 120, enquanto o que fez o itinerário regular, pelas vias mistas, levou 39min40, ao custo de R$ 126,80. A BHTrans informou que em testes preliminares feitos nos 41 quilômetros entre a Estação de Transferência Senai, na Avenida Antônio Carlos, e o aeroporto internacional de Confins, o ganho médio de tempo de deslocamento foi de 40% em favor dos veículos que transitaram nas pistas do Move.
DESINFORMAÇÃO A viagem pelo corredor exclusivo foi repleta de contratempos devido à desinformação do taxista e de indicações inexistentes no percurso. Ao sair do Tergip, o taxista Ramon Guimarães, de 54 anos, não soube acessar o início do corredor exclusivo Presidente Antônio Carlos, encontrando todos os acessos entre os bairros Lagoinha e São Cristóvão fechados. Isso não apenas o fez rodar sempre pela esquerda da pista mista, buscando uma entrada, como o obrigou a retornar ao Centro para tentar novamente a entrada do corredor. Um atraso de 20 minutos, que custou R$ 30 na corrida. Uma vez dentro da pista do BRT/Move, o veículo atravessou sem paradas grandes extensões que teriam semáforos caso estivesse na via mista, sobretudo no trecho próximo à UFMG, na Pampulha.
Quando chegou ao local de deixar o corredor da Avenida Dom Pedro I e de entrar na Rodovia Prefeito Américo Gianetti, a falta de uma indicação clara o fez seguir direto, atrás dos coletivos articulados do BRT/Move. Na primeira curva, que desce para o nível da Avenida Vilarinho em direção à estação de mesmo nome, a pista se inverte e a circulação se dá pela direita. Como só percebeu isso em cima do ponto de transição, o motorista passou a poucos metros de colidir contra um coletivo.
Na estação, a velocidade precisou ser reduzida a 30km/h e o deslocamento foi perigoso, entre ônibus embarcando, desembarcando e manobrando. “Acho que falta ainda uma sinalização em todo o trecho. Quem nunca entrou aqui não sabe por onde circular. Eu mesmo não sabia que só podia rodar com passageiros e com as luzes dos faróis e do eletrovisor ligadas. Tem muita gente de Contagem, Sabará e outras cidades que circula aqui e vai ter dificuldades”, critica Ramon.
O também taxista Nilson Pereira dos Santos, de 58, gostou da novidade e projeta ganhos maiores nos horários de pico. “Já levei 1h30min para fazer o trajeto do Centro ao aeroporto. O ganho vai ser brutal na comparação entre quem estiver na pista mista e na do Move. Queria, agora, que se abrissem também os corredores das avenidas Dom Pedro II e Augusto de Lima, que dão muita multa para taxistas. Há tantos radares lá, que se uma pessoa passar pelos quatro quarteirões perde a carteira de uma vez só”, alerta.
AJUSTES De acordo com a BHTrans, ajustes poderão ser feitos ao longo dos 90 dias de testes. “Teremos agentes ao longo das vias e circulando durante esse tempo de experiência. Será importante também para sabermos qual é a adesão dos veículos ao corredor principal e eventuais ajustes em sinalizações, por exemplo”, disse o superintendente de operação da BHTrans, Fernando de Oliveira Pessoa. O diretor-presidente do Sincavir, Avelino Moreira de Araújo, prevê ganhos para passageiros e motoristas. “Teremos mais conforto e diminuição dos tempos de viagem, o que vai agradar muito aos nossos clientes. Essa era uma demanda antiga que a prefeitura teve, agora, a sensibilidade de conceder. Tenho certeza de que os taxistas vão se adaptar e não teremos maiores problemas”, afirma.