Lagoa da Pampulha melhora, mas lixo e esgoto ainda chegam ao reservatório

Água da lagoa atinge parâmetro considerado aceitável para a prática de esportes náuticos, mas lixo e esgoto deixam visitantes com um pé atrás

Guilherme Paranaiba
Os universitários Vanessa e Saulo torcem para que água realmente permita a volta de esportes aquáticos - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press
Sete meses depois de o conjunto arquitetônico da Pampulha ser consagrado com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o cartão-postal volta a receber uma boa notícia. O espelho d’água alcançou a chamada classe 3, segundo revelou ao Estado de Minas uma fonte da Prefeitura de Belo Horizonte. A classificação obedece resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e na categoria atingida pela represa possibilita, por exemplo, consumo da água por animais, irrigação, pesca amadora e o chamado contato secundário pelo ser humano. Na teoria, trata-se da prática de esportes náuticos, como chegou a ocorrer até a décadas de 1970.


Procurada para se manifestar oficialmente, a prefeitura não comentou a informação, tampouco desmentiu o dado. Por meio de nota, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), escalada para acompanhar o serviço da empresa privada contratada para a melhoria da qualidade da água da lagoa, se limitou a informar que “as metas progressivas estão sendo atendidas e os trabalhos seguem cumprindo o cronograma estabelecido”.

A nota diz ainda que “as metas em contrato correspondem ao enquadramento da lagoa nos padrões de classe 3 no fim de 2016” . “A prefeitura recebeu os relatórios consolidados do último trimestre de 2016 no fim de dezembro. Eles estão sendo estudados e outras análises comparativas estão sendo feitas”, prossegue o texto. Oficialmente, a divulgação dos resultados ocorrerá nas próximas semanas.

A classificação do Conama para parâmetros da água leva em conta cinco indicadores: cianobactérias, fósforo, matéria orgânica, coliformes termotolerantes e clorofila-A.

A Sudecap informou que a melhoria da qualidade da água pela empresa contratada é feita por meio de dois métodos. “Um tem a função de degradar o excesso de matéria orgânica e reduzir a presença de coliformes fecais. O outro é capaz de promover a redução do fósforo e controlar a floração de algas. Ambos são registrados junto ao Ibama e já foram testados em outros lugares do Brasil e exterior, com excelentes resultados”, divulgou, acrescentando que, “depois de atingir as metas finais previstas, as atividades de manutenção da qualidade da água serão mantidas por mais um ano, pelo contrato vigente”.
Em alguns pontos, lixo e nata formada por algas chama a atenção para desafios ainda enfrentados pela represa - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press

Sujeira na orla ainda provoca desconfiança


O atual trabalho de despoluição da Lagoa da Pampulha começou em março do ano passado e foi orçado em R$ 30 milhões. O contrato vence em dezembro deste ano. Apesar da boa notícia, quem percorre a orla ainda nota muita sujeira no espelho d’água. Próximo à Praça Geralda Damata Pimentel, por exemplo, um córrego continua despejando sujeira na lagoa. Já perto do estádio Mineirão, material com aspecto semelhante a esgoto está represado numa estrutura de cimento.

Em outras partes, sobre a água impera uma espécie de nata verde. Tudo isso fez o universitário Saulo Teixeira, matriculado no curso de engenharia civil, desconfiar se a Pampulha está relamente preparada para receber esportes náuticos. “Eu não acho seguro ter contato com a água, mas torço para que um dia o lugar seja palco de esportes náuticos. Afinal, é um cartão-postal da cidade e um endereço agradável para a população. Deveria ser mais bem cuidado pelo poder público e pela população”, considerou.

Amiga dele, a futura bacharel em direito Vanessa Melo tem opinião semelhante. “É um lugar de convívio, atrai turistas, ciclistas, quem gosta de fazer caminhada.

É um local bonito, um cartão-postal mesmo. Eu quero ver esportes náuticos aqui, mas ainda tem muita sujeira”, considera.

A presença de lixo, entretanto, não impede que o espelho d’água alcance a chamada classe 3 do Conama. A Sudecap esclarece que a coleta de lixo na lagoa é feita por dois barcos e uma balsa e não é tarefa da mesma empresa responsável pela melhoria da qualidade da água. O volume diário de lixo recolhido gira em torno de 10 toneladas no período de estiagem, volume que dobra durante as chuvas.

 

A classificação do Conama


» Classe especial
Águas destinadas a consumo humano, com desinfecção, e à preservação das comunidades e ambientes aquáticos em unidades de conservação

» Classe 1
Águas destinadas ao abastecimento humano, após tratamento simplificado; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário (como natação, esqui e mergulho); à irrigação de hortaliças e frutas consumidas cruas; à proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas

» Classe 2
Águas destinadas ao abastecimento humano, após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário (natação, esqui e mergulho); à irrigação de lavouras e de locais de lazer; à aquicultura e à atividade de pesca

» Classe 3
Águas destinadas ao abastecimento, após tratamento avançado; à irrigação de árvores, cereais e forrageiras; à recreação de contato secundário (esportes náuticos); à pesca amadora; ao consumo de animais

» Classe 4
Águas destinadas apenas à navegação e à harmonia paisagística

Um balneário que  ficou na lembrança

 

A lagoa mais famosa de Belo Horizonte já foi uma espécie de arena de esportes náuticos. Principalmente nas décadas de 1940 e 1950, quando a água era bem mais limpa, não era difícil flagrar amantes da canoagem e de barcos a vela sobre o espelho d’água. O rompimento da barragem, na década de 1950, e, posteriormente, o acúmulo de lixo no local, devido ao crescimento urbano, afugentaram os esportistas, embora provas de remo ainda tenham ocorrido até a década de 1970.
- Foto: Arquivo EM - 3/12/1968 

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