Prefeitura monta força-tarefa para reduzir estragos da chuva em BH

Prejuízos provocados pela tempestade na madrugada de domingo na Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste, trazem de volta pânico a moradores e comerciantes. Prefeito Kalil promete obras na região

Junia Oliveira
Chuva arrancou placas de asfalto na Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste de BH - Foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS
Uma força-tarefa foi montada na Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para consertar os estragos provocados pela chuva na madrugada de ontem na Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste, reduzir prejuízos de moradores e tirar do papel obras que podem ajudar na contenção das águas.

O anúncio foi feito ontem pelo prefeito Alexandre Kalil, durante visita à área afetada. O Ribeirão Arrudas transbordou mais uma vez, causando transtornos e levando pânico a moradores e comerciantes. De acordo com o prefeito, essa foi a pior chuva dos últimos 10 anos na região. “É um problema natural e a cidade não se preparou para esse tipo de coisa”, disse.


Para piorar a situação, no trecho da via próximo à Vila São Paulo, na divisa com Contagem, na região metropolitana, o córrego Ferrugem transbordou, fazendo ainda mais pressão sobre o Arrudas. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) foi orientada, ontem mesmo, a providenciar o conserto da Tereza Cristina e também da mureta de proteção do Arrudas. A partir dos bairros Betânia e Nova Cintra até o fim dela, no Vista Alegre, placas de asfalto, algumas com 25 metros de comprimento, foram arrancadas pela força das águas em vários pontos da avenida. Próximo ao Ferrugem, cerca de 50 metros do muro de proteção do Arrudas desmoronou.

A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) está autorizada, segundo Kalil, a fazer levantamento em todas as casas para avaliar as perdas dos moradores, mas não detalhou como isso será feito.

“Muitas pessoas perderam colchões, cobertores, eletrodomésticos. A Defesa Civil se preparou para isso. Enquanto as máquinas trabalham na parte de obras, ela vai cuidar da parte humana”, disse.

A assessoria da defesa civil informou que a Comdec pode contribuir com doação de insumos, como colchões e cestas básicas. “A prefeitura está enxuta, deficitária em quase R$ 400 milhões, mas tem estrutura robusta para a limpeza e o conserto do que foi estragado e para essa ajuda humanitária”, afirmou o prefeito.

Segundo ele, duas intervenções que há anos esperam execução – as obras do córrego Ferrugem, que estão paralisadas, e a Bacia do Calafate, que ainda está em projeto – contribuem para as tragédias. As intervenções no Ferrugem são de responsabilidade do município de Contagem e do governo do estado e contemplam a remoção e o reassentamento de famílias que moram em áreas inundáveis ao longo do ribeirão, com implantação, nessas áreas, de bacias de contenção de cheias. Quando finalizadas, vão contribuir para minimizar os impactos das chuvas na Tereza Cristina e no Arrudas.

Já no Calafate, o projeto é construir num terreno que vai da Avenida Tereza Cristina até a Silva Lobo, ao lado da Via Expressa, uma bacia de detenção de água de chuva, com capacidade para 600 milhões de litros, para evitar o transbordamento do Ribeirão Arrudas na região. “Tem que terminar as obras, mas, dependendo do volume de água, nada segura. Contudo, não quero fazer disso uma justificativa. É uma preparação longa, não vamos resolver da noite para o dia. Mas, o que pudermos resolver, o faremos.”

Kalil prepara uma ação envolvendo vários setores da PBH, como Sudecap, Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), gabinete de governo e Comdec. Hoje, ele promete cobrar do secretário Municipal de Obras e Infraestrutura, Josué Valadão, agilidade nas obras de responsabilidade da administração municipal. Ontem, equipes da SLU foram cedo para a avenida retirar lixo e entulho e até ajudar moradores a limpar a porta de casa.



EMISSÃO DE ALERTA Na madrugada, a situação foi tensa em vários pontos da capital. A Comdec emitiu alerta para toda a cidade, pois havia risco de transbordamento de outros córregos: Ressaca, na Avenida Heráclito Mourão de Miranda (antiga Atlântica), e Sarandi, na Rua Professor Clóvis Salgado, no Bairro Santa Terezinha, na Pampulha; Vilarinho, na avenida de mesmo nome, em Venda Nova; Jatobá, na Avenida do Canal, no Bairro Tirol, no Barreiro; e o Onça, na Avenida Risoleta Neves, no Bairro Aarão Reis, na Região Nordeste.

Segundo a Defesa Civil, nas regiões do Barreiro e Oeste, o acumulado de chuva do dia 1º a 19 deste mês já é maior que a média histórica de todo o mês de março, que é de 163,5 milímetros.
No Barreiro, as precipitações somaram 182,9mm (112% da média histórica) e, na Oeste, 181,6mm (111%). Logo depois está a Centro-Sul, onde choveu 129,7mm (79%). Das 23h de sábado até as 7h de ontem, o acumulado de chuva no Barreiro também foi o maior, com 91,6mm. Na Região Oeste, as precipitações também foram significativas (89,4mm), seguida pela Noroeste (55,4mm).

ESTRAGOS Na Tereza Cristina, o cenário era desolador, com lixo, galhos de árvores, pneus, pedras e lama por toda a via. O impressor Aguinaldo de Oliveira, de 47 anos, morador há 20 anos da avenida na altura do Bairro Betânia, conta que o drama começou às 2h. Pela manhã, ele se juntou aos vizinhos para limpar a lama. A área e a garagem de casa foram inundadas pela água. Uma vizinha furou um buraco no muro para que a água pudesse escorrer. “Escureceu para o lado do Barreiro, a gente já fica alerta. O lixo que as pessoas jogam na linha do trem, no Bairro Nova Cintra, desce com a enxurrada, entope os bueiros e causa isso tudo.
Há parte da culpa pela falta de educação das pessoas, mas a prefeitura tem que encontrar uma solução”, disse. Ele viu até mesmo uma caçamba ser arrastada pela enxurrada e parar a poucos metros de sua casa. A água invadiu a casa da auxiliar de serviços gerais Marida Gomes, de 49 anos, no Bairro Vista Alegre, e não deixou nada em pé na loja de peças elétricas do filho - Foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS

Arrastado também foi um carro que estava em frente à oficina do mecânico Walace Alves Barbosa, de 46. O veículo ficou todo amassado e sujo de lama e mato. “Deixei na porta da oficina, pois não havia espaço dentro e o dono não pôde buscar. Mas o tempo estava firme”, contou, dizendo que o proprietário, que não tem seguro, já estava a par da situação.

A auxiliar de serviços gerais Marilda Gomes, de 49, estava desesperada. A água invadiu a casa dela, no número 9.630, no Bairro Vista Alegre, e não deixou nada em pé na loja de peça elétrica do filho, Tiago Lima, bem ao lado. “A loja é registrada, pagamos impostos, e agora ele não tem uma ferramenta para trabalhar”, mostrou, indignada, o espaço tomado por água e lama. O IPTU do comércio tem valor de R$ 600 e o da casa, R$ 3,5 mil. “Na semana passada, a PBH multou meu filho por causa de três carros que estavam parados na porta da loja. Isso não pode, mas o Arrudas entrar na nossa casa, pode.”

Na garagem do imóvel, uma moto suja de lama e lixo era a lembrança da cena mais trágica da madrugada: um motoqueiro que contou com a ajuda de Tiago e de outras duas pessoas para não ser levado pela enxurrada. “Ele se agarrou ao poste com tanta força, que ficou com a unha em carne viva. Depois, entrou em estado de choque”, contou Marilda.

PREVISÃO DO TEMPO

Como é de se esperar, as águas de março marcam o fim do verão em todo o Brasil. O meteorologista do Centro de Climatologia PUC Minas TempoClima Heriberto dos Anjos informa que as pancadas de chuva são comuns no fim do verão (a nova estação começa às 7h29 de hoje). “O outono começará com muita nebulosidade devido à presença de frente fria no litoral do Sudeste, deixando o tempo instável em todas as regiões de Minas Gerais”, disse.

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