Mesmo tendo agarrados à sua barriga dois filhotinhos com poucas semanas de vida e não mais de 15 centímetros de comprimento, a macaca sagui não foi poupada. Uma saraivada de pedras a derrubou junto com os filhotes do galho em que estavam, numa árvore de passeio num bairro de Belo Horizonte. A pequena primata não resistiu aos ferimentos e morreu logo que os agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a levaram para o centro de recuperação, no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul de BH. Um dos filhotes sobreviveu apenas mais um dia sem a mãe, restando da família apenas um órfão que ainda inspira cuidados e tem chances de um dia voltar à natureza. “As pessoas andam muito assustadas com o surto de febre amarela, que atinge também os macacos, e, por ignorância, muitos primatas estão sendo atacados. É mais um tipo de agressão que se soma a tantas outras”, afirma o analista ambiental e médico-veterinário do Ibama Daniel Vilela.
O especialista é um dos envolvidos num trabalho que tenta reduzir os conflitos entre a população e animais silvestres como saguis, gambás e diversas aves que se adaptaram para viver no ambiente urbano. Para isso, foi produzido o primeiro mapeamento das áreas onde são mais frequentes o encontro com esses espécimes (veja mapa) e que integra uma cartilha feita com apoio do órgão ambiental, do Ministério Público, do Centro Universitário de Sete Lagoas (Unifemm) e da UFMG, entre outros. O trabalho surgiu como fruto da pesquisa da professora da Unifemm Camila Palhares Teixeira, doutora em ecologia, conservação e manejo da vida silvestre. Por ano, cerca de 300 animais são enviados ao Ibama depois de serem recolhidos de áreas de conflito com a população. Atualmente há 50 espécimes no órgão ambiental, a maioria aves, seguidos de mamíferos e répteis.
Usando como base de trabalho as ocorrências ambientais da Polícia Militar e informações do Ibama até 2013, chegou-se a um mapa que mostra a distribuição das espécies pela capital mineira. É possível destacar, por exemplo, que a Região Centro-Sul, a mais povoada da cidade, é também a que mais registra conflitos envolvendo animais e a vizinhança. Mamíferos como saguis (micos-estrela), gambás, ouriços-cacheiros e morcegos lideraram o volume de chamadas nos bairros Cidade Jardim, Santo Antônio, Luxemburgo, Coração de Jesus e Vila Paris. Já os répteis, a exemplo de cobras e lagartos, ocasionaram várias ocorrências para a polícia e o Ibama no Barro Preto, Santo Agostinho, Lourdes, Boa Viagem, Savassi e Funcionários. Aves como urubus, carcarás, falcões e corujas foram focos de problemas mais constantes nos bairros de Lourdes, Carmo, Savassi, Sion e Anchieta.
Outro mapeamento, de probabilidade de encontro de animais, coloca uma maior concentração de répteis em manchas que abrangem os bairros Boa Vista, Mariano de Abreu, Taquaril, Baleia, Pompeia, Santa Efigênia, Floresta, Santa Tereza, Savassi, Sion, Anchieta e Cidade Jardim. As áreas onde é mais fácil se deparar com aves silvestres fica em meio aos bairros Santa Efigênia, Floresta, Santa Tereza, Caiçara, Padre Eustáquio, Barroca, Jardim América, Savassi, Serra, Anchieta, Santo Antônio, Cidade Jardim, Glória, Copacabana e Santa Amélia. Já os mamíferos se distribuem em maior número nos bairros Boa Vista, Pompeia, Santa Efigênia, Serra, Anchieta, Sion, Mangabeiras, Belvedere, São Bento, Santa Lúcia, Cidade Jardim, Savassi, Barroca, Barro Preto, Floresta, Santa Tereza, Padre Eustáquio, Caiçara, Ouro Preto, UFMG, Santa Amélia, Copacabana, Planalto e São João Batista.
Deslocamento Segundo a doutora Camila Palhares Teixeira, a maior parte dos animais que entra em conflito vem de áreas verdes que perderam a continuidade com a expansão da cidade. “Esses animais estavam em suas áreas de mata e às vezes passam para a mancha urbana. Vão para a casa das pessoas procurar alimento. No caso das aves, esse deslocamento é mais fácil, voando, o dos macacos e gambás também, pelo cabeamento elétrico, por exemplo”, afirma. Uma das metas é desenvolver um aplicativo para que as autoridades que encontrarem um bicho desgarrado possam identificar e saber como proceder. “Essa ferramenta terá uma foto do animal e informações importantes sobre como se proceder. Muitas vezes se recolhe um desses animais e se solta. Isso pode ser bom, mas pode ser ruim. O ideal seria formar uma equipe multidisciplinar com veterinários e biólogos para decidir no Ibama, onde há uma estrutura de recolhimento” defende.
A presença dos animais desperta reações diversas entre moradores. “Temos desde quem alimenta os animais, e induz a essa presença ou dependência, até quem quer que se retire o ninho do seu telhado, o macaco dos galhos de árvores das ruas. Nem todo animal encontrado deve ser recolhido. Apenas aqueles que estiverem em situação de risco próprio ou para pessoas”, afirma o analista ambiental e médico-veterinário do Ibama Daniel Vilela. No instituto, em BH, vários animais feridos ou órfãos aguardam um destino que pode ser a soltura em área preservada ou o ingresso num criatório autorizado. “No caso dos saguis, por exemplo, o filhote que sobreviveu ao ataque contra a mãe precisará se introduzido num grupo que temos de outros animais um pouco mais velhos que podem o aceitar no bando e esse grupo pode ser solto na natureza”, disse. “Já os gambás, por exemplo, por não terem uma aparência agradável para as pessoas, acabam assustando, mas são inofensivos”, afirma. Há, ainda, animais que não poderão ser reintegrados, como um gato do mato cego que foi recolhido e não tem condição de sobreviver mais sozinho, passando seus dias brincando com um filhote de tamanduá-bandeira no Ibama.
Como lidar
» Não alimentar intencionalmente os animais silvestres nem deixar os alimentos dos animais domésticos
disponíveis em locais abertos, principalmente durante a noite
» Vedar aberturas nos telhados ou outros pontos que favoreçam ocupação e nidificação; manter a vegetação rasteira baixa; reduzir ou eliminar pontos com entulhos ou depósitos de lixos
» Manter animais como galinhas, patos e pássaros em locais protegidos durante a noite para reduzir a predação por animais silvestres como raposas, felinos, gaviões, corujas e quatis
» Evitar aproximar-se de ninhos de animais em reprodução, especialmente gaviões e corujas, bem como de filhotes recém-saídos dos ninhos quando os pais ainda estiverem por perto
Fonte: Unifemm, Ibama, MP
O especialista é um dos envolvidos num trabalho que tenta reduzir os conflitos entre a população e animais silvestres como saguis, gambás e diversas aves que se adaptaram para viver no ambiente urbano. Para isso, foi produzido o primeiro mapeamento das áreas onde são mais frequentes o encontro com esses espécimes (veja mapa) e que integra uma cartilha feita com apoio do órgão ambiental, do Ministério Público, do Centro Universitário de Sete Lagoas (Unifemm) e da UFMG, entre outros. O trabalho surgiu como fruto da pesquisa da professora da Unifemm Camila Palhares Teixeira, doutora em ecologia, conservação e manejo da vida silvestre. Por ano, cerca de 300 animais são enviados ao Ibama depois de serem recolhidos de áreas de conflito com a população. Atualmente há 50 espécimes no órgão ambiental, a maioria aves, seguidos de mamíferos e répteis.
Usando como base de trabalho as ocorrências ambientais da Polícia Militar e informações do Ibama até 2013, chegou-se a um mapa que mostra a distribuição das espécies pela capital mineira. É possível destacar, por exemplo, que a Região Centro-Sul, a mais povoada da cidade, é também a que mais registra conflitos envolvendo animais e a vizinhança. Mamíferos como saguis (micos-estrela), gambás, ouriços-cacheiros e morcegos lideraram o volume de chamadas nos bairros Cidade Jardim, Santo Antônio, Luxemburgo, Coração de Jesus e Vila Paris. Já os répteis, a exemplo de cobras e lagartos, ocasionaram várias ocorrências para a polícia e o Ibama no Barro Preto, Santo Agostinho, Lourdes, Boa Viagem, Savassi e Funcionários. Aves como urubus, carcarás, falcões e corujas foram focos de problemas mais constantes nos bairros de Lourdes, Carmo, Savassi, Sion e Anchieta.
Outro mapeamento, de probabilidade de encontro de animais, coloca uma maior concentração de répteis em manchas que abrangem os bairros Boa Vista, Mariano de Abreu, Taquaril, Baleia, Pompeia, Santa Efigênia, Floresta, Santa Tereza, Savassi, Sion, Anchieta e Cidade Jardim. As áreas onde é mais fácil se deparar com aves silvestres fica em meio aos bairros Santa Efigênia, Floresta, Santa Tereza, Caiçara, Padre Eustáquio, Barroca, Jardim América, Savassi, Serra, Anchieta, Santo Antônio, Cidade Jardim, Glória, Copacabana e Santa Amélia. Já os mamíferos se distribuem em maior número nos bairros Boa Vista, Pompeia, Santa Efigênia, Serra, Anchieta, Sion, Mangabeiras, Belvedere, São Bento, Santa Lúcia, Cidade Jardim, Savassi, Barroca, Barro Preto, Floresta, Santa Tereza, Padre Eustáquio, Caiçara, Ouro Preto, UFMG, Santa Amélia, Copacabana, Planalto e São João Batista.
Deslocamento Segundo a doutora Camila Palhares Teixeira, a maior parte dos animais que entra em conflito vem de áreas verdes que perderam a continuidade com a expansão da cidade. “Esses animais estavam em suas áreas de mata e às vezes passam para a mancha urbana. Vão para a casa das pessoas procurar alimento. No caso das aves, esse deslocamento é mais fácil, voando, o dos macacos e gambás também, pelo cabeamento elétrico, por exemplo”, afirma. Uma das metas é desenvolver um aplicativo para que as autoridades que encontrarem um bicho desgarrado possam identificar e saber como proceder. “Essa ferramenta terá uma foto do animal e informações importantes sobre como se proceder. Muitas vezes se recolhe um desses animais e se solta. Isso pode ser bom, mas pode ser ruim. O ideal seria formar uma equipe multidisciplinar com veterinários e biólogos para decidir no Ibama, onde há uma estrutura de recolhimento” defende.
A presença dos animais desperta reações diversas entre moradores. “Temos desde quem alimenta os animais, e induz a essa presença ou dependência, até quem quer que se retire o ninho do seu telhado, o macaco dos galhos de árvores das ruas. Nem todo animal encontrado deve ser recolhido. Apenas aqueles que estiverem em situação de risco próprio ou para pessoas”, afirma o analista ambiental e médico-veterinário do Ibama Daniel Vilela. No instituto, em BH, vários animais feridos ou órfãos aguardam um destino que pode ser a soltura em área preservada ou o ingresso num criatório autorizado. “No caso dos saguis, por exemplo, o filhote que sobreviveu ao ataque contra a mãe precisará se introduzido num grupo que temos de outros animais um pouco mais velhos que podem o aceitar no bando e esse grupo pode ser solto na natureza”, disse. “Já os gambás, por exemplo, por não terem uma aparência agradável para as pessoas, acabam assustando, mas são inofensivos”, afirma. Há, ainda, animais que não poderão ser reintegrados, como um gato do mato cego que foi recolhido e não tem condição de sobreviver mais sozinho, passando seus dias brincando com um filhote de tamanduá-bandeira no Ibama.
Como lidar
» Não alimentar intencionalmente os animais silvestres nem deixar os alimentos dos animais domésticos
disponíveis em locais abertos, principalmente durante a noite
» Vedar aberturas nos telhados ou outros pontos que favoreçam ocupação e nidificação; manter a vegetação rasteira baixa; reduzir ou eliminar pontos com entulhos ou depósitos de lixos
» Manter animais como galinhas, patos e pássaros em locais protegidos durante a noite para reduzir a predação por animais silvestres como raposas, felinos, gaviões, corujas e quatis
» Evitar aproximar-se de ninhos de animais em reprodução, especialmente gaviões e corujas, bem como de filhotes recém-saídos dos ninhos quando os pais ainda estiverem por perto
Fonte: Unifemm, Ibama, MP