Após décadas de espera e iniciativas que sugaram milhões em dinheiro público na tentativa de livrar a Lagoa da Pampulha da sujeira trazida pelo esgoto de seus afluentes, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou ontem, Dia Mundial da Água, o enquadramento da represa na chamada classe 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Como antecipou o Estado de Minas em sua edição de 8 de março, pouco mais de um ano depois do início do tratamento químico da água, ao custo de R$ 30 milhões até o fim do contrato, os cinco parâmetros de poluição medidos pela administração municipal estão dentro dos limites da classificação (veja arte).
Teoricamente essa é condição necessária para que o lago possa receber esportes náuticos e pesca amadora, mas ainda há obstáculos de peso para que as embarcações voltem ao cenário do cartão-postal, que desde o ano passado detém o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. As principais apresentadas pela prefeitura são a presença no ecossistema de animais, como capivaras e jacarés, e a necessidade de regulamentação da nova atividade. Porém, há também desafios como o esgoto e o lixo, que continuam chegando diariamente ao espelho d’água e deixam frequentadores desconfiados em relação ao atual nível de poluição.
Desde o primeiro trimestre de aplicação dos dois produtos que foram usados para tratar a água, três parâmetros se enquadraram dentro do que o Conama estabelece para a classe 3: os coliformes termotolerantes, a clorofila-A e a demanda bioquímica de oxigênio. O nível de fósforo total e a presença de cianobactérias, dois indicadores do nível de nutrientes e da proliferação de micro-organismos no lago, só chegaram ao patamar exigido nas medições de janeiro de 2017.
A nova situação gerou, imediatamente, questionamentos sobre os próximos passos, já que agora a cidade, teoricamente, tem condições técnicas para receber em seu cartão-postal barcos e também a pesca amadora. “É preciso que haja uma regulamentação, um plano de manejo que discipline o uso, que faça um paralelo como um parque. Horário de utilização, quantos barcos vão poder entrar, com qual frequência, de qual tamanho... Precisamos ter o mínimo de ordenamento”, diz o gerente de Águas Urbanas de BH, Ricardo Aroeira.
Enquanto isso não ocorre e nem um prazo é estabelecido, ele recomenda cautela. “Em um lago urbano no qual se pretende liberar a pesca amadora e esportes náuticos, é incompatível a convivência com animais como jacarés e capivaras”, diz Aroeira. Já está decidido que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, comandada pelo secretário Mário Werneck, ficará responsável pela regulamentação do uso, além de ser a pasta que já trata da relação com o ecossistema local.
“Os jacarés até agora não trouxeram nenhum problema para a população de Belo Horizonte. Esse controle de fauna aquática e também das capivaras é uma coisa muito complicada para resolver da noite para o dia. Vamos resolver primeiro o problema da capivara e não deixemos que os jacarés ataquem alguém. Por isso, recomendamos que as pessoas não nadem e não façam esportes aquáticos até que efetivamente haja uma deliberação normativa”, diz o secretário.
Até lá, a prefeitura também terá que lidar com a desconfiança da população, pois muitos frequentadores relatam que em alguns pontos ainda é possível notar a presença de lixo, mau cheiro e água com aspecto de sujeira. Porém, Ricardo Aroeira garante que percorre a lagoa de barco de 15 em 15 dias e que no corpo principal da represa não há mais esse tipo de problema.
Segundo ele, é preciso ficar claro que, em eventos de chuvas intensas, é possível que as pessoas notem piora na qualidade, mas o grande diferencial é a capacidade de resiliência da lagoa, que agora consegue, por meio do tratamento, retomar as condições da classe 3 em pouco tempo.
“Existe uma grande chance de que, quando tivermos grandes eventos de chuva, uma carga de poluentes muito grande seja carreada para dentro do lago. Essa é uma agressão, mas à qual hoje a lagoa responde muito rapidamente”, afirma. Imagens divulgadas ontem pela prefeitura mostram que ao longo de 2016 os pontos monitorados estavam em bom aspecto, pioraram muito com as chuvas de dezembro, mas logo depois retomaram as condições anteriores, em janeiro.
Ainda segundo Aroeira, um ponto destoante é o braço da lagoa entre a ponte dos córregos Ressaca e Sarandi e o zoológico de BH. É o local que mais sofre com o esgoto que continua chegando de Contagem, na Grande BH, e que passa por intervenções da Sudecap para retirada de lodo. “Esse revolvimento do lodo de fundo piora a qualidade da água. Enquanto esse trabalho permanecer, e ele durará ainda alguns meses, imagino que ali vamos ter um problema localizado”, completa.
Esgoto deixa futuro turvo
Se é boa a notícia de que o tratamento com produtos químicos trouxe bons resultados à qualidade da água da Lagoa da Pampulha, o fato de continuar chegando esgoto ao espelho d’água, especialmente de Contagem, lança sombras sobre o futuro da represa. A Prefeitura de Belo Horizonte fez questão de deixar claro que as metas estabelecidas pela Copasa, de alcançar em julho 95% de esgoto coletado na área da bacia, precisam ser cumpridas. Atualmente, segundo a concessionária de água e esgoto, obras estão em andamento para a conclusão de mais 13 quilômetros de rede que vão permitir alcançar o objetivo.
Mas é necessário mais que instalar as redes. Segundo a Copasa, dejetos de cerca de 10 mil imóveis que já têm rede coletora na porta – 3.270 em Belo Horizonte e 6.929 em Contagem – continuam sendo despejados em córregos de forma ilegal, porque os moradores não fizeram a obra para conectar suas casas à rede pública. Nesse caso, só uma ação fiscal pode dar resultado.
Essa situação é visível especialmente no canal da represa que recebe diretamente esgoto dos córregos Sarandi e Água Funda, que ainda carregam bastante esgoto vindo de Contagem. “A situação ali depende do cumprimento das metas da Copasa. Ainda chega um volume (de esgoto) considerável, aquela área é mais sensível. À medida que esse esgoto for retirado, o problema diminui. Nossa expectativa é muito próxima do corpo principal da lagoa”, afirma o gerente de Águas Urbanas de BH, Ricardo Aroeira.
Segundo a Copasa, atualmente, 91,6% do esgoto produzido na área da bacia – que conta com cerca de 500 mil pessoas em BH e Contagem – é coletado e tratado na estação de tratamento de esgoto Onça. A previsão da concessionária é de que o patamar de 95% seja atingido em julho. Para alcançar 100% do esgoto interceptado e livrar a Pampulha de dejetos, só com intervenções em áreas de vilas e favelas, que demandam melhorias na urbanização.
Otimismo, mas pés fora d'água
Contemplação sim, esportes náuticos ainda não. A boa notícia dada ontem, Dia Mundial da Água, pela Prefeitura de Belo Horizonte, sobre o enquadramento da Lagoa da Pampulha na classe 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, deixa moradores, visitantes e praticantes de esportes náuticos animados, embora sem vontade de pôr o pé na água. “Sempre imaginei a etapa de um campeonato sendo realizada na Pampulha, mas, para isso, temos ainda que ter indicadores da limpeza da água e questões técnicas, como ventos e outras”, afirma o presidente da Federação Mineira de Velas (FMVelas), Rogério Marcos Ferreira Leite.
Rogério lembra que em algumas categorias de embarcação o esportista tem contato com a água, daí a necessidade de a lagoa estar totalmente despoluída. O dirigente observou que é muito cedo para pensar em um campeonato na lagoa, embora a possibilidade deva ser considerada. “Minas tem uma flotilha grande e, pouca gente sabe, vai sediar este ano o Campeonato Brasileiro da Classe Microtoner, que é um tipo de barco cabinado”, adiantou o presidente da FMVelas.
Entre os moradores há satisfação, com reservas. Batendo um papo no Mirante Bandeirantes, em frente à Casa JK, na Avenida Otacílio Negrão de Lima, os estudantes Igor Gonçalves e Addison Cristiano Passos, ambos de 18, disseram que se arriscariam em um passeio de barco pelo lago, mas só se não houvesse contato com água. “Sou sócio de um clube aqui desde que era criança e nunca tinha visto a água tão limpa assim, inclusive sem mau cheiro. Antes, havia uma camada cor verde escura”, contou Igor, a poucos metros do lago.
MEDO DE JACARÉ Morador do Bairro Santa Inês, na Região Leste da capital, Addison lembrou que outro perigo são os jacarés. “Nunca vi, mas dizem que tem”, afirmou. Na tarde de ontem, na entrada do Bairro Céu Azul, a equipe do EM flagrou um filhote do animal tomando o sol da tarde, bem tranquilo. “A notícia de despoluição é muito boa, mas é por essa e por outras que jamais teria coragem de entrar aí. Já vi muito jacaré perto de uma ilha, onde há também carcaças de capivara”, contou um homem que curtia a folga admirando o cartão-postal.
Não muito longe, o garçom Gleisson de Oliveira, de 38, morador de Contagem, lembrava que a Pampulha é ótima para lazer. “Venho sempre aqui para descansar, porém evito pôr o pé na água. Não tenho coragem mesmo. Tenho receio de doenças e dos bichos grandes. Um amigo revelou que, certa vez, um jacaré puxou a linha da vara de pescar dele, então a gente fica ressabiado”, disse Gleisson.
MUITO TEMPO Uma das maiores diferenças notadas na lagoa por moradores e visitantes é a trégua no fedor que apagava o charme do conjunto moderno, incluindo a Igreja de São Francisco de Assis, o Iate, a Casa do Baile e o Museu de Arte (MAP), projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012). “É um lugar muito bonito, mas ainda não dá para entrar na lagoa, não. Além disso, tem capivara, hospedeira do carrapato transmissor da febre maculosa”, destacou o motorista Pedro Henrique de Oliveira, de 22, ao lado da namorada Camila Lopes, de 20, também de Contagem. Eles escolheram as margens da lagoa para fazer fotos e curtir a tarde.
Pela primeira vez em BH, os namorados Elison Maia, militar nascido em Manaus (AM) e residente em Recife (PE), e Adriana Campos, moradora de João Pessoa (PB), ficaram encantados com a paisagem. “Veja só, achei até que essas capivaras eram esculturas, de tão paradas que estavam. Só quando uma se moveu é que constatei que eram reais”, contou Adriana. Para Elison, a Pampulha é ideal para a contemplação, sem necessidade de esportes náuticos.
Como antecipou o Estado de Minas em sua edição de 8 de março, pouco mais de um ano depois do início do tratamento químico da água, ao custo de R$ 30 milhões até o fim do contrato, os cinco parâmetros de poluição medidos pela administração municipal estão dentro dos limites da classificação (veja arte).
Teoricamente essa é condição necessária para que o lago possa receber esportes náuticos e pesca amadora, mas ainda há obstáculos de peso para que as embarcações voltem ao cenário do cartão-postal, que desde o ano passado detém o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. As principais apresentadas pela prefeitura são a presença no ecossistema de animais, como capivaras e jacarés, e a necessidade de regulamentação da nova atividade. Porém, há também desafios como o esgoto e o lixo, que continuam chegando diariamente ao espelho d’água e deixam frequentadores desconfiados em relação ao atual nível de poluição.
Desde o primeiro trimestre de aplicação dos dois produtos que foram usados para tratar a água, três parâmetros se enquadraram dentro do que o Conama estabelece para a classe 3: os coliformes termotolerantes, a clorofila-A e a demanda bioquímica de oxigênio. O nível de fósforo total e a presença de cianobactérias, dois indicadores do nível de nutrientes e da proliferação de micro-organismos no lago, só chegaram ao patamar exigido nas medições de janeiro de 2017.
A nova situação gerou, imediatamente, questionamentos sobre os próximos passos, já que agora a cidade, teoricamente, tem condições técnicas para receber em seu cartão-postal barcos e também a pesca amadora. “É preciso que haja uma regulamentação, um plano de manejo que discipline o uso, que faça um paralelo como um parque. Horário de utilização, quantos barcos vão poder entrar, com qual frequência, de qual tamanho... Precisamos ter o mínimo de ordenamento”, diz o gerente de Águas Urbanas de BH, Ricardo Aroeira.
Enquanto isso não ocorre e nem um prazo é estabelecido, ele recomenda cautela. “Em um lago urbano no qual se pretende liberar a pesca amadora e esportes náuticos, é incompatível a convivência com animais como jacarés e capivaras”, diz Aroeira. Já está decidido que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, comandada pelo secretário Mário Werneck, ficará responsável pela regulamentação do uso, além de ser a pasta que já trata da relação com o ecossistema local.
“Os jacarés até agora não trouxeram nenhum problema para a população de Belo Horizonte. Esse controle de fauna aquática e também das capivaras é uma coisa muito complicada para resolver da noite para o dia. Vamos resolver primeiro o problema da capivara e não deixemos que os jacarés ataquem alguém. Por isso, recomendamos que as pessoas não nadem e não façam esportes aquáticos até que efetivamente haja uma deliberação normativa”, diz o secretário.
Até lá, a prefeitura também terá que lidar com a desconfiança da população, pois muitos frequentadores relatam que em alguns pontos ainda é possível notar a presença de lixo, mau cheiro e água com aspecto de sujeira. Porém, Ricardo Aroeira garante que percorre a lagoa de barco de 15 em 15 dias e que no corpo principal da represa não há mais esse tipo de problema.
Segundo ele, é preciso ficar claro que, em eventos de chuvas intensas, é possível que as pessoas notem piora na qualidade, mas o grande diferencial é a capacidade de resiliência da lagoa, que agora consegue, por meio do tratamento, retomar as condições da classe 3 em pouco tempo.
“Existe uma grande chance de que, quando tivermos grandes eventos de chuva, uma carga de poluentes muito grande seja carreada para dentro do lago. Essa é uma agressão, mas à qual hoje a lagoa responde muito rapidamente”, afirma. Imagens divulgadas ontem pela prefeitura mostram que ao longo de 2016 os pontos monitorados estavam em bom aspecto, pioraram muito com as chuvas de dezembro, mas logo depois retomaram as condições anteriores, em janeiro.
Ainda segundo Aroeira, um ponto destoante é o braço da lagoa entre a ponte dos córregos Ressaca e Sarandi e o zoológico de BH. É o local que mais sofre com o esgoto que continua chegando de Contagem, na Grande BH, e que passa por intervenções da Sudecap para retirada de lodo. “Esse revolvimento do lodo de fundo piora a qualidade da água. Enquanto esse trabalho permanecer, e ele durará ainda alguns meses, imagino que ali vamos ter um problema localizado”, completa.
Esgoto deixa futuro turvo
Se é boa a notícia de que o tratamento com produtos químicos trouxe bons resultados à qualidade da água da Lagoa da Pampulha, o fato de continuar chegando esgoto ao espelho d’água, especialmente de Contagem, lança sombras sobre o futuro da represa. A Prefeitura de Belo Horizonte fez questão de deixar claro que as metas estabelecidas pela Copasa, de alcançar em julho 95% de esgoto coletado na área da bacia, precisam ser cumpridas. Atualmente, segundo a concessionária de água e esgoto, obras estão em andamento para a conclusão de mais 13 quilômetros de rede que vão permitir alcançar o objetivo.
Mas é necessário mais que instalar as redes. Segundo a Copasa, dejetos de cerca de 10 mil imóveis que já têm rede coletora na porta – 3.270 em Belo Horizonte e 6.929 em Contagem – continuam sendo despejados em córregos de forma ilegal, porque os moradores não fizeram a obra para conectar suas casas à rede pública. Nesse caso, só uma ação fiscal pode dar resultado.
Essa situação é visível especialmente no canal da represa que recebe diretamente esgoto dos córregos Sarandi e Água Funda, que ainda carregam bastante esgoto vindo de Contagem. “A situação ali depende do cumprimento das metas da Copasa. Ainda chega um volume (de esgoto) considerável, aquela área é mais sensível. À medida que esse esgoto for retirado, o problema diminui. Nossa expectativa é muito próxima do corpo principal da lagoa”, afirma o gerente de Águas Urbanas de BH, Ricardo Aroeira.
Segundo a Copasa, atualmente, 91,6% do esgoto produzido na área da bacia – que conta com cerca de 500 mil pessoas em BH e Contagem – é coletado e tratado na estação de tratamento de esgoto Onça. A previsão da concessionária é de que o patamar de 95% seja atingido em julho. Para alcançar 100% do esgoto interceptado e livrar a Pampulha de dejetos, só com intervenções em áreas de vilas e favelas, que demandam melhorias na urbanização.
Otimismo, mas pés fora d'água
Contemplação sim, esportes náuticos ainda não. A boa notícia dada ontem, Dia Mundial da Água, pela Prefeitura de Belo Horizonte, sobre o enquadramento da Lagoa da Pampulha na classe 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, deixa moradores, visitantes e praticantes de esportes náuticos animados, embora sem vontade de pôr o pé na água. “Sempre imaginei a etapa de um campeonato sendo realizada na Pampulha, mas, para isso, temos ainda que ter indicadores da limpeza da água e questões técnicas, como ventos e outras”, afirma o presidente da Federação Mineira de Velas (FMVelas), Rogério Marcos Ferreira Leite.
Rogério lembra que em algumas categorias de embarcação o esportista tem contato com a água, daí a necessidade de a lagoa estar totalmente despoluída. O dirigente observou que é muito cedo para pensar em um campeonato na lagoa, embora a possibilidade deva ser considerada. “Minas tem uma flotilha grande e, pouca gente sabe, vai sediar este ano o Campeonato Brasileiro da Classe Microtoner, que é um tipo de barco cabinado”, adiantou o presidente da FMVelas.
Entre os moradores há satisfação, com reservas. Batendo um papo no Mirante Bandeirantes, em frente à Casa JK, na Avenida Otacílio Negrão de Lima, os estudantes Igor Gonçalves e Addison Cristiano Passos, ambos de 18, disseram que se arriscariam em um passeio de barco pelo lago, mas só se não houvesse contato com água. “Sou sócio de um clube aqui desde que era criança e nunca tinha visto a água tão limpa assim, inclusive sem mau cheiro. Antes, havia uma camada cor verde escura”, contou Igor, a poucos metros do lago.
MEDO DE JACARÉ Morador do Bairro Santa Inês, na Região Leste da capital, Addison lembrou que outro perigo são os jacarés. “Nunca vi, mas dizem que tem”, afirmou. Na tarde de ontem, na entrada do Bairro Céu Azul, a equipe do EM flagrou um filhote do animal tomando o sol da tarde, bem tranquilo. “A notícia de despoluição é muito boa, mas é por essa e por outras que jamais teria coragem de entrar aí. Já vi muito jacaré perto de uma ilha, onde há também carcaças de capivara”, contou um homem que curtia a folga admirando o cartão-postal.
Não muito longe, o garçom Gleisson de Oliveira, de 38, morador de Contagem, lembrava que a Pampulha é ótima para lazer. “Venho sempre aqui para descansar, porém evito pôr o pé na água. Não tenho coragem mesmo. Tenho receio de doenças e dos bichos grandes. Um amigo revelou que, certa vez, um jacaré puxou a linha da vara de pescar dele, então a gente fica ressabiado”, disse Gleisson.
MUITO TEMPO Uma das maiores diferenças notadas na lagoa por moradores e visitantes é a trégua no fedor que apagava o charme do conjunto moderno, incluindo a Igreja de São Francisco de Assis, o Iate, a Casa do Baile e o Museu de Arte (MAP), projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012). “É um lugar muito bonito, mas ainda não dá para entrar na lagoa, não. Além disso, tem capivara, hospedeira do carrapato transmissor da febre maculosa”, destacou o motorista Pedro Henrique de Oliveira, de 22, ao lado da namorada Camila Lopes, de 20, também de Contagem. Eles escolheram as margens da lagoa para fazer fotos e curtir a tarde.
Pela primeira vez em BH, os namorados Elison Maia, militar nascido em Manaus (AM) e residente em Recife (PE), e Adriana Campos, moradora de João Pessoa (PB), ficaram encantados com a paisagem. “Veja só, achei até que essas capivaras eram esculturas, de tão paradas que estavam. Só quando uma se moveu é que constatei que eram reais”, contou Adriana. Para Elison, a Pampulha é ideal para a contemplação, sem necessidade de esportes náuticos.