Vaticano analisa documentos para beatificação de Padre Libério

As mais de 500 páginas de pesquisa diocesana sobre o pároco mineiro natural de Lagoa Santa, na Grande BH, que leva legiões a Leandro Ferreira, no Centro-Oeste do estado, começam a ser examinadas pela Igreja

Gustavo Werneck Marta Vieira

Fiéis oram no túmulo de Padre Libério, na cidade de Leandro Ferreira, destino de milhares de romeiros que buscam graças por sua intercessão. Na mesma cidade, a %u2018sala dos milagres%u2019 do religioso atesta a fé de católicos no pároco - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press - 27/9/15


O anúncio oficial da beatificação das crianças pastoras de Fátima, em Portugal –, Francisco (1908-1919) e Jacinta Marto (1910-1920) – fortalece nos católicos o desejo de ver, nos altares, candidatos a santo como o Padre Libério Rodrigues Moreira (1884-1980) e outros que, embora europeus, plantaram sementes de obras sociais com muitos frutos em Minas Gerais. Nesse segundo caso está o padre alemão José Kentenich (1885-1968), fundador da Obra Internacional de Schoenstatt, com dois santuários no estado: o Fonte de Vida Nova, em Poços de Caldas, no Sul de Minas, e em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Na quarta-feira, véspera do anúncio do papa Francisco sobre os pastores portugueses que vão se tornar santos, o Vaticano informou que foi aberta a caixa com a documentação, com mais de 500 páginas, sobre o Padre Libério entregue, em dezembro, à Congregação das Causas dos Santos. No pacote, estão os atos da pesquisa diocesana relativos à causa para a beatificação do religioso natural de Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e que passou a maior parte da sua vida em Leandro Ferreira, no Centro-Oeste, onde foi sepultado e atrai legiões de peregrinos em busca de graças por sua intercessão.

O ato jurídico representa um passo importante na etapa do reconhecimento da heroicidade das virtudes do servo de Deus. A partir de agora, os teólogos vão verificar as evidências a favor da beatificação de Libério, seguindo-se o reconhecimento de algum possível milagre. Em março de 2016, uma comitiva do Vaticano esteve em Leandro Ferreira para presenciar a exumação do corpo do padre.


ACOLHIDA Segundo o administrador paroquial da Paróquia de São Sebastião de Leandro Ferreira, padre Guilherme da Silveira Machado, a cidade recebe muitos visitantes, especialmente nos domingos, às 10h, na já tradicional acolhida aos romeiros. “Podemos dizer que, com a abertura da caixa de documentos, no Vaticano, e início da conferência de toda a pesquisa, aumentam as atenções sobre o processo de beatificação de Padre Libério”, disse padre Guilherme na tarde de ontem.

O processo é agora acompanhado pelos “advogados” da causa de beatificação, os italianos Paolo Vilotta e o padre Paolo Lombardo. Em entrevista ao Estado de Minas em dezembro, o padre Adelmo Sérgio Gomes, então postulador da causa diocesana, destacou que a beatificação é uma reivindicação antiga dos católicos da região, já que, “quando padre Libério era vivo, as pessoas já o consideravam santo”.


Ele observou que o processo recebeu o sinal verde da Congregação para a Causa dos Santos, do Vaticano, em 8 de agosto de 2011. “Foi o nihil obstat (nada consta) para continuarmos”, afirmou o padre, explicando que a “a fé diocesana é a mais trabalhosa, pois requer o levantamento de toda a história, cópias de documentos, busca de certidões em arquivos, depoimentos e outras ações”.

DEVOTOS Padre Libério Rodrigues Moreira estudou no seminário de Mariana, na Região Central, e morreu em Divinópolis aos 96 anos. Foi também vigário em Pitangui, passou por São José da Varginha, Nova Serrana, Pará de Minas, mas, a seu pedido, foi enterrado em Leandro Ferreira, onde exerceu o sacerdócio por muito tempo.

A Matriz de São Sebastião, construída por ele com recursos de esmola e doações, se assemelha à descrição de seu fundador – “leve e acolhedora” –, e este ano recebeu os restos mortais dele, que estavam no cemitério local. A exumação dos ossos, acondicionados num sarcófago de granito, ocorreu em 12 de maio deste ano, e, segundo as autoridades, é exigência do Vaticano, pois as relíquias de um candidato a beato têm que ficar na igreja.

Em caso de se tornar beato, um tempo de espera considerado imprevisível, padre Libério será o quarto em Minas, seguindo os passos de Nhá Chica (1810-1895), nascida em São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes; de Padre Victor (1827-1905), de Campanha; e também de Padre Eustáquio, holandês que desenvolveu grande trabalho pastoral em Minas e foi beatificado, em cerimônia no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, em 15 de junho de 2006.

Conforme mostrou reportagem do Estado de Minas, a outrora pacata cidade de Leandro Ferreira vem se consolidando como um dos mais importantes e movimentados centros de fé e peregrinação do estado. Da fonte onde estava sepultado Padre Libério, fiéis levam centenas de garrafinhas com água, que acreditam estar impregnada de energia abençoada.

Na Matriz de São Sebastião, com capacidade para receber 500 pessoas em uma cidade de pouco mais de 3 mil habitantes, nota-se que o religioso – que doou todos os seus pertences, vivendo somente com o necessário – foi um visionário, acreditando na expansão da fé. Revelou-se certo ao insistir na construção da igreja, inaugurada em 1958, em Leandro Ferreira.

Todos os domingos, a missa dos romeiros atrai à igreja centenas de visitantes. São devotos de Minas e de outros lugares, como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, onde os feitos e milagres atribuídos ao padre já fizeram fama. O número de romeiros cresceu tanto que, na missa de domingo, moradores da cidade chegam a ceder aos visitantes seus lugares na igreja.

.