E os noivos Pollyana de Cássia Fernandes Albino, de 28 anos, e Alex Humberto de Pádua Silva, de 26, resolveram usar e abusar dela, quando perceberam que só economizar no dia a dia não ia ser o bastante. A cerca de seis meses de realizar o sonho de se casar, eles fazem de tudo para conseguir levantar a quantia de R$ 25 mil para bancar os custos da cerimônia e da festa de casamento. Com um relacionamento de dois anos, o casal faz questão de ter um dia para festejar a união e a cerimônia religiosa. Para arrecadar os fundos necessários, Pollyana teve a ideia de produzir e vender canudinhos de doce de leite, brigadeiros e trufas durante o tempo livre de ambos.
Com camisas temáticas nas quais se lê um simpático pedido de colaboração junto da oferta dos produtos, Pollyana e Alex, sorriso no rosto e muita disposição, percorrem diversos pontos da capital mineira em busca de clientes. A organização para transformar o sonho em realidade começou cedo. Logo quando noivaram, os dois começaram a planejar o casamento. “Qualquer dinheiro que sobrava era guardado para a festa, mas logo percebemos que precisaríamos de algum extra”, conta a noiva.
A solução veio da internet, quando ela viu a história de um casal em situação semelhante. Inspirada, Pollyana foi logo contar a ideia a Alex. “Ele topou na hora. Temos esse sonho, então trabalhamos juntos em prol disso”, relembra. Os dois pensaram no que poderia ser vendido e acabaram decidindo pelos doces, devido à ajuda que receberiam da mãe de Alex, que produz os canudinhos, e do bufê que contrataram para o casamento, que vende trufas a um preço menor. “Os brigadeiros nós mesmos fazemos e saímos para vender sempre juntos. É cansativo, mas tem valido a pena”, afirma Alex. O casal sai todos os dias, no período da noite, desde fevereiro. O horário foi escolhido para não atrapalhar a rotina dos noivos, que trabalham durante o dia. “Tentamos visitar locais de grande movimento, como bairros que têm faculdades e a região central de BH”, explicam.
O bloco do 'quero casar'
Como no caso deles, a venda de produtos para arrecadar fundos tem se tornado prática comum entre casais que tentam realizar o sonho do casamento. Crisangela Elen de Souza, de 27 anos, e o noivo, André Oliveira Delfino, 31, também apostaram na ideia para pagar a festa, programada para setembro deste ano e avaliada em R$ 15 mil. “Faço doces e temperos, vendo cosméticos naturais, e a renda é toda voltada para o casório”, conta Crisangela. “Estamos juntos há 11 anos, e ficamos noivos há quatro. São os alfajores, que vendo na universidade, em uma cestinha enfeitada de noiva, que estão financiando nosso sonho”, afirma Crisangela. Segundo o casal, a venda dos produtos tem ajudado a pagar as despesas mais urgentes. “Está dando para juntar uma quantia boa. Conseguimos dar a entrada no pacote fotográfico com o dinheiro das vendas.”
O casal também passou o carnaval vendendo cerveja nas ruas de Belo Horizonte para ajudar nas despesas. E não foram os únicos com a inspiração de transformar a maior folia da história da capital mineira em um empurrão a mais no sonho do casamento – e da comemoração depois dele. Também durante a festa de Momo, Denise Cardoso e Gustavo Leandro apelaram para a sensibilidade dos foliões. Com um banner pedindo ajuda para concretizar o sonho, eles perambularam pelos blocos durante todos os dias de folia, vendendo bebidas e esbanjando alegria. Passada a união da útil arrecadação de dinheiro com a agradável diversão carnavalesca, a verba arrecadada será usada nas despesas do casório, marcado para 28 de outubro.
Preços para todo tipo de vaquinha
De acordo com cerimonialistas, uma festa de casamento pode custar entre R$ 20 mil e R$ 120 mil, variando de acordo com a condição do casal e com o que é pedido. Tiago Gontijo, proprietário de um cerimonial que lida exclusivamente com casamentos, conta que é cada vez mais comum ver os noivos pedindo ajuda a parentes e amigos, seja para a festa em si, para a lua de mel ou o chá de panelas. “Muitos casais recorrem a sites de listas de presentes ou de 'vaquinhas' on-line, que mostram aos convidados o que eles querem ganhar. Às vezes, é um presente específico, outras vezes, uma quantia em dinheiro”, explica.
Até mesmo para casais que ainda vêm a união como meta um pouco mais distante, a complementação de renda por métodos alternativos é uma opção para financiar o casamento. Nayara Macedo, de 19 anos, e Renan Arruda, de 20, pretendem se casar apenas em 2019, mas já estão fazendo as contas. “A gente já vende doces e chocolates para arrecadar dinheiro. Temos até um cofrinho decorado”, comenta a futura noiva. “Sabemos da dificuldade que é juntar tudo que é preciso.”
SOLIDARIEDADE Seja para vender produtos ou para fazer sucesso com a “vaquinha” on-line, os casais dependem da ajuda de amigos, familiares, convidados e, muitas vezes, de estranhos. No caso de Crisangela e André, a colaboração vem das futuras madrinhas, que vendem os alfajores, e das irmãs da noiva, que ajudam também na produção. “Todo mundo se empenha. Até minha sobrinha, de 15 anos, ajuda, vendendo na escola”, revela a noiva. Além disso, ela conta que, durante o carnaval, recebeu uma doação de um homem desconhecido. Não foi muito, R$ 4, mas o gesto ficou marcado e revelou como a estratégia dos noivos é capaz de sensibilizar. “Ele nos parou e disse que, se era para casar, ele ajudaria com o pouco que tinha", relembra.
Além do sabor, aliás, esse é um motivo extra para o sucesso dos brigadeiros e trufas de Pollyana e Alex. “As pessoas, em geral, são muito solidárias. Sempre tem aqueles que nem gostam de chocolate, mas dão o dinheiro de qualquer forma para nos ajudar”, Pollyana lembra.
E a generosidade vai além da doação financeira. Em um dia de vendas no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte, Pollyana e Alex conheceram Fernanda Costa, que trabalha com decoração. Entusiasmada com a história do casal, Fernanda comprou um doce, mas decidiu que poderia ajudar ainda mais. “Ela vai ajudar com a decoração da festa, doando a mão de obra. Ficou bem empolgada com a ideia e decidiu que queria fazer parte da história”, conta a noiva.