Belo Horizonte ainda tem 244 depósitos ilegais de lixo e entulho

Nem a imposição de multas de até R$ 5,4 mil conseguiu conter os bota-foras clandestinos em BH, uma montanha de lixo de 398,2 mil toneladas coletada pela SLU desde 2014 pela cidade

Carroceiros despejam rejeitos de construção em via pública, criando um novo bota-fora - Foto: Leandro Couri/EM/DA Press
Dois homens chegaram à marginal da Avenida dos Andradas, por volta das 14h30 de ontem, numa carroça abarrotada com entulhos. Pegaram uma pá e, sem se incomodar com a presença de pedestres e veículos naquele ponto do Bairro Caetano Furquim, despejaram sobras de materiais de construção sobre a calçada. Nascia, naquele momento, mais um bota-fora em Belo Horizonte. Desafio antigo e difícil de ser combatido, as chamadas deposições clandestinas geram estatísticas alarmantes na capital.


A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) contabiliza a coleta de 398,2 mil toneladas de entulhos entre janeiro de 2014 e fevereiro de 2017. Em toda a cidade, de acordo com o mesmo levantamento, há 244 bota-foras. Já a Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização (Smafis) emitiu, em 2016, 738 notificações (advertências) e 68 multas.

As penalidades estão previstas na Lei 10.534, de 2012, e impõem ao infrator multas com valores entre R$ 180,19 (não acondicionar o resíduo corretamente ou colocá-lo para coleta em horário diferente do determinado pela SLU) a R$ 5.405,89 (despejar resíduos de construção civil em lotes vagos ou encostas). A Smafis informou que 70% dos notificados e 56% dos autuados são pessoas físicas.

Em nota, a secretaria acrescentou ainda que “aproximadamente 29% das multas foram emitidas com o valor mínimo (R$ 180,19) e outros 29%, com o máximo (R$ 5.405,89)”. “A maioria das infrações foi registrada nas regiões de Venda Nova, Noroeste e Nordeste de Belo Horizonte”, informou a secretaria, sem detalhar o número absoluto atribuído a cada regional.

Muita gente, contudo, desafia as regras que tentam assegurar a boa convivência entre os moradores.

Há até quem ridicularize a lei, como conta seu João, morador do Bairro Vera Cruz, na Região Leste.

“Havia uma placa na Rua Itaguá, onde está aquele monte de porcaria, que dizia mais ou menos assim: ‘Ponto limpo. Proibido jogar lixo’. Um pessoal não quis nem saber e a jogou no chão. Quanto mais o caminhão com os garis recolhe a sujeira, mais o povo joga lixo na esquina. Nosso bairro fica feio”, indignou-se.

Sobras de construção, alimentos, galhos, utensílios domésticos, tudo se mistura no lixo deixado nas ruas Pitangui e Itaguá - Foto: Leandro Couri/EM/DA PressO bota-fora na Itaguá tem de quase tudo um pouco: resto de material de construção, sacos com sobras de alimentos, galhos, caixas de papelão, pedaços de madeira etc. A situação não é muito diferente da que ocorre na Rua Pitangui, quase esquina com a Avenida Silviano Brandão, no Bairro Horto. O local é um tradicional ponto de deposições clandestinas.

Os caminhões da SLU recolhem boa quantidade de entulhos toda semana, mas é difícil encontrar o local limpo. Por causa da quantidade de lixo, pedestres precisam caminhar no asfalto, disputando espaço com veículos. Quem mora no quarteirão reclama do cheiro. E do perigo de doença, pois o bota-fora pode atrair animais peçonhentos.

- Foto: “Todo mundo sabe disso. A prefeitura vem aqui e limpa o lugar. No dia seguinte, tudo volta como estava”, reclama uma mulher que reside na Pitangui e lamenta a falta de educação de vizinhos e carroceiros. “Afinal, próximo daqui, há um lugar que recebe entulhos de carroceiros.
Não precisava jogar o lixo aqui. O cheiro é forte. E há risco de doenças, pois o entulho pode servir de criatório para o mosquito Aedes, transmissor da dengue”.

Os dois carroceiros que despejaram sobras de materiais de construção na marginal da Andradas, na tarde de ontem, poderiam ter levado o entulho para o local citado pela moradora. Mas optaram por criar mais um bota-fora, às margens do Ribeirão Arrudas, o leito já morto pela quantidade de esgoto e lixo despejado por moradores da capital e Contagem.

Mas atenção ao lixo doméstico colocado em lugar onde há coleta da SLU. Se depositado em dias, horários e locais indevidos, é passível de notificação e multa. “É necessário que a população respeite o cronograma de coleta para cada região e colabore para uma cidade mais limpa e organizada”, informou a Smafis.

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