A palavra pichada duas vezes na lateral da igrejinha graças à sucessão de falhas começou a ser removida ontem, com o trabalho das técnicas em restauração Flávia Alcântara e Daniela Ayala, e da assessora técnica e arquiteta Andréa Sasdelli, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), e deve ser concluído ainda hoje. A pichação ocorreu entre as 22h30 e as 23h30, segundo a Guarda Municipal, e atingiu, novamente, o painel de ladrilhos de uma das laterais do monumento, o que já havia dificultado bastante o trabalho de limpeza por ocasião da primeira pichação. Naquela oportunidade, em 21 de março de 2016, o painel de Cândido Portinari, que fica na parte de trás do monumento, também foi alvo do vandalismo.
Representantes da Arquidiocese de Belo Horizonte acompanharam o trabalho de limpeza. O coordenador do Memorial da Arquidiocese, Márcio Vieira, disse ser impossível que a Pampulha perca o título de Patrimônio Cultural da Humanidade devido aos episódios de vandalismo registrados nos últimos meses. “Acredito que é impossível perder o título. Não só a arquidiocese, mas o Iepha e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) estão atentos a esse tipo de desconforto e vandalismo, para que isso não ocorra novamente, de maneira alguma.”
Vieira relatou ainda que a limpeza é feita com o solvente aguarrás, produto derivado do petróleo capaz de remover a tinta das pastilhas sem danificar a estrutura da igrejinha. “A arquidiocese disponibilizou todo o material e os técnicos já estão trabalhando para concluir a remoção em um ou dois dias”, relatou. A limpeza não terá custos para os cofres municipais, segundo ele.
SEGURANÇA Sobre a segurança no entorno da Igrejinha da Pampulha, o coordenador da arquidiocese afirmou que espera um policiamento mais ostensivo no local. “Esperamos do poder público algo que já vem sendo feito, mas agora de maneira mais ostensiva e não só no entorno da igreja, mas em todo o complexo. A PBH já disponibiliza guardas municipais durante o dia e a noite e agora teremos uma presença mais massiva, para que não ocorram esses desencontros novamente,” concluiu.
Segundo a coordenadora do Iphan, Célia Corsino, é preciso melhorar a segurança no conjunto. “A Unesco não pede segurança, ela questiona nossa capacidade de gestão. Será que temos capacidade para gerir um patrimônio que foi alvo de pichação? De fato, é preciso melhorar a segurança no local e nos mostrarmos capazes de administrá-lo”, afirma. No fim do ano, uma reunião da Unesco deve discutir essas questões.
Para inibir o vandalismo, Prefeitura de Belo Horizonte informou ter dado início à execução de um novo plano de segurança para o conjunto moderno da Pampulha. Por meio da Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Patrimonial e da Fundação Municipal de Cultura, serão implantadas medidas para minimizar, a curto e médio prazos, os riscos de atos de vandalismo e depredação do patrimônio público.
A prefeitura promete câmeras modernas, com sensor de movimentos e emissão de sinais de alerta, e ainda com avançados recursos tecnológicos de captação de imagens. A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Segurança informou que a aquisição do equipamento segue trâmite exigido pela lei, mas é considerada prioritária. Outra medida imediata implementada foi a intensificação do patrulhamento de guardas municipais no entorno da igrejinha da Pampulha, segundo a administração municipal.
Título da Unesco foi concedido na Turquia
Em 17 de julho de 2016, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade foi concedido ao conjunto moderno da Pampulha em Istambul, Turquia, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na ocasião, representante da instituição no país, o francês Lucien Muñoz disse que “os belo-horizontinos devem se sentir ‘honrados e felizes’ pela decisão que põe BH no seleto grupo de cidades que têm um sítio do patrimônio mundial da Unesco em seu território”. O conjunto, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), é formado pela Igreja de São Francisco de Assis, pelo Museu de Arte da Pampulha (MAP), antigo cassino, pela Casa do Baile, atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de BH, e pelo Iate Tênis Clube, todos construídos entre 1942 e 1943. Em Minas, foi o quarto patrimônio conquistado, o primeiro modernista: já estão na lista os centros históricos de Ouro Preto, na Região Central, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, também na Região Central.
Autor do primeiro ataque foi preso
Em 21 de março do ano passado, a igreja da Pampulha foi pichada pela primeira vez. Na ocasião, a Polícia Civil desenvolveu uma investigação que apontou três pessoas como responsáveis pelo crime, uma delas autora e as outras envolvidas na concepção do ato de vandalismo. Mário Augusto Faleiro Neto, o Maru, na época com 25 anos e apontado como o pichador da igrejinha, foi preso. João Marcelo Ferreira Capelão, o Goma, que tinha 33 anos na época, foi solto e responde ao processo em liberdade. Marcelo Augusto de Freitas, o Frek, com 20 anos na época, até hoje está foragido. Segundo a assessoria do Fórum Lafayette, um dos processos, referente a Mário e João Marcelo, aguarda sentença. O outro, de Marcelo, foi desmembrado e tem vários pedidos de diligências em Ibirité, na Grande BH, onde ele e Mário Faleiro moravam na época. Os três foram denunciados no artigo 65, inciso 4 da Lei 9.605 de 1998 (pichar monumento tombado pelo patrimônio) e nos artigos 69 (quando o agente pratica dois ou mais crimes), 287 (apologia ao crime) e 288 (formação de quadrilha).