Uma das lendas da Serra do Cipó precisa de socorro. A estátua que homenageia o eremita Juquinha, num platô do município de Morro do Pilar, está degradada e vem sendo depredada. Às margens da rodovia MG-010, a obra é um dos pontos mais visitados por turistas e viajantes, mas não é tombada e não recebe auxílio do poder público.
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A estátua de concreto está desgastada, com partes se desprendendo e trincando. Nas costas de Juquinha uma pessoa pichou com spray preto a palavra “Neves”. É comum também que se encontre lixo dentro da estátua, sendo que na última semana alguém deixou um par de chinelos velhos ao lado da estátua.
A estátua foi feita em 1987 pela artista plástica Virgínia Ferreira, sob encomenda dos prefeitos de Morro do Pilar e de Conceição do Mato Dentro. A artista conta que o descaso com a peça ocorre há pelo menos 10 anos e que a responsabilidade pelo cuidado da estátua é do município de Santana do Riacho. “Na época que a estátua foi construída, de fato não existia esta limitação de terras, mapas tão precisos, por isso a escultura foi feita a pedido dos prefeitos das cidades vizinhas. Hoje, o espaço pertence a Santana do Riacho”, conta.
Ela disse que há dois anos procurou o prefeito da cidade para discutir a situação e a possibilidade de restauração. “Eu fui com horário marcado para conversar, mas ele não me recebeu. Fico extremamente triste com esta situação. Inclusive, a prefeitura recebe verba para fazer a manutenção de patrimônios culturais. E o Juquinha lá daquele jeito, né?”.
A reportagem do EM tentou, sem sucesso, contato com a Prefeitura de Santana do Riacho. Procuradas, as prefeituras de Morro do Pilar e de Conceição do Mato Dentro não quiseram se manifestar sobre a situação da estátua e uma eventual participação na restauração e limpeza.
HISTÓRIA Juquinha se chamava José Patrício e morreu em 1983. Vivia nos grotões da serra e ficou famoso pela gentileza – trocava, por exemplo, flores que colhia pelo caminho por comida ou ajuda. Sua vida era cercada de muitas lendas. Moradores e frequentadores diziam que ele se alimentava de escorpiões e que já havia sido picado por mais de 100 cobras.
Outra história contada sobre Juquinha dá conta de que tinha uma doença rara e que, por isso, perdeu a pulsação numa noite, chegou a ser velado e acordou dentro do caixão. Virgínia Ferreira disse que conheceu Juquinha ainda na infância, quando morava em Conceição do Mato Dentro. “Ele sempre estava lá: na beira da estrada, nas montanhas. Sempre andando”, lembrou.
Entrevista
VÍRGINIA FERREIRA,
autora da escultura de Juquinha
“As pessoas precisam ser mais educadas”
Quando começaram os problemas com a escultura?
“Há pelo menos 10 anos a situação está precária. Depois da instalação da estátua, deu-se uma circulação muito intensa no local. O Juquinha é muito querido e o local onde está a estátua é um ponto turístico muito importante. Com isso, surgiu um interesse para se aproveitar da movimentação. Já tem alguns anos que uma lanchonete passou a tomar conta da região. Inclusive, se apropriou do espaço de forma ilegal e enfrenta um processo judicial.”
O que deveria ser feito para resolver a situação?
“Primeiro, as pessoas precisam ser mais educadas, né? Quem pichou foi até bonzinho, já que foi só a parte de trás da estátua que foi rabiscada. Precisamos restaurar o Juquinha, fazer a limpeza da pichação. Mas outros problemas no entorno também preocupam. É necessário verificar se há lixeiras, consertar as placas da estrada que levam até a escultura, além de retirar destroços de um estacionamento que seria construído próximo ao local da estátua. Há muita areia e pedras no caminho.”
Como proteger a escultura?
“Acredito que a escultura deveria ser tombada como patrimônio devido à sua importância para a região. Assim, ela seria mais bem cuidada e restaurada. O Juquinha foi um personagem muito importante, todo mundo o conhecia”.