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O trecho é marcado por uma série de batidas, pois, pouco depois do fim da íngreme descida de 6 quilômetros, o que leva muitas carretas a ganhar velocidade, há uma reta com afunilamento no número das faixas de rolamento, de três para duas. A redução ocorre por causa do pontilhão que sustenta uma linha férrea. Um dos paredões da ponte ocupa o que deveria ser a terceira faixa de rolamento.
Vale lembrar que o Anel foi construído com duas faixas de rolamento e, anos depois, a União abriu a terceira, quando o pontilhão já havia sido erguido. O afunilamento de pistas também ocorre nas cabeceiras dos viadutos ao longo da rodovia, locais em que as retenções também são diárias nos horários de pico. Especialistas defendem maior seriedade e competência dos gestores públicos.
“O Anel foi projetado com duas faixas (de rolamento).
Ele vai além: “Enquanto isso, uma auditoria de segurança viária deveria ser feita e implementada imediatamente no Anel, seguindo os padrões internacionais de ‘ações x resultados’ já consagrados para a redução de acidentes de trânsito”.
Já o consultor em assuntos urbanos José Aparecido Ribeiro, que também é integrante da Comissão Técnica de Transporte da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) e blogueiro do site Uai, sugere caixas de desaceleração na descida de seis quilômetros. Trata-se de áreas com brita ou areia capazes de possibilitar a parada de veículos sem freios. Para que isso ocorra, contudo, é preciso desapropriar terrenos às margens do Anel.
“Centenas de mortes poderiam ser evitadas se fossem corrigidas falhas de estreitamento de pista (12 no total), que provocam engarrafamentos onde jamais poderiam ocorrer e reconstruídas as marginais, com áreas destinadas a panes, como instalação de ‘caixas de desaceleração’ na descida do Betânia, onde dezenas de caminhões perdem os freios constantemente”, defendeu José Ribeiro.
Ele avalia que “as causas (do acidente) têm pouca relevância na complexidade do fenômeno, sobretudo se a culpa for de falha humana. Desvendá-las não solucionam o problema. Contra falhas humanas, boa engenharia e vias seguras, com recursos capazes de livrar os bons dos maus motoristas. O fato é que o Anel virou um imbróglio aparentemente sem solução”, defende.
'PARECIA UM TSUNAMI'
As mãos de Deus salvaram Thiago Hilário, de 35 anos, acreditam muitos que viram seu resgate ontem.
O desastre causou pânico, agitação e desespero. “Nasci de novo e, depois dessa, não passo mais no Anel Rodoviário”, garantiu a estudante Rebeca Praxedes, de 31. Atordoada, ela contou que ouviu um estrondo e olhou para retrovisor: “Consegui desviar (o carro) um pouco para a esquerda. Vi todo mundo passando e, graças a Deus, o meu veículo foi o que menos estragou. Saí correndo e não quis nem olhar”.
A estudante, que mora no Buritis, bairro vizinho ao local do acidente, telefonou para o pai, o militar Paulo, de 57.
“Parecia um tsunami vindo por trás. Vi aquela fumaça levantando e, naquele momento, saí para a marginal. Aí o caminhão bateu e, graças a Deus, a gente teve esse livramento. Jesus jogou a gente pra cá”, acredita Fábio Augusto da Costa, de 33, que dirigia um Corolla com mais três pessoas. O carro dele foi jogado para a marginal com a batida.
Relatos como o do tenente que salvou Thiago, o de Rebeca e o de Fábio mostram o drama de quem esteve ontem na mira do caminhão desgovernado. O motorista do caminhão que causou a batida, que não teve a identidade divulgada, precisou ser retirado do local, pois algumas pessoas queriam linchá-lo.
O supervisor de hidráulica Ivanésio Araújo, de 53, percebeu o motorista do caminhão, atormentado, tentando deixar o local. “Cobrei mais responsabilidade, porque um veículo desse não pode descer em alta velocidade. Eu e meu sobrinho sobrevivemos por milagre”, afirmou o dono de uma Saveiro que ficou completamente destruída.
A batida ocorreu por volta das 8h15 e, segundo o tenente Pedro Barreiros, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o motorista do caminhão alegou que transitava com a segunda marcha engrenada e um alto giro do motor. “Quando ele foi passar a terceira, (a marcha) não encaixou e o veículo pesado ficou em ponto morto.
É comum filas de carros no local por causa do afunilamento de pistas. “Temos um trecho de estrangulamento, de três para duas faixas, e isso causa congestionamento. Conseguimos controlar os acidentes do Betânia, que atualmente são poucos. Mas, quando acontecem com veículos pesados, normalmente são graves”, diz o tenente.
O trânsito teve que ser fechado até às 10h20 nos dois sentidos para atendimento, o que provocou uma longa fila no Anel.