Em abertura da semana santa, dom Walmor destaca a necessidade da busca pela paz

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte presidiu duas missas no domingo de Ramos e lembrou o descompasso no mundo causado por questões como guerras e preconceitos

Junia Oliveira
População lotou a praça ao redor do Cristo, no Bairro Milionários, na Região do Barreiro - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS
Aos pés do Cristo de braços abertos, milhares de fiéis participaram ontem da abertura das celebrações da semana santa, na capital. Seguir um caminho de fé em busca da paz e pela paz. Essa foi a mensagem das duas missas de domingo de Ramos, presididas pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Emoção, devoção e reflexão marcaram o dia. Com a procissão e bênção dos ramos, a Igreja celebra a entrada de Jesus em Jerusalém a caminho da sua paixão, morte e ressurreição.

A primeira celebração foi logo cedo, no Bairro Milionários, na Região do Barreiro. Os católicos saíram em procissão, por volta das 7h30, da paróquia São José e São Gabriel Passionista até a Praça do Cristo Redentor. No fim da tarde, eles se encontraram na Tenda Cristo Rei, canteiro de obras da Catedral Cristo Rei, no Bairro Juliana, na Região Norte de BH. Dom Walmor explicou que a data é uma oportunidade para fixar o olhar numa pessoa de bem, que é Cristo.


“Ele é Deus e homem, que nos salva e nos indica o caminho. Se a humanidade for capaz de ver isso, encontraremos as respostas para salvar das conturbações que vivemos, das guerras e o caminho da paz”, disse. O arcebispo acrescentou que a procissão tem o simbolismo de seguir Cristo num caminho de paz e pela paz para que os corações se sintam cada vez mais sintonizados com o filho de Deus.

No meio da multidão no Bairro Milionários, duas crianças chamaram a atenção. As meninas Letícia Ribeiro, de 11 anos, e Celine Cândida, de 10, estiveram firmes na procissão. Segurando a Bíblia, elas se disseram felizes de participar do início das celebrações da Páscoa. “Limpa a gente e traz alegria. É muito bom”, afirmou Letícia. Na praça do Cristo, a professora aposentada Jordelina Aparecida Gomes, de 54, se emocionou durante a missa. Ela se lembrava da mãe, morta há um ano, e do marido, que faleceu há quatro. Sobraram saudades e boas lembranças de quem não faltava à missa de domingo de Ramos na praça do bairro. “Esse é um tempo de reflexão, de oração, de buscar a Deus e de rever nossas atitudes.”

Dom Walmor destacou a necessidade de buscar a paz em um contexto marcado por preconceito e guerras - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS
DESCOMPASSO Na homilia, dom Walmor citou passagem do evangelho de Mateus relatando o episódio em que Pilatos interroga o povo sobre quem deve ser condenado: Cristo ou Barrabás (que havia sido preso pela polícia romana um dia antes da morte de Jesus)?. Ao mesmo tempo em que Pilatos se declarava “inocente do sangue daquele justo”, veio o clamor do povo pedindo que “o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Para o arcebispo, isso é o retrato da humanidade distanciada e ferida do amor de Deus.
“Pilatos tenta encontrar o caminho e não consegue. O povo é capaz de fazer o absurdo de querer que o sangue caia sobre eles. Isso comprova até onde o coração humano feito para o amor e para a paz pode ser hospedaria do ódio. Quando é assim, pagamos o alto preço no ambiente de casa, de trabalho. Nada é mais incômodo do que não ter paz interior”, ressaltou dom Walmor.

Ele destacou ainda que o mundo pode ser melhor por meio de cada um, mas está descompassado, tratando-se de um verdadeiro inferno quando se pensa na questão das guerras, discriminações e preconceitos. “Quando não enxergamos o bem e o amor, nunca atingiremos a justiça e a paz de que precisamos. E aí o sangue do outro cai sobre nós com sofrimento, guerra e falta de paz”, afirmou. Ele terminou conclamando para que no início da semana santa os corações e a fé se voltem para Cristo, para que as pessoas compreendam e sintam diferente. “O caminho mesmo é este que o senhor nos aponta: o caminho da simplicidade, da humanidade. E que o percorramos envolvendo nossas famílias, crianças e jovens”..