Paciente em parada cardíaca chega à emergência do hospital. A equipe médica tem poucos minutos para intervir e salvar uma vida. Os procedimentos devem ser rápidos e certeiros. Cada reação de quem está na maca mostra se a resposta está sendo positiva ou se não há mais nada a fazer. Recorrente nas salas de urgência e emergência país afora, numa faculdade de Belo Horizonte essa e outras situações serão vividas de uma maneira quase real. Futuros médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde vão poder sentir, na prática, o dia a dia da profissão num ambiente com tecnologia de ponta. Nele, os estudantes poderão simular o atendimento a robôs que têm reações fidedignas às dos seres humanos, aprender a fazer exames clínicos e até mesmo treinar como dar uma má notícia a pacientes e familiares.

O Laboratório de Habilidades e Simulação Realística da Faculdade de Ciências Médicas permitirá aos alunos vivenciarem situações clínicas reais de alta-fidelidade em urgência e emergência e exames laboratoriais em manequins (pacientes) de alta tecnologia, programados com determinadas doenças e comandados por professores ou instrutores, para que os estudantes façam o atendimento. O novo laboratório aumenta em muito a capacidade de aprendizado e treinamento, uma vez que o atual é restrito a habilidades manuais, como manobras de ventilação, manejo de via área, entubação de paciente. Estudantes e professores ainda estão conhecendo e se acostumando ao novo espaço, para começar as aulas práticas.

De acordo com o coordenador do curso de medicina, José Celso Cunha Guerra Pinto Coelho, o grande ganho é justamente o aumento das performances e habilidades, na medida em que dois elementos foram agregados: a simulação realística de alta definição e os consultórios médicos. Ele ressalta que os robôs se comportam como o corpo de uma pessoa, respondendo às atitudes que o aluno toma à frente dele.

“Se ele está sentindo isso, dou essa medicação ou faço determinada manobra. Se piorar e entrar em parada cardiorrespiratória, há uma sequência de procedimentos a serem feitos aos quais o manequim responde positivamente ou não. Isso vai depender do tipo de manobra que o aluno fizer”, afirma. “Os universitários terão contato com situações que verão na urgência com pacientes reais ou, às vezes, sozinhos, já como médico, tendo que tomar uma série de atitudes sem ter sido treinados a fazer isso”, acrescenta.


A estrutura conta com uma área de 550 metros quadrados e todos os locais têm salas de acompanhamento para o professor. Nas duas salas completas de simulação realística de alta-fidelidade serão simuladas situações de emergência, como infarto, arritmia e choque anafilático. Em todas elas, o manequim vai reagir como se fosse um ser humano. Há também dois salões de habilidades, onde o aluno faz testes em manequins, como exame ginecológico, urológico, proctológico, mecanismo de parto normal ou fórceps, fundo de olho, auscultas cardíaca de pulmonar, entre outros. Há ainda 10 consultórios para simulações de consultas médicas e para realização de provas com manequins ou atores, tudo supervisionado pelo professor.

O laboratório é multidisciplinar e possibilita o trabalho em equipe e treinamento dos diversos profissionais da área de saúde, agregando médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos. Isso permite que os alunos atuem juntos nos casos que serão apresentados. “Vamos também simular emergências dos acadêmicos de medicina junto com os de enfermagem. Em outros cursos isso não ocorre. Vamos treiná-los a trabalhar em equipe”, diz o médico.

Outra simulação a ser explorada será a comunicação da má notícia. “Aprendi a falar com pacientes ou familiares sobre determinada doença ou óbito no dia a dia como médico. O laboratório vai permitir que esse tipo de treinamento seja feito, envolvendo psicologia com medicina, usando atores”, explica.


As aulas serão gravadas por câmeras de alta definição que permitirão aos acadêmicos e professores discutirem os casos apresentados em sala. O laboratório será ainda disponibilizado para treinamento de equipes externas à instituição. A ideia é promover maior capacitação de profissionais da área de saúde, segurança, setores privados e públicos, como Guarda Municipal, bombeiros, Polícia Militar e Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu).

José Celso Guerra faz um paralelo com o treinamento de quem se prepara para ser piloto. “Todos participam de diversas simulações antes de assumir um avião. Da mesma forma, essas simulações vão permitir ao nosso aluno participar de diversas situações em ambiente protegido, onde ele pode errar. Quando der errado, não vai trazer prejuízo a ninguém. Pelo contrário, vai gerar reflexão e aprendizado para todos.”