Tombado como patrimônio histórico nos níveis municipal, estadual e federal, o edifício foi construído no início dos anos 1950, depois da entrega à cidade do complexo da Pampulha, também de autoria de Niemeyer. Formado por 22 apartamentos, o edifício teve os primeiros dos problemas atuais detectados em 2011. Na época, a obra resultou em um orçamento caro, inacessível aos condôminos, em torno de R$ 1 milhão. A maratona teve início depois que um projeto foi elaborado e enviado ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de BH, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Reinaldo da Matta Machado, síndico do edifício, conta que o pedido foi deferido em Brasília, mas não apareceu investidor interessado. Os moradores se cansaram de esperar e decidiram arcar com os custos com o caixa do próprio condomínio, aprovando o orçamento de R$ 450 mil e iniciando a restauração neste mês. “A maior dificuldade foi eu mostrar aos condôminos que o sonho do patrocínio via Lei Rouanet não iria se concretizar, assim consegui convencer todos que nós mesmos teríamos de resolver o problema da fachada”, afirma. Para o síncido, nenhum interessado apareceu por causa da crise econômica do país. “O projeto inicial incluía uma reforma mais completa, por exemplo, com a troca das janelas. Mas, no orçamento levantado na época seríamos incapazes de arcar sem patrocínio. Quando percebemos que a situação só piorava e nenhuma verba seria incluída, decidimos fazer uma restauração com as questões mais urgentes”, afirmou Reinaldo.
O síndico explica que se trata de uma manutenção geral da fachada, mantendo a originalidade do prédio. “O projeto engloba lavar o prédio, recolocar pastilhas e ladrilhos hidráulicos e acabar com os pedaços de fachada que caem do edifício. Havia o risco, até mesmo, de queda de pequenos fragmentos em cima de um pedestre”, contou o administrador. As obras começaram neste mês e tiveram como ponto de partida a retirada de partes soltas. O síndico contou que última recuperação havia ocorrido pelo menos 20 anos atrás. A obra atual deve levar de 10 a 12 meses para ser finalizada.
O morador Marcos Neves, de 66 anos, que vive no prédio desde a década de 1960, conta que a restauração era um desejo de todos os condôminos e comemorou o início da obra. “Essa reforma é muito importante. Concordo com a condição de manter detalhes originais, pois o prédio é de BH. Vemos o Edifício Niemeyer em cartões-postais, catálogos, cartões de ônibus... Mas não tivemos nenhuma ajuda. É tudo do nosso bolso, e não vai sair barato não”, disse o morador. Com orgulho, o integrante da terceira família a se mudar para o prédio diz: “É uma obra tão bonita, que temos que preservá-la para a cidade”.
Um tributo às linhas curvas
Oscar Niemeyer (1907-2012) nasceu no Rio de Janeiro, mas foi em Belo Horizonte, especialmente na Pampulha, que fez seus primeiros projetos de repercussão internacional. Entre 1942 e 1944, o então prefeito Juscelino Kubitschek o convidou para projetar o conjunto da Pampulha. Dez anos depois, o arquiteto projetou o famoso Edifício Niemeyer, localizado na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul de BH. As montanhas mineiras foram a inspiração para as curvas do edifício, uma arquitetura considerada avançada para a época. Entrou para a história uma das frases de Niemeyer que resumem os traços de sua obra: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”. O Edifício Niemeyer faz parte do conjunto arquitetônico e paisagístico da Praça da Liberdade, protegido por tombamento pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) desde 1977, e integra o Conjunto da Obra de Oscar Niemeyer, que se encontra com processo aberto para proteção na esfera estadual.