O médico foi preso pela Polícia Civil de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por causa de três casos ocorridos na cidade. De acordo com a delegada responsável pelas investigações, Cristiane de Oliveira, da Delegacia de Mulheres do município, houve também duas vítimas em Belo Horizonte e outras duas em Nova Lima. Os casos teriam ocorrido entre 2008 e 2016.
Segundo Cristiane, o médico se aproveitava da sua condição profissional e da posição ginecológica em que as pacientes ficam durante os exames para cometer os abusos. “Ele fazia exames de toque sem usar luvas, acariciava a região genital das mulheres e apalpava os seios de forma desnecessária ao examiná-las.
Em Betim, o ginecologista atendia desde 2015 no posto de saúde do Bairro Alvorada e num hospital particular. Antes, havia trabalhado nas unidades dos bairros Bueno Franco e Nossa Senhora de Fátima. Na cidade, a primeira vítima registrou ocorrência em 2015. Ela estava grávida e fazia pré-natal no posto. O caso não foi apurado, pois a vítima não compareceu à Delegacia de Mulheres para prestar depoimento. Em junho do ano passado, outra mulher reacendeu a questão, acusando Saulo Andrade de abuso dentro do Hospital da Unimed.
“Ela estava em posição ginecológica para um exame preventivo de papanicolau. De repente, viu o médico se afastando com as calças abaixadas e o pênis para fora. Ela se assustou, perguntando o que aquilo significava, e ele respondeu para ela se acalmar, que não tinha doenças. Como estava com as pernas cobertas pelo pano, ela não viu que houve uma conjunção carnal sem ela esperar”, conta a delegada. “A paciente deixou o local transtornada e veio à delegacia dois dias depois. Foi feito exame de corpo de delito, mas acusou apenas que ela teve relação sexual, sem violência. É o único caso em que houve penetração”, acrescenta Cristiane. Na ocasião, o médico foi afastado do hospital.
Diante desse fato, a delegada retomou as investigações anteriores e convocou as vítimas.
PROCESSO Saulo Andrade de Oliveira foi indiciado pela Polícia Civil e denunciado pelo Ministério Público por violação sexual mediante fraude – quando o suspeito usa de seu ofício para praticar atos libidinosos ou conjunção carnal sem uso de violência ou ameaça. A pena para esse tipo de crime é de dois a seis anos de prisão. Pedido em dezembro do ano passado, o mandado de prisão contra o suspeito só foi expedido no fim de março. Chegou à delegacia no último dia 7 e foi cumprido ontem, depois de várias tentativas da polícia de prendê-lo.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Unimed informou que desde junho de 2016 o médico não atendia clientes da cooperativa. Em janeiro de 2017, ele deixou definitivamente de fazer parte do quadro de cooperados.
A Prefeitura de Betim informou, também por meio de nota, que há um processo administrativo disciplinar aberto contra o médico, em fase de sindicância, desde 2014. “Na época, a prefeitura não possuía órgão específico para a apuração de infrações disciplinares.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) não informou se há denúncias contra o médico, pois os processos tramitam em sigilo. A 1ª secretária do CRM, Cláudia Navarro, explicou que, assim que a entidade toma conhecimento de fatos como o do ginecologista, abre sindicância. Havendo qualquer indício de infração ética, é aberto processo, seguido da fase de instrução e julgamento. O profissional pode ser absolvido ou apenado. As sanções vão de advertência confidencial (só o médico fica sabendo) até a cassação. Ela acrescentou que não há um prazo determinado, pois depende da instrução do processo, do número de testemunhas que precisarão ser ouvidas e de documentos a serem avaliados.
Cláudia orienta que, em caso de dúvidas sobre a conduta médica, o paciente denuncie. As denúncias não podem ser anônimas e devem ser feitas pessoalmente, por escrito, ou por meio de ofício enviado pelos Correios. “Orientamos até os próprios médicos para que atendam sempre em companhia de uma assistente e, no caso de ginecologia, se a paciente puder, ir acompanhada. Na dúvida, denuncie, que o CRM vai investigar.”
A Polícia Civil informou que não há procedimento instaurado em nome do ginecologista em Nova Lima. As vítimas podem ter feito boletim de ocorrência, mas não ter dado continuidade ao procedimento. Em Belo Horizonte, a Delegacia de Mulheres não conseguiu verificar ontem como está o caso.