Defesa do goleiro Bruno diz que vai recorrer da decisão

Com liberdade revogada por decisão do Supremo, atleta se apresenta em Varginha, onde vinha jogando, e volta a ser detido. É sua sexta passagem por unidades prisionais mineiras

João Henrique do Vale
- Foto: Gilmar Garcia Tv/Alterosa

O goleiro Bruno Fernandes das Dores de Souza, de 32 anos, se apresentou espontaneamente à Delegacia Regional de Varginha, na Região Sul de Minas Gerais, e iniciou sua sexta passagem por uma instituição prisional mineira. O atleta voltou para a prisão depois que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) revogou sua soltura, que havia sido definida em liminar. Bruno deixou o hotel onde estava hospedado e chegou de carro com um dos advogados, Fábio Gama, e com os diretores do Boa Esporte, clube com o qual tem contrato. Foi recebido pelo delegado regional de Varginha, Roberto Alves e encaminhado ao presídio local, mas ainda deve ser transferido novamente, desta vez para a penitenciária da vizinha Três Corações. A defesa do jogador deve recorrer da decisão e estuda a possibilidade de requerer progressão de regime para o semiaberto.


A comunicação do Supremo Tribunal Federal (STF) informando sobre a revogação da soltura do atleta chegou ontem de manhã ao Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem, na Grande BH, onde Bruno foi julgado. Depois disso, mandado de prisão foi expedido pelo Tribunal do Júri da cidade e encaminhado à Comarca de Varginha, onde o atleta estava morando e trabalhando depois que foi liberado, em 24 de fevereiro. Após se entregar, o goleiro assinou um termo informando estar ciente do motivo da prisão. Ele passou por exames no Instituto Médico-Legal (IML) e, no meio da tarde, foi encaminhado ao presídio local, no Bairro Padre Vitor.

A Secretaria de Estado de Administração Prisional informou que o goleiro será transferido para a Penitenciária de Três Corações, também no Sul do estado, onde permanecerá por ordem da Justiça.

Lá, o detento ocupará cela individual, com medida de 4,5 por 4,5 metros. O espaço tem cama, pia e vaso sanitário de alvenaria. Os presos recebem quatro refeições diárias – café da manhã, almoço, café da tarde e jantar –, e têm direito a banho de sol, visitas de pessoas cadastradas e podem trabalhar e estudar. Por razões de segurança, não foram informados detalhes sobre a transferência.

O advogado que comanda a defesa de Bruno, Lúcio Adolfo da Silva, reforçou que recorrerá da decisão do Supremo, que considerou equivocada. “Vou entrar com embargo declaratório no STF, pois vi alguns equívocos, contradições, dúvidas, e quero que sejam esclarecidos. Então, vamos para o Pleno (reunião de todos os ministros da corte)”, disse, logo depois da revogação da soltura, o defensor, que também estuda a possibilidade de pedido para que o goleiro tenha autorização para trabalhar.

PROCESSO Na terça-feira, os ministros da Primeira Turma do STF revogaram a liberdade de Bruno por 3 votos a 1, analisando recurso impetrado pela mãe de Eliza contra a soltura do goleiro. Relator do processo, Alexandre de Moraes foi o primeiro a votar contra o habeas corpus. Em seguida foi a vez da ministra Rosa Weber, que acompanhou o voto. O ministro Luiz Fux seguiu a mesma linha. O ministro Marco Aurélio, que havia concedido a liminar para liberação do goleiro, votou contra a revogação da soltura. Na mesma data, o goleiro chegou a se entregar na Delegacia Regional de Varginha, acompanhado do diretor do Boa Esportes, Rone Moraes. Mas, como o mandado de prisão não havia sido expedido, o goleiro assinou um termo comprometendo-se a se entregar logo que o documento chegasse a Varginha.

Em 24 de fevereiro, o ministro Marco Aurélio Mello concedeu liminar ao goleiro em pedido de habeas corpus, dando a ele o direito de aguardar em liberdade o julgamento de um recurso contra sua condenação. Bruno ficou preso por seis anos e sete meses, desde julho de 2010, inicialmente por medida cautelar e depois preventiva, após ser apontado como mandante do sequestro, cárcere privado e morte de Eliza Samudio, em junho daquele ano.

EM CAMPO Desde que retornou ao futebol, Bruno disputou cinco partidas com a camisa do Boa Esporte, todas pelo hexagonal final do Módulo II do Campeonato Mineiro, sofrendo quatro gols.
O goleiro tem duas vitórias, dois empates e uma derrota à frente da meta. Sua estreia ocorreu em 8 de abril, contra o Uberaba, no Melão, em Varginha. Em relação ao contrato com o time, o documento tem uma cláusula de rescisão automática em caso de volta à cadeia. “Há uma cláusula que dá ao clube o direito de rescindir o contrato por incapacidade dele (Bruno) de jogar. Ele perde o vínculo com a equipe, para de receber vencimentos e direitos trabalhistas assim que voltar à cadeia”, disse Lúcio Adolfo.

 

Os principais lances

» 8 de março de 2013
Exatamente 969 dias após a primeira notícia sobre o desaparecimento de Eliza Samudio, com quem o goleiro teve um filho, Bruno é condenado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, além de sequestro e cárcere privado. Com base na decisão de sete jurados no Fórum de Contagem, na Grande BH, a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues o sentencia a 22 anos e três meses de prisão (17 anos e seis meses em regime fechado)

» 28 de fevereiro de 2014
Bruno assina contrato com o Montes Claros Futebol Clube, da Segunda Divisão mineira. Possível volta ao futebol é estratégia da defesa para tentar libertá-lo

» 10 de junho de 2014
A defesa de Bruno consegue transferir o goleiro da Penitenciária Nelson Hungria para a Penitenciária Francisco Sá, no Norte de Minas Gerais

» 26 de novembro de 2014
O retorno de Bruno aos gramados é barrado. A defesa solicita, então, que ele retorne à Região Metropolitana de BH, devido à proximidade com a família. Ele retorna à Nelson Hungria

» 9 de setembro de 2015
Bruno é transferido para a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Santa Luzia, também na Grande BH. Lá, se casa com a atual mulher, Ingrid Calheiros, além de fazer cursos de pedreiro e trabalhar como segurança

» 23 de fevereiro de 2017
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), concede habeas corpus permitindo que Bruno recorra de sua condenação em liberdade

» 24 de fevereiro
Bruno sai da prisão

» 14 de março
O atleta se apresenta como goleiro do Boa Esportes, de Varginha, Sul de Minas

» 16 de março
Goleiro assiste das arquibancadas à primeira partida como jogador do Boa

» 8 de abril
Bruno estreia com a camisa do Boa Esportes.

Empate com o Uberaba por 1 a 1

» 20 de abril
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminha parecer ao STF pedindo a revogação da decisão que libertou o goleiro

» 22 de abril
Bruno é titular do Boa contra o Nacional de Muriaé. A partida, que seria a última antes de ter a prisão revogada, termina em 1 a 0 para equipe de Varginha

» 25 de abril
Primeira Turma do STF revoga soltura e determina retorno de Bruno à prisão. Goleiro se apresenta à Polícia Civil em Varginha, mas como mandado de prisão não havia sido expedido, o goleiro assina um termo comprometendo-se a se entregar

» 27 de abril
O mandado de prisão é expedido pelo Tribunal do Júri de Contagem e encaminhado para a Comarca de Varginha. Bruno se entrega e é encaminhado para o presídio

 

 

o atleta fora dos campos
As unidades por onde o goleiro passou desde que foi detido pelo desaparecimento de Eliza Samudio

 

» Presídio de Varginha (Varginha, Sul de Minas)
Entrada: 27/4/17

» APAC de Santa Luzia (Santa Luzia, Grande BH)
Entrada: 9/9/15
Saída: 24/2/17

» Complexo Penitenciário Nelson Hungria (Contagem, Grande BH)
Entrada: 25/11/14
Saída: 9/9/15

» Penitenciária de Francisco Sá (Francisco Sá, Norte de Minas)
Entrada: 20/6/14
Saída: 25/11/14

» Complexo Penitenciário Nelson Hungria (Contagem, Grande BH)
Entrada: 9/7/10
Saída: 20/6/14

» Polícia Civil – Divisão Especializada de Investigação de Crimes contra a Vida (BH)
Entrada: 9/7/10
Saída: 9/7/10

 

Enquanto isso...

...Mulher do jogador se irrita com imprensa

A mulher do goleiro Bruno, Ingrid Calheiros, se irritou com a presença da imprensa na porta do hotel onde ficam hospedados os jogadores do Boa Esporte, na manhã de ontem, em Varginha, no Sul de Minas. Abordada por jornalistas no local, Ingrid disse aos repórteres para “procurar o que fazer”. O episódio ocorreu antes de Bruno se apresentar à Delegacia Regional de Varginha, por volta das 14h. Ao ser perguntada por Bruno, Ingrid respondeu com ironia: “Ele está ótimo. Você acha que ele está ótimo, né?”.

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