Nas próximas semanas, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSa) deve concluir um estudo iniciado no princípio de abril para identificar profissionais dentro de sua própria estrutura com habilidades para desenvolver as práticas.
“Os tratamentos usam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, muitos deles milenares, e com resultados muito positivos, já percebidos nos primeiros meses”, afirma a coordenadora do Núcleo de Apoio à Saúde da Família da SMSa, Janete Coimbra. Talvez por isso, a artista plástica Rosiane Oliveira, de 59 anos, se mantenha tão frequente nas aulas de lian gong, driblando bem o peso que o trabalho deixa sobre o corpo. “Quando comecei, em setembro do ano passado, meus ombros e joelhos viviam tensionados. Eu tinha dor nas articulações e, especialmente, nas mãos, por causa do tipo de atividade que executo. Já em janeiro deste ano eu não tinha mais nenhum desses sintomas”, conta.
A expansão das práticas na Rede SUS-BH é vista pela artista plástica como um grande avanço. “Assim como o lian gong foi uma bênção em minha vida, penso que outras pessoas podem se beneficiar dessas práticas tão importantes para tratar a saúde de um outro ponto de vista, diferente do convencional, que é a relação paciente/médico/hospital e medicamentos”, avalia.
Foi também por meio da ginástica terapêutica que a aposentada Vera Lúcia Barbosa, de 65, disse ter se curado de uma depressão. “Ampliei minha forma de enxergar a doença. Comecei a me abrir para outros estímulos, como atividades coletivas e cursos, e fui, progressivamente, me curando”, conta. Por causa dessa conquista e diante de outros benefícios para o corpo, Vera Lúcia se mantém frequente nas aulas de lian gong há mais de uma década, encontrando qualidade de vida, mesmo com o avanço da idade. “Quando a gente envelhece, a tendência é perder a flexibilidade do corpo e ter limitações motoras.
CONSELHO MÉDICO Com apenas dois meses matriculada no lian gong, a médica Lu Yuchan, de 63, já é capaz de recomendar a terapia a outras pessoas. “É incrível como ela gera saúde e bem-estar. Eu tinha limitações e dores no pescoço, que desapareceram no primeiro mês, sem uso de nenhum medicamento”, relata. Sobre a introdução de mais três modalidades na rede SUS de BH, a médica diz que toda a população só tem motivos a comemorar: “Isso é promoção de saúde. Precisamos parar de entender a saúde como tratamento médico, remédio ou hospital. Além do mais, o lian gong e as demais práticas integrativas estão disponíveis para toda a população. Acho que falta divulgação, porque todo mundo deveria fazer”, recomenda a médica. Ela conta, inclusive, que descobriu o lian gong depois de ter visto uma reportagem no Estado de Minas, em dezembro do ano passado. “Foi depois disso que comecei a fazer.”
Segundo a coordenadora do Núcleo de Apoio à Saúde da Família da secretaria, Janete Coimbra, são muitos os relatos de pacientes e também as constatações feitas em acompanhamentos de prontuários que evidenciam os benefícios dessas práticas. “Por isso, essa ampliação é tão bem-vinda.
PONTO CRÍTICO
Práticas alternativas são eficazes para substituir especialidades médicas convencionais?
Vânia Elizabeth Simões Duarte,
referência técnica em lian gong da Secretaria Municipal de Saúde
Em termos
A inclusão de práticas complementares ao SUS contribui para a promoção da saúde. Isso porque os praticantes passam a ter a consciência do autocuidado e se responsabilizam mais pela sua saúde, deixando de atribuir esse resultado apenas aos profissionais. Outro fator importante, é que essas práticas avaliam a pessoa de um ponto de vista integral e tratam corpo, mente e a relação dela com o meio ambiente. Pesquisas feitas com usuários do SUS já atendidos por essas práticas mostram resultados muito positivos. No caso do lian gong, por exemplo, 70% dos praticantes que faziam uso rotineiro de medicamentos relataram redução, em um ano de prática ou até em meses. Também confirmam melhoria da qualidade do sono, diminuição de dores no corpo e ganhos no processo de socialização, especialmente no caso de idosos.
Fábio Guerra,
presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais
Não
São práticas, assim como o próprio nome diz, complementares. São possibilidades de tratamento que podem ser adicionadas ao tratamento de saúde dos pacientes e, por esse ponto de vista, essa nova oferta no Sistema Único de Saúde (SUS) é muito válida. Amplia, inclusive, o acesso das pessoas aos serviços de saúde. No entanto, é importante deixar claro que, de forma alguma, elas substituem o atendimento ou a assistência médica. Primeiro porque elas não são especialidades médicas, nem são realizadas por profissionais médicos. Sendo complementares, não vejo impedimento para que elas sejam usadas, desde que mantida a oferta, inclusive do ponto de vista financeiro, sem competir com as práticas já reconhecidas do ponto de vista científico, como a assistência e o uso de medicamentos.