'Passava a mão na gente', diz modelo que acusa de abuso dono de agência

Adolescentes atraídas a Alfenas por oferta de carreiras de modelo e atriz denunciam rotina de abusos sexuais e promessas descumpridas. Famílias pagavam R$ 500 por mês

João Henrique do Vale

O sonho da carreira de modelo profissional ou atriz levou garotas de diferentes cidades brasileiras a uma suposta agência em Alfenas, no Sul de Minas, mas o que era esperança se transformou em caso de polícia.

As meninas, entre 13 e 17 anos, alegam que sofriam abusos sexuais do responsável pelo imóvel, de 31 anos. “Ele ia ao quarto, entrava quando queria e deitava na cama. Passava a mão na gente e queria que a gente retribuísse”, disse uma adolescente do interior de São Paulo em uma entrevista à EPTV, empresa filiada à Rede Globo.

“Ele falou que eu faria vários cursos, que ia ter direito a fono (fonoaudióloga), a nutricionista e tudo mais. E que no máximo em um mês eu já estaria trabalhando”, relatou uma garota do Paraná sobre como foi convencida a ir para a agência. A realidade foi diferente, disse, sustentando não ter tido acesso aos serviços e que as meninas tinham que manter relações sexuais com o agenciador. As adolescentes informaram que eram contatas pelo agenciado por meio de redes sociais, pelas quais recebiam promessas de papéis em novelas e trabalhos de modelo.

No local, afirmam que não tinham alimentação adequada ou acesso a qualquer das promessas feitas pelo homem ao agenciá-las. As famílias pagavam aproximadamente R$ 500 para mantê-las no lugar.
Ao menos seis adolescentes já foram identificadas. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso.

O caso foi descoberto pelo Conselho Tutelar que, após denúncia anônima, monitorava o imóvel desde fevereiro. “Já tínhamos sido avisados de que no local havia um entra e sai de menores e suspeita de tráfico de drogas. Como esse crime sai de nossa alçada, entramos em contato com a polícia, mas nada foi feito”, comentou o conselheiro tutelar Paulo Silvério.

No último fim de semana, nova denúncia levou o conselheiro até a casa. Desta vez, os supostos crimes eram abuso sexual e cárcere privado. “Chegando, me deparei com aproximadamente 15 meninas, de 10 a 17 anos. Encontrei o suposto agenciador na porta e perguntei por duas garotas cujo nome havia sido passado pelo denunciante. Mas, ao conversar com elas, vi que estavam com medo de falar algo”, afirmou.

O conselheiro acionou então o Ministério Público e a Polícia Civil. No dia seguinte, retornou bem cedo à casa com duas agentes do Conselho Tutelar. Como o dono não estava, a equipe conseguiu conversar com sete garotas, que admitiram os abusos. “Disseram que não fizeram nenhum trabalho de modelo. Também comentaram que eram obrigadas a manter relações sexuais com o agenciador, e que, inclusive, tinham uma espécie de batismo”, disse. Uma adolescente de 13 anos relatou ao conselho que foi estuprada.
“Ela disse que chegou a ter a roupa rasgada na cama. Em outra tentativa, conseguiu se desvencilhar, correr e se trancar no banheiro”, acrescentou.

Outro atrativo usado pelo agenciador era o imóvel onde vivia. Segundo o conselheiro tutelar, o local era usado, anteriormente, como casa de festas. Por isso, tem piscinas e muros altos. Outra coisa chama a atenção nas dependências. “O quarto dele era igual a de motel. Tinha espelhos no teto, frigobar, entre outras coisas”, contou Silvério.

A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso e apura se há novas vítimas. Os pais das menores, de vários estados, já foram contatados, mas a maioria das famílias não tem condições de ir até a cidade do Sul de Minas.

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