Denúncia de abusos em Alfenas expõe onda de crimes contra adolescentes na cidade

Dados do Conselho Tutelar mostram que há uma média de 20 crimes registrados contra meninas, por mês, na cidade

Gustavo Werneck

Paulo, Silvério, presidente do Conselho Tutelar de Alfenas: "A situação está difícil e os abusadores estão nas ruas". - Foto: Jair Amaral/Em/D.A Press


Alfenas –
A identificação de um homem suspeito de abuso sexual de adolescentes que desejavam seguir carreiras de atriz e modelo expõe apenas uma pequena parte desse tipo de situação em Alfenas, na Região Sul de Minas. De acordo com o Conselho Tutelar do município, há registro de, em média, 20 denúncias por mês envolvendo meninas na cidade. “A situação está difícil e os abusadores estão nas ruas”, alertou ontem o presidente da entidade, Paulo Silvério.

Ele disse que, na segunda-feira, vai à Câmara Municipal para falar aos vereadores e a pessoas da comunidade sobre a situação, que culminou, no sábado, com a revelação de que sete jovens – duas de Goiás e outras do Sul de Minas, São Paulo e Paraná – tinham sido vítimas de abuso, pressão psicológica e até estupro.

Fábio Fernandes dos Santos, acusado de assediar meninas que hospedava em um casarão do Bairro Jardim Alvorada, a três quilômetros do Centro, sob promessa de contrato de trabalho para desfiles ou novelas de tevê, está desaparecido. Na manhã de ontem, a equipe do Estado de Minas esteve na casa da mãe dele, no Bairro Pinheirinhos, mas ela não quis dar entrevistas. A porta foi atendida por uma jovem que se identificou como irmã de Fábio e disse não saber do paradeiro dele, mas negou que esteja foragido.


Numa avenida próxima, outra mulher que se disse parente de Fábio também informou desconhecer o rumo tomado pelo agente de modelos. “Ele saiu daqui há algum tempo. Morou em São Paulo, no Rio de Janeiro e depois voltou para cá.

Se fez alguma coisa errada, certamente terá que pagar à Justiça”, observou.


‘MUITO ESTRANHO’
No Bairro Jardim Alvorada, um homem informou que havia visto Fábio dois dias antes, na quarta-feira, pegando um ônibus. Ao lado, um rapaz foi logo dizendo que Fábio não “merece defesa” pelos atos cometidos, que, conforme denúncia do Conselho Tutelar e apuração da Polícia Civil, inclui o estupro de uma menina de 13 anos.


No Bairro Pinheiros, uma mulher que pediu para não ser identificada contou que chegou a ir à agência mantida pelo investigado, que funcionava no casarão da Rua Onofre Gomes Pereira, no Bairro Jardim Alvorada. Em tom confidencial, explicou que, há um mês, esteve no local com a nora, a sobrinha da nora, de 15 anos, que queria ser modelo, e também com uma esteticista. “Queria conhecer o ambiente, e achei lá tudo muito estranho, principalmente pela localização de uma agência de modelos neste ‘fundão’. Só estava aquele homem, que eu nunca tinha visto, e umas meninas em torno de uma mesa. Nada parecia um escritório”, revelou.


Intrigada com o ambiente e preocupada com a situação da adolescente, a mulher, que estuda direito, perguntou se o lugar era uma agência, um escritório ou se havia contrato para os pais das garotas assinarem. Como as respostas eram negativas, ela perguntou pelo CNPJ, “que ele disse que tinha, mas não mostrou”. Finalmente, pediu um cartão de visita, mas o homem respondeu que “tinha acabado”. Não satisfeita, a mulher perguntou se as meninas recebiam algum dinheiro, se os pais davam autorização, mas acabou sem muitas informações. “Achei melhor, então, comentar o assunto com um amigo meu da polícia”, ressaltou.


No Bairro Jardim Alvorada, a mãe de uma menina que também queria ser modelo e que chegou a ir algumas vezes ao casarão disse que não suporta mais a situação. “Isso mexeu com a cabeça da minha filha, vou levá-la ao psicólogo.” Para ela, Fábio, o suspeito de ter praticado o assédio e abuso sexual contra as adolescentes, nunca demonstrou esse tipo de comportamento.

E destacou, chamando a casa das “meninas de Goiás”. “Elas entravam e saíam a hora que queriam. Iam para a escola, para a academia. Todo mundo tinha o controle (remoto) do portão”, disse.


Quem passa na frente do casarão de muros altos e com três portões observa que o silêncio está imperando ali. “Só ouvi falar, não sei de nada não”, comenta um trabalhador apressado. Já uma mulher prefere dizer que não assiste televisão nem lê jornais, por isso não sabe de nada, enquanto uma senhora diz que mudou apenas há dois meses para o bairro. “Então, moço, não sei de nada.”

Apurações Ontem, a delegada Renata Fernanda Resende informou que diligências e oitivas estão sendo feitas para apurar o caso. Ela acrescentou que há muitas vítimas envolvidas e que cada caso está sendo avaliado com atenção. Ainda de acordo com Renata, resultados de laudos periciais já foram anexados ao inquérito policial, mas o conteúdo não será divulgado para não atrapalhar as investigações.

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