Todos os caminhos levam a Roma – ainda mais se pavimentados com fé, chocolate, determinação, açúcar, confiança, perseverança e outros ingredientes essenciais que brotam dos sentimentos e do trabalho. Com essa certeza, o estudante de filosofia Victor Emmanuel Araújo de Oliveira Cunha, de 23 anos, morador do Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de Belo Horizonte, está fazendo brownies, o bolinho marrom, doce e recheado, para vender e pagar a passagem que o levará à Itália, em setembro, e a um encontro com o papa Francisco, no Vaticano. “Minha meta é fazer 2 mil. Um amigo comprou o bilhete aéreo, parcelado, no cartão de crédito dele e pago por mês”, conta o jovem, que divide um apartamento com cinco pessoas, trabalha como garçom e estuda na PUC Minas.
Natural de Teresina (PI), filho único e residente em BH há três anos, Victor faz parte da comunidade católica Shalom, fundada em 1980, durante a primeira viagem ao Brasil do papa São João Paulo II (1920-2005), que também esteve em Fortaleza (CE). Naquele ano, quando Victor nem era nascido, um rapaz chamado Moisés esteve na presença do sumo pontífice e, como presente, lhe ofereceu a própria vida, o que significava fazer um trabalho de evangelização, trabalhar pelos pobres e com os jovens, entre outras missões hoje espalhadas por mais de 30 países. “Nascia, assim, aos pés do papa, em Fortaleza, a comunidade Shalom, da qual frequento os grupos de oração em BH.”
“Exatamente dois anos depois, Moisés, que fez voto de pobreza e é celibatário, abriu uma lanchonete, fazendo ali um trabalho de propagação da fé. Enfim, pegou as pessoas pelo paladar”, explica com bom humor o rapaz que se declara atualmente solteiro e chegou a BH, aos 18 anos, para morar num conventos dos carmelitas descalços, no Bairro João Pinheiro (Região Noroeste). O ditado “quem tem boca vai a Roma” ficou sacramentado na última viagem de Victor a Teresina, em dezembro, quando viu um casal fazendo os brownies, gostou do sabor e da ideia e decidiu seguir o exemplo.
PEREGRINAÇÃO Victor irá sozinho a Roma, onde vai se encontrar com peregrinos dos países onde a Shalom está presente para o encontro com o chefe da Igreja Católica, em comemoração aos 35 anos de criação da comunidade. “O dinheiro é para pagar as passagens e a hospedagem”, diz o jovem, que também visitará Assis, terra de São Francisco. “Há uns dois anos, estudei seis meses de italiano, sem saber que um dia viajaria para Roma. Curioso é que me chamo Victor Emmanuel por causa do rei italiano (1820-1878), que hoje é nome da avenida, em Roma, que leva ao Vaticano, e, por outro lado, aquele que diminuiu o tamanho do estado pontifício”.
Diante do retrato do líder dos católicos e de um ícone de São José, o estudante só tem palavras de admiração para o ocupante do trono de São Pedro. “Ele nos ensina que não é possível amar a Deus, que não vemos, se não amarmos o próximo, que vemos”. E, retirando uma fornada do fogão, o jovem diz que, quem sabe, consegue levar um brownie para Francisco. “A Igreja sempre se renova. No caso do papa, ele entende as pessoas, embora muita gente não consiga acompanhá-lo”.
CRENÇA Na cozinha da república de estudantes e outros profissionais, Victor contou que aprendeu rápido a fazer os bolinhos, que são vendidos na faculdade e por uma amiga, na empresa onde trabalha. “Comecei a fazer em março e já consegui vender 700 unidades, ou seja, quase a metade do que preciso. Acho que vai dar certo. Se não, creio na providência de Deus e na proteção de São José”, ressalta o estudante. Com o semblante tranquilo e olhos iluminados quando fala de sua crença em Deus, Victor conta que ficou desempregado muito tempo e rezou para São José, a fim de conseguir um trabalho.
“Fiz o pedido a São José no dia dele, 19 de março, e consegui o emprego de garçom numa hamburgueria e cervejaria, aqui perto de casa, em 1º de maio, dia de São José Operário”, conta com alegria. Quando o repórter nota que o boné que usa veio do Vaticano, o estudante ri da coincidência e explica que foi presente de um amigo. E quando não está fazendo os brownies, trabalhando e estudando?, pergunta o repórter. “Vou todos os dias à missa, geralmente no câmpus da PUC no Coração Eucarístico, rezo o terço e participo do grupo de orações na comunidade Shalom.” A comunidade, que fica na Avenida Olegário Maciel, 1.195, no Bairro de Lourdes (Região Centro-Sul de BH), oferece aconselhamento espiritual e orações. Quem quiser provar os brownies e ajudar o rapaz, pode enviar mensagem para o e-mail victoremmanuelcunha@gmail.com.
memória
VISITA PAPAL
O papa São João Paulo II (1920-2005) passou por 129 países durante o seu pontificado e foi o primeiro líder dos católicos a visitar o Brasil, levando milhões de pessoas a missas campais. Ele chegou a Brasília (DF) em 30 de junho de 1980, onde fez o célebre gesto de se ajoelhar e beijar o chão. Até 11 de julho, quando embarcou de volta ao Vaticano, o sumo pontífice passou por Belo Horizonte, onde celebrou missa na praça que se tornou conhecida como Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Aparecida (SP), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Manaus (AM), Recife (PE), Salvador (BA), Belém (PA), Teresina (PI) e Fortaleza (CE). A viagem ao Brasil foi a sétima da chamada “peregrinação internacional” de seu papado.