Alunos de escola da Pampulha protestam contra estupros e falta de segurança

Após denúncias de violência sexual nas imediações de colégio estadual, os jovens se mobilizaram para cobrar mais policiamento e respeito às mulheres

Estado de Minas
- Foto: Paulo Filgueiras: EM/DA Press
Centenas de alunos da Escola Estadual Madre Carmelita, no Bairro Bandeirantes, Região da Pampulha, em Belo Horizonte, saíram às ruas na manhã desta quinta-feira para fazer barulho contra a onda de estupros e assaltos que ocorrem na região. Com balões, apitos e cartazes, os jovens - em sua maioria mulheres - chamam a atenção de quem passa pela Avenida Antônio Francisco Lisboa, na Região da Pampulha. 

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A manifestação, que conta com a adesão de aproximadamente 350 pessoas, foi organizada pelas alunas do 3º ano do ensino médio que convocaram o restante da escola. Elas gritam "mexeu com uma, mexeu com todas". A estudante Beatriz Rodrigues, de 16 anos, conta que a sensação é de insegurança. "Estamos com muito medo de ir embora pra casa, de ficar no ponto de ônibus. Aqui nunca tem policiamento e é uma área que não é muito movimentada. Nós não vamos deixar ficar assim. Nós cuidamos de nós mesmos, já que ninguém cuida", afirma.

Luana Cunha, de 17 anos, conta que a onda de violência acontece até mesmo dentro da escola.
"Acontecem roubos até mesmo dentro do colégio. Depois que tiraram os vigias da porta da escola, o número aumentou", afirma. Ela conta que uma das vítimas de estupro é amiga dela. "Está tentando seguir a vida, na medida do possível. Está com psicológico muito abalado", relata.

Dentre as reivindicações, os jovens solicitam que agentes da Guarda Municipal permaneçam na portaria da escola, cobram a instalação de um ponto de ônibus das linhas 3302A, 3302B, 3302C, S51 e 5106 e a limpeza dos lotes vagos próximos ao colégio. Os alunos pleiteiam, ainda, um ponto de apoio fixo da PM em uma praça localizada há um quarteirão da escola, além de melhorias na iluminação pública no local e poda nas árvores da região.

- Foto: Paulo Filgueiras: EM/DA Press
O professor de filosofia da escola, Ronaldo Pereira, destacou que os problemas de insegurança na região são antigos. "Esses casos chegaram ao ápice e ao máximo da violência agora. Não é um problema de hoje e essa repercussão só é possível devido aos casos de estupro com uma aluna da escola e moradoras da região. Isso foi a gota d'água", afirmou. 

Ainda segundo o educador, a manifestação é reflexo dos processos educativos cumpridos na escola. "O mais interessante desse movimento foi que ele surgiu de maneira espontânea. É resultado do processo educativo que temos na escola. Aqui, hoje, estamos presenciando uma aula de cidadania verdadeira com um movimento liderados pelos alunos da escola". 

A jovem Maria Alice, de 17 anos, disse que o movimento foi organizado pelas alunas do terceiro ano e que não obteve  apoio da direção da escola. "Nós ficamos sabendo que ela havia sido estuprada há dois meses por causa da reportagem que saiu em um jornal.
A direção da escola não se posicionou em momento nenhum então  
nós decidimos nos mobilizar e organizar. Os únicos que nos apoiaram foram os professores que, além de comparecer, cancelaram o simulado que teríamos hoje", ressaltou. 

- Foto: Paulo Filgueiras: EM/DA Press Em defesa da colega de escola violentada, a jovem conclui que é importante a conscientização de que a culpa é sempre do estuprador. "É importante que a sociedade e, inclusive a vítima, tenham consciência de que a culpa não é dela. Se eu pudesse falar algo pra ela, eu diria que a culpa nunca foi dela, a culpa é dele", relatou a jovem que confessou temer outros casos de violência na região. 

O diretor da escola, Adalgízio Ivan de Alvarenga, de 56 anos, rechaçou que a escola deu todo o suporte aos alunos para que a manifestação acontecesse sem danos à grade letiva dos alunos. "A escola está sim junto com os alunos, as provas de hoje e amanha foram transferidas para a próxima semana. Nós, inclusive, em parceria com a Polícia Militar e associação de bairro, vamos promover ações de conscientização e alertas aos estudantes". 

A direção da escola, no entanto, disse que foi orientada pela Polícia Civil a não comentar sobre o caso de estupro com uma aluna, para que as investigações não possam ser prejudicadas.  

De acordo com o Tenente Rafael Magalhães, comandante do seto Bandeirantes pela Polícia Militar, os alunos precisam ser conscientizados para também combaterem o crime. "Precisamos ressaltar a importância da conscientização social e da auto prevenção e cuidado dos alunos para que o crime seja afastado. Nós temos intensificado a segurança e estamos buscando evitar todo o crime na região", concluiu. 



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