O Conselho Regional de Medicina em Minas Gerais (CRM-MG) e a Santa Casa de Misericórdia de Lagoa Santa abriram sindicância para esclarecer as circunstâncias e a suposta participação do filho de uma médica nos procedimentos feitos por ela dentro do hospital da cidade localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ontem, a unidade demitiu a cirurgiã geral da unidade por indícios de que ela estaria levando o filho menor de idade para a auxiliar nas cirurgias.
A médica registrava com imagens, que publicava em sua conta numa rede social, os momentos em que o garoto estava junto com ela em ambiente muito parecido com um bloco cirúrgico. Pelo menos três fotos foram postadas, sendo que em uma delas o menino aparece com uma roupa da unidade de saúde de Lagoa Santa.
Nas três imagens, ele está com as vestimentas que médicos usam durante uma cirurgia. Em duas, há indícios de que ele realmente esteja ajudando a mãe durante cirurgias em andamento. Em uma foto específica, a médica fez uma brincadeira e escreveu uma legenda com o nome do filho sucedido da palavra doutor, abreviada pela sigla “Dr.”.
“O ambiente hospitalar exige cuidados. No bloco, espera-se, por uma questão de razoabilidade, a presença da equipe médica e do paciente. Será preciso apurar para entendermos os fatos que ocorreram e se houve infração por parte da médica ou de outros profissionais”, afirma. Fábio Guerra explica ainda que o paciente tem autonomia. Sendo assim, qualquer procedimento deve ser previamente acordado entre médico e paciente.
“No caso do parto, a família entra porque há esse acordo prévio entre a gestante e a equipe que a assiste. Mas, isso também deve ser feito respeitando-se as normas do regimento interno do hospital, que garantirão a qualidade da assistência e uma série de outras questões”, exemplifica. “Tem que haver respeito às definições administrativas, o acordo feito anteriormente entre as partes, respeitar a autonomia do paciente e o sigilo do procedimento. Há uma série de questões importantes no exercício da medicina e vamos verificar se em alguma delas feriu-se o código de ética”, acrescenta.
O presidente do conselho diz que nenhum posicionamento pode ser adiantado, mas ressalta que uma situação extrema “não é aceitável”, se referindo à suposta ajuda do filho da médica de Lagoa Santa nas intervenções cirúrgicas. A assessoria do hospital informou que a diretoria instaurou sindicância em caráter de emergência, dada a gravidade do caso e, por isso, as respostas serão dadas no menor tempo possível.
Por meio de nota, o diretor-técnico da Santa Casa, Guilherme Ribeiro Camara, informou que o procedimento excepcional “tem a finalidade de apurar a divulgação dos fatos ocorridos e dos possíveis responsáveis, em virtude da divulgação de fotos nas redes sociais que sugerem a conduta irregular do ato médico na instituição”. “Representantes do hospital e do Instituto Labore (gestora da Santa Casa) já foram designados para constituir a comissão de sindicância, que deverá apresentar o relatório conclusivo aos órgãos responsáveis para as providências cabíveis”, diz o texto.
A reportagem entrou em contato com a médica em questão, que negou que tenha contado com o apoio do filho para fazer qualquer cirurgia e disse também não ter recebido nenhum comunicado de demissão. Quando questionada sobre a autenticidade das imagens publicadas no Instagram, ela disse que não vai falar nada sobre o caso e que tudo está sendo tratado por um advogado. Porém, não forneceu o contato da pessoa que a representa sobre o assunto.
REDES SOCIAIS A postagem de imagens referentes ao trabalho de um médico é uma questão que tem chamado a atenção do CRM em Minas Gerais. De acordo com Fábio Guerra, algumas discussões têm sido feitas na entidade para tratar o assunto. “Estamos muito preocupados com o uso das mídias sociais para veiculação de algumas questões que entendemos serem restritas à assistência, como o procedimento, o paciente e informações sobre atendimentos. Há resoluções específicas do Conselho Federal e Regional que orientam médicos sobre a forma como isso pode ser feito e, posso garantir, é muito restrito”, relata.