Na ocasião do eclipse total do sol de 20 de maio de 1947, cientistas fizeram observações que tinham como objetivo a comprovação da Teoria da Relatividade, do físico alemão Albert Einstein. Os testes com tal finalidade foram desenvolvidos por Georges van Biesbroeck (1880-1974), astrônomo belga radicado nos Estados Unidos (Observatório de Yerkes), um dos principais nomes da missão científica americana que esteve em Bocaiuva.
Já tinham sido feitas as primeiras experiências sobre a teoria de Einstein durante o eclipse total do sol de 1919. Mas a comunidade científica optou por fazer novos testes no eclipse solar de 1947, com a missão sendo entregue ao renomado Biesbroeck, que, ao aceitá-la, construiu no acampamento de Extrema um telescópio de seis metros de altura. Ele retornou ao local três depois do eclipse, para dar continuidade aos estudos.
Em reportagem especial sobre as observações do município norte mineiro, publicada em setembro de 1947, a Revista National Geographic destaca que “um dos projetos mais importantes” da missão americana enviada ao Brasil era “checar a Teoria da Relatividade”. E lembrou que Einstein previra “que um dos testes de sua Teoria da Relatividade seria que raios de luz de estrelas distantes se curvariam ligeiramente quando passassem próximo do Sol. Ele disse que essa curvatura seria equivalente a um ângulo muito pequeno, numa fração mínima, de um grau de circunferência.
Ainda conforme a publicação americana, Van Biesbroeck mediu a curvatura da luz fazendo duas fotos do mesmo grupo de estrelas, uma durante o eclipse e outra fora dele. Na fotografia durante o eclipse, “as estrelas apareciam em volta do sol Porque a sua luz se curvava e suas imagens estão levemente deslocadas de onde elas realmente estão localizadas no céu. Na segunda foto, tirada à noite, quando o sol não estava (no céu), não havia curvatura da luz e as estrelas apareciam nas suas reais posições”.
A National Geographic enfatizava que, “medindo a diferença da posição das estrelas nas duas fotografias, o doutor Van Biesbroeck pode determinar quanto a luz se curvou ao passar pelo Sol”, conforme as previsões de Einstein.
Embora várias publicações, como a Revista O Cruzeiro, tenham divulgado que, ao retornar a Bocaiuva dois meses depois do eclipse total do Sol, Van Biesbroeck comprovou a Teoria da Relatividade, após o trabalho em Minas o renomado astrônomo continuou as observações para provar a veracidade dos pressupostos de Einstein. Na biografia de Biesbroeck consta que em 1952 ele viajou ao Sudão, na África, para fazer observações durante um eclipse solar visível do continente africano, “para confirmar a Teoria da Relatividade”.
Sobre a questão, o professor Roberto Dias da Costa, do Instituto de Astronomia e Geofísica Aplicada e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), salienta, que, “até a metade do século 20 ainda havia muito interesse em testar a validade da Teoria da Relatividade Geral, em particular fazer medidas do desvio gravitacional da luz, que pode ser constatado durante os eclipses solares totais. As medidas feitas em Bocaiuva serviram, sim como testes da Relatividade Geral”.
O astrônomo da USP lembra que os eclipses solares totais sempre despertaram interesse científico, pois são as oportunidades únicas para se estudar a coroa solar, sob luminosidade tênue. “Fora dos eclipses, o brilho intenso ofusca totalmente a coroa”, ressalta.
Falta de apoio aos brasileiros
Enquanto os Estados Unidos investiram milhões de dólares em um projeto de observação do eclipse total de 1947 no Brasil, os astrônomos brasileiros praticamente não fizeram estudos do fenômeno, devido à falta de apoio oficial na época. A informação é do professor Renato Las Casas, coordenador do grupo de Astronomia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Las Casas afirma que, em 1947, astrônomos do Observatório de Yerkes (EUA) fizeram um projeto para a observação do então chamado “Efeito Einstein” e tiveram “apoio total do governo norte- americano”. “O ‘Efeito Einstein’ para muitos já havia sido confirmado com as observações do eclipse de 1919, também realizadas no Brasil (em Sobral, no Ceará), mas ainda havia algumas dúvidas”, conta.
Ele salienta que a equipe do Observatório de Yerkes contou com grande aparato e se fixou em Bocaiuva, onde “o céu se abriu na hora do eclipse, o que permitiu a realização de ótimas medidas, que ajudaram a confirmar o ‘Efeito Einstein’ (a Teoria da Relatividade). Outras missões estrangeiras, em outros locais do país, não tiveram a mesma sorte. Em Araxá, por exemplo, onde se fixaram missões finlandesa e russa, a meteorologia não permitiu que uma única observação fosse feita”, afirmou.
“No Brasil não tivemos esse apoio. A verba do Observatório Nacional, na época a única instituição do país capaz de fazer observações relevantes desse fenômeno, era irrisória e insuficiente ate mesmo para mandar uma pequena equipe para algum local de observação”, lamenta o professor da UFMG.
A GRANDE SOMBRA Os estudos sobre o eclipse total do sol de maio de 1947 foram destacados em reportagem especial da revista americana National Geografic, que também integrou a expedição dos Estados Unidos enviada a Bocaiuva para as observações do fenômeno. Em setembro de 1947, a revista publicou edição especial, com 40 páginas e textos sobre “a grande sombra da lua”.
Com o título “Caçando o eclipse no sertão do Brasil”, a reportagem foi escrita pelo jornalista F. Barrows Colton. Ele viajou com os cientistas e integrantes da Força Aérea e do Exército dos Estados Unidos até Bocaiuva, com os quais permaneceu durante nove meses, de agosto de 1946 até os dias posteriores ao eclipse total.
No material especial divulgado em 1947, a National Geographic destacou o passo a passo da expedição americana. Descreveu as observações feitas durante o eclipse total do sol e enfatizou a importância de tais observações para a ciência.
A publicação destaca que, além de 16 cientistas, a missão contava com 55 oficiais do “Exército Aéreo” e das “Forças Terrestres” dos Estados Unidos, sob a liderança do físico Lyman Briggs, um dos precursores do Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento da bomba atômica norte-americana. Cita que entre integrantes da missão estavam oficiais que já tinham prestado serviço em frentes de combate na China, Índia, Europa, Norte da África e ilhas do Pacífico. No entanto, em nenhum momento, a National Geographic fez qualquer menção alusão aos objetivos militares da expedição, mantidos durante muito tempo em um projeto secreto do Governo dos EUA, revelados agora, 70 anos do eclipse, pelo do Estado de Minas.
Entre outros aspectos, a National Geographic relatou ter chegado a Bocaiuva uma “avançada delegação”, contando com cientistas de seis diferentes instituições, que “sob os auspícios da sociedade americana, estavam construindo complicados instrumentos, testando câmeras e fazendo cálculos precisos em seus cadernos”. Também destacou o grande aparato do grupamento: 75 toneladas de equipamentos e suplemento. Além de colchões, medicamentos, cobertores e aparelhos de observação e medição, trouxeram rádios, geradores elétricos e purificadores de água, “inovações” para a região.
A publicação americana relatou como era a rotina no acampamento e detalhou como foi aquele 20 de maio de 1947, quando “o céu amanheceu brilhante e claro”. Também informou que no acampamento, por meio de um alto-falante, houve uma contagem regressiva para o eclipse total do sol. De acordo com a discrição de F. Barrows Colton, exatamente às 9h34min, a “grande sombra” atravessou céu rapidamente, cobrindo inteiramente a luz do Sol.
Já tinham sido feitas as primeiras experiências sobre a teoria de Einstein durante o eclipse total do sol de 1919. Mas a comunidade científica optou por fazer novos testes no eclipse solar de 1947, com a missão sendo entregue ao renomado Biesbroeck, que, ao aceitá-la, construiu no acampamento de Extrema um telescópio de seis metros de altura. Ele retornou ao local três depois do eclipse, para dar continuidade aos estudos.
Em reportagem especial sobre as observações do município norte mineiro, publicada em setembro de 1947, a Revista National Geographic destaca que “um dos projetos mais importantes” da missão americana enviada ao Brasil era “checar a Teoria da Relatividade”. E lembrou que Einstein previra “que um dos testes de sua Teoria da Relatividade seria que raios de luz de estrelas distantes se curvariam ligeiramente quando passassem próximo do Sol. Ele disse que essa curvatura seria equivalente a um ângulo muito pequeno, numa fração mínima, de um grau de circunferência.
Ainda conforme a publicação americana, Van Biesbroeck mediu a curvatura da luz fazendo duas fotos do mesmo grupo de estrelas, uma durante o eclipse e outra fora dele. Na fotografia durante o eclipse, “as estrelas apareciam em volta do sol Porque a sua luz se curvava e suas imagens estão levemente deslocadas de onde elas realmente estão localizadas no céu. Na segunda foto, tirada à noite, quando o sol não estava (no céu), não havia curvatura da luz e as estrelas apareciam nas suas reais posições”.
A National Geographic enfatizava que, “medindo a diferença da posição das estrelas nas duas fotografias, o doutor Van Biesbroeck pode determinar quanto a luz se curvou ao passar pelo Sol”, conforme as previsões de Einstein.
Embora várias publicações, como a Revista O Cruzeiro, tenham divulgado que, ao retornar a Bocaiuva dois meses depois do eclipse total do Sol, Van Biesbroeck comprovou a Teoria da Relatividade, após o trabalho em Minas o renomado astrônomo continuou as observações para provar a veracidade dos pressupostos de Einstein. Na biografia de Biesbroeck consta que em 1952 ele viajou ao Sudão, na África, para fazer observações durante um eclipse solar visível do continente africano, “para confirmar a Teoria da Relatividade”.
Sobre a questão, o professor Roberto Dias da Costa, do Instituto de Astronomia e Geofísica Aplicada e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), salienta, que, “até a metade do século 20 ainda havia muito interesse em testar a validade da Teoria da Relatividade Geral, em particular fazer medidas do desvio gravitacional da luz, que pode ser constatado durante os eclipses solares totais. As medidas feitas em Bocaiuva serviram, sim como testes da Relatividade Geral”.
O astrônomo da USP lembra que os eclipses solares totais sempre despertaram interesse científico, pois são as oportunidades únicas para se estudar a coroa solar, sob luminosidade tênue. “Fora dos eclipses, o brilho intenso ofusca totalmente a coroa”, ressalta.
Falta de apoio aos brasileiros
Enquanto os Estados Unidos investiram milhões de dólares em um projeto de observação do eclipse total de 1947 no Brasil, os astrônomos brasileiros praticamente não fizeram estudos do fenômeno, devido à falta de apoio oficial na época. A informação é do professor Renato Las Casas, coordenador do grupo de Astronomia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Las Casas afirma que, em 1947, astrônomos do Observatório de Yerkes (EUA) fizeram um projeto para a observação do então chamado “Efeito Einstein” e tiveram “apoio total do governo norte- americano”. “O ‘Efeito Einstein’ para muitos já havia sido confirmado com as observações do eclipse de 1919, também realizadas no Brasil (em Sobral, no Ceará), mas ainda havia algumas dúvidas”, conta.
Ele salienta que a equipe do Observatório de Yerkes contou com grande aparato e se fixou em Bocaiuva, onde “o céu se abriu na hora do eclipse, o que permitiu a realização de ótimas medidas, que ajudaram a confirmar o ‘Efeito Einstein’ (a Teoria da Relatividade). Outras missões estrangeiras, em outros locais do país, não tiveram a mesma sorte. Em Araxá, por exemplo, onde se fixaram missões finlandesa e russa, a meteorologia não permitiu que uma única observação fosse feita”, afirmou.
“No Brasil não tivemos esse apoio. A verba do Observatório Nacional, na época a única instituição do país capaz de fazer observações relevantes desse fenômeno, era irrisória e insuficiente ate mesmo para mandar uma pequena equipe para algum local de observação”, lamenta o professor da UFMG.
A GRANDE SOMBRA Os estudos sobre o eclipse total do sol de maio de 1947 foram destacados em reportagem especial da revista americana National Geografic, que também integrou a expedição dos Estados Unidos enviada a Bocaiuva para as observações do fenômeno. Em setembro de 1947, a revista publicou edição especial, com 40 páginas e textos sobre “a grande sombra da lua”.
Com o título “Caçando o eclipse no sertão do Brasil”, a reportagem foi escrita pelo jornalista F. Barrows Colton. Ele viajou com os cientistas e integrantes da Força Aérea e do Exército dos Estados Unidos até Bocaiuva, com os quais permaneceu durante nove meses, de agosto de 1946 até os dias posteriores ao eclipse total.
No material especial divulgado em 1947, a National Geographic destacou o passo a passo da expedição americana. Descreveu as observações feitas durante o eclipse total do sol e enfatizou a importância de tais observações para a ciência.
A publicação destaca que, além de 16 cientistas, a missão contava com 55 oficiais do “Exército Aéreo” e das “Forças Terrestres” dos Estados Unidos, sob a liderança do físico Lyman Briggs, um dos precursores do Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento da bomba atômica norte-americana. Cita que entre integrantes da missão estavam oficiais que já tinham prestado serviço em frentes de combate na China, Índia, Europa, Norte da África e ilhas do Pacífico. No entanto, em nenhum momento, a National Geographic fez qualquer menção alusão aos objetivos militares da expedição, mantidos durante muito tempo em um projeto secreto do Governo dos EUA, revelados agora, 70 anos do eclipse, pelo do Estado de Minas.
Entre outros aspectos, a National Geographic relatou ter chegado a Bocaiuva uma “avançada delegação”, contando com cientistas de seis diferentes instituições, que “sob os auspícios da sociedade americana, estavam construindo complicados instrumentos, testando câmeras e fazendo cálculos precisos em seus cadernos”. Também destacou o grande aparato do grupamento: 75 toneladas de equipamentos e suplemento. Além de colchões, medicamentos, cobertores e aparelhos de observação e medição, trouxeram rádios, geradores elétricos e purificadores de água, “inovações” para a região.
A publicação americana relatou como era a rotina no acampamento e detalhou como foi aquele 20 de maio de 1947, quando “o céu amanheceu brilhante e claro”. Também informou que no acampamento, por meio de um alto-falante, houve uma contagem regressiva para o eclipse total do sol. De acordo com a discrição de F. Barrows Colton, exatamente às 9h34min, a “grande sombra” atravessou céu rapidamente, cobrindo inteiramente a luz do Sol.