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Estado de Minas

Paróquia une psicólogos e padres para atender moradores em Betim

Em tendas montadas no adro da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, em Betim, psicólogos e padres se unem para ouvir as queixas e orientar moradores. Ação se repetirá a cada dia 16


postado em 17/05/2017 06:00 / atualizado em 17/05/2017 07:41

Dizendo-se deprimida, Stefany é atendida pela psicóloga Daniela Marcelino, que a orienta manter acompanhamento especializado (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Dizendo-se deprimida, Stefany é atendida pela psicóloga Daniela Marcelino, que a orienta manter acompanhamento especializado (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
A cabeleireira Stefany Santana Ferreira não esconde que está com “sintomas de depressão”, conforme explica com a voz baixa e os olhos quase sem brilho. Há três meses, a jovem de 20 anos, moradora de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, começou a perder o sono, algo que se intensificou, viu a vida ficar sem brilho e os pensamentos tomarem conta da mente de forma desgovernada. “Parece que todos eles se acumulam durante o dia e vêm à noite. Minha cabeça não para de funcionar, ferve, não durmo nunca”, diz Stefany, que tem namorado, trabalho, família, mas busca ajuda para enfrentar o mundo. Na manhã de ontem, encontrou algum “alívio” no programa Igreja Aberta, da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, no Centro da cidade, que oferece “acolhida, escuta e encaminhamento” com padres e equipe de psicólogos, sob o comando do pároco Hélio Parreiras de Paula.

Ontem mesmo, Stefany foi encaminhada ao serviço especializado em Betim, o Centro de Referência de Saúde Mental (Cersam). “A gente vai ficando fraca de espírito, guarda muitas coisas sem falar, recorda de assuntos passados, têm as questões de família, enfim, é muito de uma vez. E ainda falta o dinheiro para pagar uma consulta no especialista”, contou a jovem, ao repórter, diante dos psicólogos Daniela Marcelino, coordenadora da Pastoral de Acolhida da paróquia, e César Bahia. A cabeleireira chegou acompanhada do irmão Uirtson, de 22, e saiu decidida depois de ouvir que precisa de um acompanhamento especializado.

A ação na paróquia, em sintonia com o conselho pastoral, foi inaugurada ontem e vai se repetir todo dia 16, data importante no município para os católicos, por ser da novena perpétua, e alusiva à padroeira Nossa Senhora do Carmo, cuja festa ocorre em 16 de julho. “A igreja é muito mais do que uma construção, é também um templo do coração, por isso há espaço para confissões e o trabalho de evangelização e atendimento psicológico”, disse o pároco, que trabalha nessa missão com o padre Juarez Clesio. Para facilitar a vida de quem chega, independentemente da crença, a equipe distribuiu seis tendas no adro da igreja, com serviços prestados das 7h30 às 11h e das 13h30 às 17h.

“Queremos dar uma orientação, uma luz para as pessoas e sempre com acompanhamento. A Igreja tem um capital humano grande”, disse padre Hélio, destacando alguns pontos que provocam angústia: desemprego, depressão, consumo de drogas e outros. “Há gente que não precisa de terapia, mas de uma palavra. Há situações que paralisam”, acrescentou ao lado da psicóloga Daniela, que tem na equipe, além de César Bahia, Gabriela Rabelo, Isabelle Fernandes e Cibelle Mishimoto e as voluntárias do grupo de oração.

“FEITIÇO”
Algumas pessoas buscaram a “dupla de atendimento”, com aconselhamento espiritual e apoio psicológico, ao mesmo tempo. Foi o caso de uma mulher de 45 anos, técnica na área de saúde, que preferiu não se identificar, e desempregada há quatro anos. Solteira e sem filhos, ela disse que não consegue arranjar trabalho pois foi vítima de um “feitiço”. Já um homem de 80 anos lamentou que fará a sexta angioplastia e se sente muito angustiado por mais essa intervenção cirúrgica. “Há muita gente sem esperança e tentamos incentivá-las de forma positiva. Queremos, por isso, formar uma rede de profissionais, incluindo especialistas de outras áreas, como do direito, para doar um dia em prol da comunidade”, disse Daniela, enquanto o padre ressaltava que a igreja fica aberta o dia inteiro, com o Santíssimo exposto, e missas às 6h30 (do trabalho), às 12h (da saúde) e às 19h (da família).

Casada e com três filhos, a professora e pedagoga Silvana Lúcia da Silva aprovou a iniciativa da paróquia de instalar tendas no adro. “Aqui fora é mais relaxante, descontraído, e nos sentimos mais corajosos para falar de temas difíceis”, revelou depois da confissão com o padre Hélio. Em outra tenda, com a dupla de escuta e oração – a psicóloga Isabelle e a voluntária de intercessão da oração, Gláucia Fabossi –, a bibliotecária Sandra Sotero, casada, mãe de dois filhos e há cinco anos desempregada, abordava problemas familiares que a afligem. “Encontramos aqui um consolo, é um lugar bom para desabafar. Para mim foi surpresa encontrar essas tendas, pois passei só para rezar na igreja”, afirmou a moradora de Igarapé, na Grande BH.

O motorista de ônibus Márcio Nonato Gomes, de 59, também gostou da ideia e destacou que, “neste mundo cruel e de tanta violência precisamos de paz e da graça de Deus” para continuar vivendo com tranquilidade”.

MISSÃO
FRATERNA

O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, aplaude a iniciativa da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, de Betim, na Grande BH. Para ele, “ir ao encontro das pessoas é nossa missão primeira: anunciar o evangelho não somente com as palavras, mas a partir da nossa presença transformadora, com gestos concretos sempre inspirados no Mestre Jesus”. E mais: “A Igreja deve estar permanentemente em saída, como ensina o papa Francisco. Isso significa que cada cristão deve oferecer aos irmãos amparo, fraterna acolhida e a oportunidade de vivenciar uma experiência de reconciliação e de encontro com Deus, partilhando a alegria de crer. Essa é a verdadeira ‘Igreja em saída’ anunciada pelo papa Francisco e tão necessária nesses tempos”.


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