Bocaiuva – Invadida em meados da década de 1940 por uma leva de cientistas, militares e jornalistas, que cuidaram de colocar a cidade no mapa mundial, Bocaiuva, no Norte de Minas, enfrenta hoje outra invasão. Se em 1947 os integrantes da missão para observação do eclipse total do Sol – com objetivos científicos declarados e metas militares secretas – chegaram falando diferentes línguas, os invasores atuais são mais discretos. São representados pela monocultura de eucalipto, que domina a localidade de Extrema, na zona rural, onde no século passado foi erguido o acampamento da expedição internacional liderada por americanos. A lavoura, voltada para a produção de carvão vegetal, matéria-prima das siderúrgicas de cidades como Sete Lagoas, trouxe sérios impactos ambientais à região. E, se na época da expedição estrangeira o Sol era o ator principal, nos dias de hoje ele figura no papel de vilão, que ajuda a agravar a seca plantada pelo homem.
Na época da expedição científico-militar norte-americana, em maio de 1947, Bocaiuva tinha 4 mil habitantes, ruas de terra e energia movida a gerador, apenas duas horas por dia. De lá para cá a cidade cresceu. Hoje, tem 51 mil moradores, comércio em expansão e uma grande indústria do ramo metalúrgico. Mas, na zona rural, as secas constantes só fazem agravar as condições da população.
Isso fica evidente em Extrema, onde percorrer os campos significa encontrar vastas áreas de plantio de eucalipto feito próximo a nascentes e veredas. Com isso, os olhos d’água, antigos oásis no cerrado, sumiram. Áreas que antigamente eram úmidas agora estão completamente secas, enquanto antigos córregos e pequenos rios estão estorricados.
Quem sofre com a nova invasão é gente como o agricultor José do Carmo Siqueira, de 80 anos. Sua pequena propriedade na localidade de Extrema é castigada pela falta de água. “Antes chovia e os rios e córregos ficavam todos cheios. Agora, chove e daí a pouco está tudo seco”, testemunha. Prova disso é o Rio Tabatinga, que corta a região e já correu caudaloso o ano inteiro. Hoje está completamente esgotado. Segundo ele, há 70 anos a localidade tinha “fartura de água”. Agora, a única fonte de que dispõe em seu terreno é um poço tubular.
A produção do campo, outrora rica, minguou como as fontes. “A gente plantava e colhia muito milho, arroz e feijão. Levava as coisas em carro de boi para vender na cidade. Hoje é o contrário: temos que ir na cidade para comprar mantimentos”, comenta José do Carmo, dizendo não ter dúvidas de que a invasão do eucalipto acabou com as nascentes da região.
Especialista em recursos hídricos e meio ambiente, o professor Flávio Pimenta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), salienta que a monocultura de eucalipto causa sérios danos ambientais, não somente em Bocaiuva, mas em todo Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, onde começou a ser implantada em 1970 e hoje cobre grandes extensões. “O problema do eucalipto é que os plantios, muitas vezes, foram feitos perto de veredas e das nascentes e em áreas de recarga, nas áreas de preservação permanente. A atividade nesses locais é altamente prejudicial ao meio ambiente, provocando o esgotamento das águas”, afirma Pimenta.
EXÓTICO A lavoura de eucalipto ocupou imensas áreas cerrado, alterando completamente o ecossistema, tendo como reflexo a diminuição dos recursos hídricos. “O cerrado é um bioma com plantas que perdem as folhas em determinado período do ano, coincidindo com a época da seca. Já o eucalipto é uma planta exótica, com uma grande capacidade de sucção de água durante todo o ano. Isso interfere na disponibilidade hídrica da região”, alerta Pimenta.
“Das principais ações antrópicas nas bacias hidrográficas da região de Bocaiuva que têm alterado o ciclo da água destaca-se a substituição da vegetação natural de cerrado por extensos plantios de eucalipto, nas áreas de chapada, reduzindo em 20,5% a recarga de água subterrânea na região”, afirma Vico Mendes Pereira, doutor em solo pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) e professor do câmpus Almenara do Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Norte de Minas (IFNM).
Para o especialista, é “extremamente preocupante” a redução da recarga de água subterrânea. “Ela acarreta a diminuição do número de nascentes e a redução das vazões dos cursos d’água, tornando rios perenes intermitentes, afetando a disponibilidade de água para consumo humano e o desenvolvimento dessa região”, destaca. Ele afirma que a bacia hidrográfica do Rio Jequitinhonha e outros mananciais locais vêm perdendo o potencial hídrico devido aos impactos da monocultura.
O técnico em meio ambiente José Ponciano atribui à lavoura de eucalipto a degradação de rios como o Guavinipã, o Ribeirão do Onça e o Macaúba. O Rio Verde, um dos maiores afluentes da margem direita do Rio São Francisco, que nasce em Bocaiuva, também foi seriamente atingido e “cortou” em vários trechos. “Em um hectare de chapada, de cerrado, existem naturalmente cerca de 60 exemplares de árvores, pois as plantas são intercaladas. Quando se retira a vegetação nativa e planta-se eucalipto, são 1.228 árvores por hectare. E elas têm uma taxa de evapotranspiração muito maior do que as árvores nativas”, relata Ponciano.
SOL INCLEMENTE Os olhos de Bocaiuva continuam voltados para o Sol, cujo eclipse há sete décadas atraiu americanos. O que mudou foram as razões de quem olha para o céu. “Acho que nos últimos 70 anos a situação só piorou. Antigamente, a gente plantava e colhia tudo. Agora, não conseguimos produzir nada, pois na hora de a roça vingar vem o Sol forte e acaba com tudo”, testemunha Selvino Pereira da Rocha, de 71 anos, morador da localidade de Borá.
O agricultor tem na sua propriedade uma pequena casa de farinha de mandioca, praticamente desativada há mais de um ano devido à falta de matéria-prima. “Como não choveu, não tem mandioca”, disse o lavrador, acrescentando que nos últimos quatro anos as lavouras de milho e feijão também não produziram nada diante das secas sucessivas.
OS ANÔNIMOS QUE AJUDARAM A CIÊNCIA
“Foram três minutos e 48 segundos de um misto de excitação, terror e encantamento, quando a Lua cobriu totalmente o Sol, transformando o dia em noite.” É o que relata texto fixado em uma pequena placa em Extrema, na zona rural de Bocaiuva, que descreve o eclipse total do Sol ocorrido na manhã de 20 de maio de 1947. Quem vê hoje o lugar vazio, cercado de mato, nem imagina o que havia no mesmo local há 70 anos: uma grande estrutura, comparada a uma base militar, montada pelos americanos para estudar o fenômeno.
Passadas sete décadas, a reportagem do Estado de Minas retornou a Extrema e encontrou o produtor rural aposentado Manoel Antônio Siqueira, de 85 anos, cuja família teve grande importância nos trabalhos realizados pelos cientistas na ocasião do eclipse solar total. Manoel recorda que o pai dele, o fazendeiro João Antônio de Siqueira, era o proprietário do terreno indicado como o melhor local para a observação do fenômeno. Na época, cedeu gratuitamente a área, para que ali fosse instalado um grande acampamento pelos americanos, que chegaram à região em agosto de 1946, nove meses antes do evento astronômico.
“Antes da chegada deles não existia nada nestas terras. Tudo era mato. Tiveram que abrir ‘picadas’ no meio do mato para fazer estradas”, conta o aposentado. O acampamento erguido pelos americanos, relata, contava com 55 barracas e uma construção de alvenaria, uma espécie de pavilhão, que servia de refeitório e cozinha. No lugar também foram montadas bases de concreto para a instalação dos telescópios e outros aparelhos. “Eles trouxeram muita coisa que a gente não conhecia”, relata Manoel, citando entre as “novidades” da época o rádio a pilha e um cinema, que foi instalado dentro do acampamento.
Uma das dificuldades era a comunicação entre os integrantes da expedição e os moradores da região. “Ninguém aqui falava ‘americano’”, comenta ele, acrescentando que um padre de Bocaiuva, chamado Agostinho, acabou servindo como tradutor. A presença estrangeira acabou gerando outros empregos em Extrema, com a contratação de serviços junto aos moradores. “Minha mãe recebia pagamento para lavar roupas para eles”, afirmou.
Ele também se lembra da grande movimentação na região no dia do eclipse, com as presenças de cientistas e jornalistas dos mais importantes veículos do Brasil e de outros países. “No dia (20 de maio de 1947) desceram oito aviões ‘teco-teco’ em uma pista de pouso aqui perto”, revela.
UMA BASE MILITAR NO CERRADO
A base científica que os norte-americanos montaram em Bocaiuva foi comparada a um acampamento militar pelo professor e pesquisador Heráclio Tavares, que fez um amplo levantamento sobre a investida da missão dos Estados Unidos por ocasião do eclipse total do Sol há 70 anos. A expedição foi objeto de dissertação de mestrado concluída por ele na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com os levantamentos feito pelo professor, o plano da expedição norte-americana consistia em nove estudos: “Fotografar a coroa solar em preto e branco e em cores, com uma câmera astrográfica de nove polegadas de abertura”; “estudar a polarização da luz da coroa solar, com dois polarígrafos com Atar lens focal length 47 ½”; “realizar um estudo espectrográfico do espectro flash da coroa solar, usando dois espectrógrafos especialmente construídos para esta finalidade”; “medir a variação do brilho solar à medida que a totalidade se aproxima”.
E ainda: “aferir as mudanças nas camadas ionizadas na atmosfera da Terra enquanto o disco da Lua cobrisse o disco solar”; “comensurar com precisão os tempos em que a Lua faz seus quatro contatos com o disco solar, para fornecer informações experimentais adicionais relacionadas ao movimento lunar”; “pesquisar a distribuição da intensidade da luz do dia em várias altitudes durante o eclipse”; “determinar o aparente deslocamento das posições das estrelas perto do Sol”; e “verificar a temperatura da coroa perto do limbo do Sol”. Porém, ele ressalta: “Nem todos os estudos foram realizados”.
“Aparentemente, o único estudo que tinha uma aplicação militar era o da ionosfera terrestre, que não tinha força para justificar a quantidade de militares em Bocaiuva. Deveras, uma observação feita pela expedição finlandesa chamava a atenção dos norte-americanos. Tratava-se da mensuração da distância do continente sul-americano ao africano. As possibilidades abertas por essa técnica atendiam a uma demanda militar por medidas mais precisas, superiores às fornecidas pelas metodologias existentes. O interesse era usar os dados que essas medições podiam fornecer para o aperfeiçoamento do sistema de mira dos mísseis intercontinentais que estavam sendo desenvolvidos”, escreveu Tavares.
Na época da expedição científico-militar norte-americana, em maio de 1947, Bocaiuva tinha 4 mil habitantes, ruas de terra e energia movida a gerador, apenas duas horas por dia. De lá para cá a cidade cresceu. Hoje, tem 51 mil moradores, comércio em expansão e uma grande indústria do ramo metalúrgico. Mas, na zona rural, as secas constantes só fazem agravar as condições da população.
Isso fica evidente em Extrema, onde percorrer os campos significa encontrar vastas áreas de plantio de eucalipto feito próximo a nascentes e veredas. Com isso, os olhos d’água, antigos oásis no cerrado, sumiram. Áreas que antigamente eram úmidas agora estão completamente secas, enquanto antigos córregos e pequenos rios estão estorricados.
Quem sofre com a nova invasão é gente como o agricultor José do Carmo Siqueira, de 80 anos. Sua pequena propriedade na localidade de Extrema é castigada pela falta de água. “Antes chovia e os rios e córregos ficavam todos cheios. Agora, chove e daí a pouco está tudo seco”, testemunha. Prova disso é o Rio Tabatinga, que corta a região e já correu caudaloso o ano inteiro. Hoje está completamente esgotado. Segundo ele, há 70 anos a localidade tinha “fartura de água”. Agora, a única fonte de que dispõe em seu terreno é um poço tubular.
A produção do campo, outrora rica, minguou como as fontes. “A gente plantava e colhia muito milho, arroz e feijão. Levava as coisas em carro de boi para vender na cidade. Hoje é o contrário: temos que ir na cidade para comprar mantimentos”, comenta José do Carmo, dizendo não ter dúvidas de que a invasão do eucalipto acabou com as nascentes da região.
Especialista em recursos hídricos e meio ambiente, o professor Flávio Pimenta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), salienta que a monocultura de eucalipto causa sérios danos ambientais, não somente em Bocaiuva, mas em todo Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, onde começou a ser implantada em 1970 e hoje cobre grandes extensões. “O problema do eucalipto é que os plantios, muitas vezes, foram feitos perto de veredas e das nascentes e em áreas de recarga, nas áreas de preservação permanente. A atividade nesses locais é altamente prejudicial ao meio ambiente, provocando o esgotamento das águas”, afirma Pimenta.
EXÓTICO A lavoura de eucalipto ocupou imensas áreas cerrado, alterando completamente o ecossistema, tendo como reflexo a diminuição dos recursos hídricos. “O cerrado é um bioma com plantas que perdem as folhas em determinado período do ano, coincidindo com a época da seca. Já o eucalipto é uma planta exótica, com uma grande capacidade de sucção de água durante todo o ano. Isso interfere na disponibilidade hídrica da região”, alerta Pimenta.
“Das principais ações antrópicas nas bacias hidrográficas da região de Bocaiuva que têm alterado o ciclo da água destaca-se a substituição da vegetação natural de cerrado por extensos plantios de eucalipto, nas áreas de chapada, reduzindo em 20,5% a recarga de água subterrânea na região”, afirma Vico Mendes Pereira, doutor em solo pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) e professor do câmpus Almenara do Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Norte de Minas (IFNM).
Para o especialista, é “extremamente preocupante” a redução da recarga de água subterrânea. “Ela acarreta a diminuição do número de nascentes e a redução das vazões dos cursos d’água, tornando rios perenes intermitentes, afetando a disponibilidade de água para consumo humano e o desenvolvimento dessa região”, destaca. Ele afirma que a bacia hidrográfica do Rio Jequitinhonha e outros mananciais locais vêm perdendo o potencial hídrico devido aos impactos da monocultura.
O técnico em meio ambiente José Ponciano atribui à lavoura de eucalipto a degradação de rios como o Guavinipã, o Ribeirão do Onça e o Macaúba. O Rio Verde, um dos maiores afluentes da margem direita do Rio São Francisco, que nasce em Bocaiuva, também foi seriamente atingido e “cortou” em vários trechos. “Em um hectare de chapada, de cerrado, existem naturalmente cerca de 60 exemplares de árvores, pois as plantas são intercaladas. Quando se retira a vegetação nativa e planta-se eucalipto, são 1.228 árvores por hectare. E elas têm uma taxa de evapotranspiração muito maior do que as árvores nativas”, relata Ponciano.
SOL INCLEMENTE Os olhos de Bocaiuva continuam voltados para o Sol, cujo eclipse há sete décadas atraiu americanos. O que mudou foram as razões de quem olha para o céu. “Acho que nos últimos 70 anos a situação só piorou. Antigamente, a gente plantava e colhia tudo. Agora, não conseguimos produzir nada, pois na hora de a roça vingar vem o Sol forte e acaba com tudo”, testemunha Selvino Pereira da Rocha, de 71 anos, morador da localidade de Borá.
O agricultor tem na sua propriedade uma pequena casa de farinha de mandioca, praticamente desativada há mais de um ano devido à falta de matéria-prima. “Como não choveu, não tem mandioca”, disse o lavrador, acrescentando que nos últimos quatro anos as lavouras de milho e feijão também não produziram nada diante das secas sucessivas.
OS ANÔNIMOS QUE AJUDARAM A CIÊNCIA
“Foram três minutos e 48 segundos de um misto de excitação, terror e encantamento, quando a Lua cobriu totalmente o Sol, transformando o dia em noite.” É o que relata texto fixado em uma pequena placa em Extrema, na zona rural de Bocaiuva, que descreve o eclipse total do Sol ocorrido na manhã de 20 de maio de 1947. Quem vê hoje o lugar vazio, cercado de mato, nem imagina o que havia no mesmo local há 70 anos: uma grande estrutura, comparada a uma base militar, montada pelos americanos para estudar o fenômeno.
Passadas sete décadas, a reportagem do Estado de Minas retornou a Extrema e encontrou o produtor rural aposentado Manoel Antônio Siqueira, de 85 anos, cuja família teve grande importância nos trabalhos realizados pelos cientistas na ocasião do eclipse solar total. Manoel recorda que o pai dele, o fazendeiro João Antônio de Siqueira, era o proprietário do terreno indicado como o melhor local para a observação do fenômeno. Na época, cedeu gratuitamente a área, para que ali fosse instalado um grande acampamento pelos americanos, que chegaram à região em agosto de 1946, nove meses antes do evento astronômico.
“Antes da chegada deles não existia nada nestas terras. Tudo era mato. Tiveram que abrir ‘picadas’ no meio do mato para fazer estradas”, conta o aposentado. O acampamento erguido pelos americanos, relata, contava com 55 barracas e uma construção de alvenaria, uma espécie de pavilhão, que servia de refeitório e cozinha. No lugar também foram montadas bases de concreto para a instalação dos telescópios e outros aparelhos. “Eles trouxeram muita coisa que a gente não conhecia”, relata Manoel, citando entre as “novidades” da época o rádio a pilha e um cinema, que foi instalado dentro do acampamento.
Uma das dificuldades era a comunicação entre os integrantes da expedição e os moradores da região. “Ninguém aqui falava ‘americano’”, comenta ele, acrescentando que um padre de Bocaiuva, chamado Agostinho, acabou servindo como tradutor. A presença estrangeira acabou gerando outros empregos em Extrema, com a contratação de serviços junto aos moradores. “Minha mãe recebia pagamento para lavar roupas para eles”, afirmou.
Ele também se lembra da grande movimentação na região no dia do eclipse, com as presenças de cientistas e jornalistas dos mais importantes veículos do Brasil e de outros países. “No dia (20 de maio de 1947) desceram oito aviões ‘teco-teco’ em uma pista de pouso aqui perto”, revela.
UMA BASE MILITAR NO CERRADO
A base científica que os norte-americanos montaram em Bocaiuva foi comparada a um acampamento militar pelo professor e pesquisador Heráclio Tavares, que fez um amplo levantamento sobre a investida da missão dos Estados Unidos por ocasião do eclipse total do Sol há 70 anos. A expedição foi objeto de dissertação de mestrado concluída por ele na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com os levantamentos feito pelo professor, o plano da expedição norte-americana consistia em nove estudos: “Fotografar a coroa solar em preto e branco e em cores, com uma câmera astrográfica de nove polegadas de abertura”; “estudar a polarização da luz da coroa solar, com dois polarígrafos com Atar lens focal length 47 ½”; “realizar um estudo espectrográfico do espectro flash da coroa solar, usando dois espectrógrafos especialmente construídos para esta finalidade”; “medir a variação do brilho solar à medida que a totalidade se aproxima”.
E ainda: “aferir as mudanças nas camadas ionizadas na atmosfera da Terra enquanto o disco da Lua cobrisse o disco solar”; “comensurar com precisão os tempos em que a Lua faz seus quatro contatos com o disco solar, para fornecer informações experimentais adicionais relacionadas ao movimento lunar”; “pesquisar a distribuição da intensidade da luz do dia em várias altitudes durante o eclipse”; “determinar o aparente deslocamento das posições das estrelas perto do Sol”; e “verificar a temperatura da coroa perto do limbo do Sol”. Porém, ele ressalta: “Nem todos os estudos foram realizados”.
“Aparentemente, o único estudo que tinha uma aplicação militar era o da ionosfera terrestre, que não tinha força para justificar a quantidade de militares em Bocaiuva. Deveras, uma observação feita pela expedição finlandesa chamava a atenção dos norte-americanos. Tratava-se da mensuração da distância do continente sul-americano ao africano. As possibilidades abertas por essa técnica atendiam a uma demanda militar por medidas mais precisas, superiores às fornecidas pelas metodologias existentes. O interesse era usar os dados que essas medições podiam fornecer para o aperfeiçoamento do sistema de mira dos mísseis intercontinentais que estavam sendo desenvolvidos”, escreveu Tavares.