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Estado de Minas

Moradores e ambientalistas sugerem medidas contra avanço do eucalipto no Norte de Minas

População reagiu à publicação de reportagem do EM, que mostrou danos causados pela monocultura especialmente em Bocaiuva


postado em 19/05/2017 06:00 / atualizado em 19/05/2017 07:46

Monocultura de eucalipto é apontada como responsável pelo esgotamento da umidade do solo do cerrado(foto: Eduardo Gomes/Esp.EM)
Monocultura de eucalipto é apontada como responsável pelo esgotamento da umidade do solo do cerrado (foto: Eduardo Gomes/Esp.EM)
Maior fiscalização dos órgãos ambientais, redução do cultivo e até proibição de plantios contínuos de eucalipto em grandes extensões de terra. Essas são algumas das medidas sugeridas por moradores e ambientalistas do Norte de Minas, ao reagir à reportagem do Estado de Minas que denunciou os danos provocados pela monocultura, em especial no município de Bocaiuva. Publicada na quarta-feira, a última parte da série “À sombra do eclipse” – que reviveu a expedição científico-militar enviada pelos Estados Unidos à cidade em 1947 para estudar o fenômeno astronômico – mostrou que o município, assim como outros da região, sofre agora com a invasão da lavoura exótica.

A monocultura, voltada para a produção de carvão vegetal, matéria-prima das siderúrgicas de cidades como Sete Lagoas, trouxe sérios impactos ambientais à região, sendo o mais grave deles a extinção de nascentes e veredas, com o consequente secamento de rios e córregos alimentados por elas. “O ‘deserto verde’, apesar de gerar, em certa medida, empregos e renda em Bocaiuva e região, tem um efeito devastador sobre a nossa fauna e flora, comprometendo significativamente a biodiversidade”, afirmou o advogado e sociólogo Juscelino Germano Oliveira, morador da cidade.

“Conhecendo um pouco mais sobre a história de Bocaiuva graças à reportagem, concluímos que há uma singular conexão entre o real motivo da expedição norte-americana aqui e o cultivo em larga escala do famigerado eucalipto na região: a morte”, comentou Juscelino, fazendo referencia ao fato de os EUA terem iniciados no município norte-mineiro, durante o eclipse total do Sol de 1947, estudos que objetivavam o aprimoramento do lançamento de mísseis intercontinentais, como revelou com exclusividade a reportagem do EM.

“Devemos todos, sociedade, terceiro setor e especialmente as entidades governamentais, aprofundar a discussão acerca desse problema. Bocaiuva e região também tornaram-se alvos do míssil da monocultura do eucalipto. Seu efeito, todavia, é retardado”, comentou o advogado. “O fato de a reportagem abordar temas transversais, como a monocultura , serviu como gatilho para a discussão do assunto na cidade. Afinal, temos vivido tempos preocupantes, principalmente por causa da considerável diminuição dos níveis da água no município”, completou Juscelino Oliveira.

O ambientalista Eduardo Gomes, diretor do Instituto Grande Sertão, de Montes Claros, que atua em toda Região Norte do estado, defende uma mudança no modelo da implantação da monocultura. “Sou contra o modelo atual – dos plantios contínuos em áreas muito extensas. Sou a favor de limitar as áreas. Acho que se devem intercalar corredores ecológicos (entre as plantações de eucalipto), ligando áreas de preservação ambiental e reservas legais.”

Gomes lembra que até o início da década de 1970, antes da invasão dos eucaliptos, a região de Extrema, distrito de Bocaiuva onde foi erguido o acampamento da missão norte-americana em 1947, era rica em fontes de água, com nascentes, brejos e lagoas por toda parte. A comunidade, inclusive faz limite com o município de Olhos D’Água, que recebeu o nome exatamente por causa da fartura de minas. “Hoje está tudo seco”, afirma o ambientalista, cuja constatação é reforçada por testemunhos de antigos moradores visitados pelo Estado de Minas.

O geógrafo e espeleólogo Sérgio Xavier ressalta que a redução do avanço do eucalipto envolve também a diminuição do consumo de bens duráveis, já que o carvão vegetal é usado na fabricação de aço. “Para conter o avanço do reflorestamento é necessário que haja redução do consumo, e isso implica em abrir mão de conforto e supérfluos que todos usamos e gostamos. Afinal, ter um smartphone moderno e ou um carro do ano não é nada mau. Para conter o eucalipto, precisamos de uma mudança completa em nosso estilo de vida. Uma discussão importantíssima e complexa”, opina.

O professor Flávio Pimenta, especialista em meio ambiente e recursos hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais, ressalta que a saída não é acabar com o eucalipto. “A solução seria obrigar os empreendedores a plantar onde o impacto seja pequeno. Plantar em topo de morro, em área de recarga e próximo ou dentro de veredas é um absurdo no que se refere à disponibilidade hídrica. Somos favoráveis ao plantio, desde que sejam respeitadas áreas de preservação permanente, o que na maioria dos casos não ocorre”, adverte Pimenta.


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