A campanha para combate ao Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya, zika e febre amarela, continua a todo vapor, com apelos constantes à população, mas as ameaças em Belo Horizonte não estão escondidas apenas em áreas particulares: podem ser encontradas até em espaços públicos da capital. É o caso de uma piscina com larvas no Centro de Convivência Pampulha, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde, que fica na Avenida Dom Orione, no Bairro São Luís, Região da Pampulha. A equipe do Estado de Minas esteve no local na quarta-feira, por volta das 17h, quando os mosquitos não davam paz a quem se atrevesse a ficar no lado externo da casa de três andares. Lá, uma faixa da Prefeitura de BH garante “saúde de qualidade para todos”.
Na cidade há outros locais com problemas relacionados à proliferação do mosquito. No Bairro Califórnia I, na Região Noroeste, moradores são obrigados a conviver com esgoto a céu aberto que acumula lixo e entulho no cruzamento das ruas Violas e Castanholas. Eles denunciam que o lugar fica próximo a uma escola pública e a um centro de saúde municipal, o que torna o risco de contaminação alto. E que o problema persiste, apesar das várias tratativas já feitas pela comunidade com a administração municipal para implantação da rede de saneamento e urbanização. A situação atual, segundo moradores, cria condições ideais para reprodução do mosquito.
No caso do Centro de Convivência Pampulha, as novas instalações foram entregues em junho de 2013, conforme informação divulgada no Portal da PBH, para dar mais conforto aos usuários. Bastante amplo, o espaço interno da casa é colorido por pinturas e outros trabalhos artísticos feitos por pessoas com sofrimento mental atendidas em oficinas de música, pintura e teatro. Os frequentadores contam com espaço externo para a realização de atividades de lazer, com direito a churrasqueira e piscina, que fica na parte de trás da construção, mas parece não receber nenhuma manutenção e, pelas condições, não pode ser usada. Sem qualquer cobertura, o reservatório acumula pouco mais da metade de sua capacidade em água turva. Lodo e lixo se espalham no fundo e, no entorno, a equipe do EM observou a presença de mosquitos.
Manter um local em condições que permitam a reprodução de mosquitos representa risco à saúde pública, tanto para funcionários e frequentadores do equipamento quanto para a população do entorno. É o que explica o diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling. Ele afirma que a diminuição de viroses ligadas ao Aedes aegypti é sazonal, sendo a curva ascendente ao longo dos anos. “Não podemos relaxar, ainda mais em se tratando de um prédio público”, disse o infectologista, ao ser informado da situação no Centro de Convivência Pampulha. “É preciso ter a mesma vigilância que há com um bem privado, pois se trata de um risco para a comunidade”, afirmou.
ALERTA A piscina do Centro de Convivência Pampulha, tomada por larvas, é um sinal do perigo enfrentado em BH nos últimos anos. O último balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde mostra que, até o dia 20, foram notificados 6.691 casos de dengue, entre 525 confirmados, 1.451 pendentes de resultados, sendo investigados, e 4.715 descartados. Os números representam grande queda em relação ao mesmo período do ano passado, quando haviam sido notificados 67.102 casos, dez vezes mais que no atual período, mas o recuo da doença não é razão para relaxar na vigilância contra o mosquito, pelo contrário.
Até porque permanece a preocupação com outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. A chikungunya, por exemplo, vem se alastrando: teve 81 casos notificados de janeiro a 20 de maio deste ano em BH, o dobro de 2016. Do total, 41 diagnósticos foram confirmados – dos quais 24 importados e 17 contraídos na própria cidade (autóctones). Ainda há 40 casos em investigação. No ano passado foram 42 notificações, com 22 casos confirmados no mesmo período. Quanto à zika, foram confirmados 10 casos em 2017. No total, foram notificados 84, dos quais 63 de pacientes residentes na capital e 21 de outros municípios. Dos casos autóctones, 36 foram descartados e 17 continuam em apuração. Em 2016, no mesmo período, o número chegou a 1,2 mil casos notificados.
Sem cobertura, com larvicida
Apesar das condições observadas no local, a Secretaria Municipal de Saúde nega que a piscina do Centro de Convivência Pampulha seja um foco para proliferação do Aedes aegypti. “Isso pode ser afirmado porque uma equipe de zoonoses faz vistoria regular no local e realiza aplicação de larvicida (veneno que combate larvas de mosquito), de 30 em 30 dias, como medida emergencial. Portanto, apesar do aspecto, a água é tratada para evitar que ocorra proliferação do mosquito”, argumenta a pasta, em nota. Questionada sobre o fato de o reservatório não ser coberto por lona ou tela, por exemplo, o que impediria o acesso de insetos e dispensaria o emprego constante de produto químico, a alegação é que “a decisão não é isolar a piscina, mas resolver o problema”.
Porem, não há prazo para que isso ocorra. A secretaria informa que, para que a água seja trocada e feita a limpeza, é necessário que, antes, seja feito um reparo relacionado a um entupimento na tubulação da piscina. A informação é de que uma equipe de manutenção já foi ao local e identificou o problema. Devido a esse fato, a limpeza, que era feita de forma regular, foi temporariamente suspensa, argumenta a secretaria, mas a aplicação do larvicida permanece. “O Centro de Convivência já solicitou a visita técnica da empresa para a solução do problema o mais breve possível. Além do tratamento focal na piscina, o Centro de Convivência recebe vistoria dos agentes de combate a endemias para eliminação de possíveis focos do mosquito em toda a área da unidade”, informou a pasta.