Boa viagem, mas com muitos cuidados. A morte de um economista de 79 anos, de Belo Horizonte e aposentado do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), acende o sinal de alerta para a necessidade de atenção, principalmente com a proximidade das férias, a fim de evitar a febre amarela. Morador do Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul da capital, o homem, apesar de vacinado contra a doença, se contaminou num passeio ao Mato Grosso, região considerada endêmica para esse mal.
Starling destaca que tomar a vacina mais vezes do que o preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde pode não ser benéfico. “A segunda dose da vacina pode ampliar em cerca de 5% a imunidade da pessoa, nunca em 100%. É um aumento pequeno, e ainda pode expor o paciente à doença. Na verdade, alguns casos de febre amarela ocorrem devido à segunda dose”, afirma o especialista.
Na avaliação do infectologista, o ideal é unir a imunização a outras formas de prevenção da doença, como o uso de repelentes, mosquiteiros e, caso o indivíduo viaje para matas ou locais com foco do mosquito, vestir roupas especiais com mangas compridas. Além disso, é importante colocar tela nas janelas das residências e evitar deixar água parada para evitar a proliferação do mosquito.
PREVENÇÃO Todo o cuidado é pouco durante os passeios a áreas consideradas endêmicas, em todo o Brasil Central ou em regiões onde ocorreram surtos, como Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A bióloga e virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Giliane de Souza Trindade explica ser fundamental tomar cuidado, principalmente em acampamentos ao ar livre ou viagens para a Amazônia, Mato Grosso, Goiás e outros. “Informação é fundamental, assim como o uso de repelentes para evitar a picada dos mosquitos. Tenho uma amiga que trabalhava na Amazônia e tinha o costume de, diariamente, passar óleo de cozinha no corpo inteiro para se proteger”, conta como curiosidade, tal a quantidade de insetos.
A bióloga e virologista também elege a vacina, aplicada 10 dias antes da viagem, como medida mais importante para evitar a doença e recomenda aos turistas a consulta ao Livro Amarelo dos Viajantes, com dicas importantes, ou acessar o site www.cdc.gov, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão público dos Estados Unidos para pesquisa, estatística, controle e prevenção de doenças. “Se a pessoa vai a uma pescaria em Goiás ou fará outro tipo de passeio, é bom ter atenção”.
O ecólogo Adriano Paglia, também professor e pesquisador da UFMG, afirma que atividades ao ar livre devem ser acompanhadas de cuidados, já que foi-se o tempo em que as pessoas podiam ficar à beira de rios ou no meio do mato sem qualquer tipo de proteção. “Não é preciso alarmismo, mas é bom ter cuidado”, resume o professor, ressaltando que áreas degradadas favorecem o surgimento de novas doenças e intensificam a circulação das já existentes (zoonoses). Finalmente, Paglia faz uma recomendação para quem estiver curtindo a natureza. “A fauna não é inimiga e animais causam menos danos ao seres humanos do que o contrário. Assim, é ignorância matar os macacos achando que eles transmitem a febre amarela.”
OCORRÊNCIAS Conforme o último balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (em 26 de abril), Minas registrou 151 óbitos causados pela febre amarela, e outros 54 em investigação. O total de casos confirmados da doença foi de 427, em 62 municípios mineiros. A morte do economista, morador do Belvedere, em Belo Horizonte, foi atestada na semana passada e teve a doença como causa. O homem foi contaminado fora do estado, durante viagem para local considerado de risco, e retornou à capital mineira com os sintomas.
Devido à confirmação da morte, a Prefeitura de Belo Horizonte desencadeou, na terça-feira, ações de bloqueio ao Aedes aegypti, que pode transmitir a doença em ambiente urbano, na Região Centro-Sul da capital, local onde o economista morava. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de BH, ações de pulverização de UBV, o popular fumacê, já contemplaram mais de 12 mil imóveis na capital.
*Estagiária sob orientação do editor André Garcia
TOME CUIDADO!
Siga as orientações dos especialistas para evitar a febre amarela e curtir a natureza
» ACAMPAR
1) Informação é fundamental, principalmente se for acampar em áreas silvestres. Antes de viajar, procure saber se a doença é endêmica na região ou se houve surto recente.
» REPELENTE
2) Uso do repelente se tornou uma necessidade vital nestes tempos. Estados como Mato Grosso e da Amazônia são endêmicos, mas a região costeira apresentou surtos desde janeiro.
» UMA DOSE
3) Tomar vacina contra a febre amarela é obrigatório e apenas uma dose basta, conforme a Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde. Para quem vai viajar, tem que ser com 10 dias de antecedência. Não se esqueça de que, para muitos países, é preciso apresentar o Certificado Internacional do Viajante ou Profilaxia, que pode ser obtido na Rua Paraíba, 890, no Bairro Funcionários, em Belo Horizonte. A senha é distribuída das 9h às 16h.
» AO AR LIVRE
4) Todos os cuidados devem ser intensificados na hora das atividades ao ar livre, em parques municipais, unidades de conservação ou matas. Os gestores desse locais devem estar cientes da necessidade de informar os visitantes, assim como esses devem se preservar, mesmo sendo lugares muito convidativos.
» SEM ALARME
5) Preservar, sem alarmismo. Curtir a natureza, mas consciente de que a degradação ambiental favorece o surgimento de novas doenças e intensifica a circulação das já existentes (zoonoses).
» NÃO MATAR
6) Proteger a vida não significa sacrificar os animais, já que, segundo os especialistas, eles são tão vítimas quanto os seres humanos. Portanto, nada de matar os macacos achando que está se defendendo.
» ROUPAS ESPECIAIS
7) A pessoa que viajar para regiões de matas ou locais com surto de febre amarela deve vestir roupas especiais com mangas compridas. Além disso, é importante ter tela nas janelas das pousadas e evitar lugares com água parada.
Fontes: Adriano Paglia, ecólogo, e Giliane de Souza Trindade, bióloga e virologista, professores e pesquisadores da UFMG; e médico infectologista Carlos Starling, da Sociedade Mineira de Infectologia