Mariana – Ao som da Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião e do coral de adolescentes Tom Maior, foi festejada, na tarde de ontem, a entrega à comunidade da restauração dos elementos artísticos da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, tesouro do barroco de Mariana, na Região Central, a 115 quilômetros de Belo Horizonte. Trata-se da primeira obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas no município, que contemplou a recuperação do forro da capela-mor que tem pintura do mestre Ataíde, altar-mor, oito retábulos colaterais, arco-cruzeiro e imagens. No total, são 15 ações na cidade, com investimento de R$ 15 milhões.
Segundo o prefeito Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior, a previsão é de que a intervenção comece em 60 dias. A presidente do Iphan, Kátia Bogéa, explicou que, mesmo com o momento de crise econômica, os recursos estão garantidos. “Esta igreja é uma das jóias mais preciosas do barroco brasileiro e por isso é fundamental não só o restauro como a implantação do museu, cujos recursos estão incluídos na verba de R$ 2 milhões”, ressaltou Kátia Bogéa, ao lado da superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, e do diretor do PAC Cidades Históricas, Robson Antônio de Almeida.
FÉ E RESTAURAÇÃO O titular da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, padre Geraldo Barbosa, demonstrou sua alegria e assegurou que ela só estará completa quando a obra civil estiver concluída. “Ficamos felizes com a recuperação dos elementos artísticos e mais ainda com o término do projeto arquitetônico”, afirmou. Também presente à solenidade, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Giovani Luiz da Silva, enalteceu a luta da comunidade e lembrou que tudo teve início, na década passada, no tempo em foi pároco local. “O restauro é importante da mesma forma que a fé cristã”,destacou.
Executada pela Prefeitura de Mariana, com recursos de R$ 1,6 milhão do governo federal, a intervenção, cujo início foi mostrado pelo Estado de Minas em 28 de julho de 2016, valoriza a paisagem colonial da primeira vila, cidade e diocese de Minas e, no interior da igreja, os altares esculpidos pelo português Francisco Vieira Servas (1720-1811) e o forro da capela-mor de autoria de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830), o Mestre Ataíde.
Embora presente diariamente na igreja, que não ficou fechada durante a restauração dos elementos artísticos, a moradora Maria Rachel Cardoso dos Reis não cabia de contentamento ao ver toda a restauração em dia de festa. “Ficou bonita demais da conta. Esperamos muitos anos para que isso acontecesse. Nem tenho palavras para descrever tanta beleza”, revelou, com os olhos brilhando. Outro feliz da vida era Waldemar de Jesus Malta, de 63, que trabalhou como ajudante na obra e pretende lançar um livro contando sua experiência e a importância do templo para a comunidade de Mariana e, principalmente, para os moradores do Bairro Rosário. “Temos que louvar o trabalho de quem restaurou nossa igreja”, afirmou, pouco antes de ser homenageado pela presidente do Iphan com o diploma.
COMUNHÃO A palavra comunhão foi a mais usada para falar da integração entre restauradores e comunidade. “Trata-se de um trabalho muito importante, principalmente pelo diálogo entre a equipe de profissionais, instituições envolvidas e moradores”, diz a arquiteta Flora Passos, do escritório técnico do Iphan em Mariana. O serviço ficou a cargo do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, com equipe coordenada pelo restaurador Adriano Ramos, e supervisão do Iphan e da prefeitura local.
A presidente do Instituto Cultural Flávio Gutierrez. Angela Gutierrez, ressaltou a importância do bem cultural para Minas e o envolvimento dos moradores. Ela lembrou ainda a participação, na obra, de integrantes do Projeto Valor Social, braço social do instituto, e de pessoas da cidade. “A implantação do Museu Vieira Servas, será grande artista, vai coroar esta ação”, acrescentou.
A beleza do restauro deixou muita gente comovida. E não era para menos, tal a riqueza das peças em madeira de jacarandá, altares com trabalhos de talha e ouro e uma decoração suave de estilo rococó, coroada pela pintura da Assunção da Virgem no teto da capela-mor. De acordo com o Iphan, responsável pelo tombamento da construção, o conjunto de elementos artísticos que compõem a decoração interna tem lugar de destaque na arte religiosa de Minas Gerais dos séculos 18 e 19, principalmente pela participação de dois importantes artistas do período, que são Servas e o marianense Mestre Ataíde. O primeiro realizou toda a obra de talha do interior do templo entre os anos de 1770 e 1775, enquanto o segundo produziu a decoração pictórica anos mais tarde, entre 1823 e 1826.
Saiba mais
Obra da 3ª fase do barroco mineiro
Localizada na Praça do Rosário, a Igreja Nossa Senhora dos Pretos foi construída entre 1752 e 1758 por iniciativa das irmandades de São Benedito, de Santa Efigênia e do Rosário. Erguida em alvenaria, ela pertence à terceira fase do barroco mineiro, o estilo rococó. O templo foi construído em alvenaria de pedra. Os destaques internos vão para as obras do pintor Ataíde e do escultor e entalhador Servas.
Enquanto isso...
...Visita a Teatro em Sabará
Na manhã de hoje, o diretor do Programa de Aceleração do Crescimento Cidades Históricas (PAC), Robson Antônio de Almeida, estará em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para visita técnica às obras do Teatro Municipal, antiga Casa da Ópera e das salas de espetáculo mais antigas do Brasil. Na oportunidade, ele vai conversar com o prefeito Wander Borges sobre o repasse de verbas federais para a recuperação do equipamento cultural. Borges reclama de atraso nas parcelas que vão totalizar R$ 2,6 milhões. A Prefeitura de Sabará sustentou ontem, por meio de nota, que tem dado os encaminhamentos corretos em relação aos serviços desenvolvidos a cada período e aponta que atrasos nos repasses têm provocado transtornos e prejudicado a agilidade nas obras.