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Estado de Minas

Como uma rodovia privada demora quase 24 horas para liberar pistas em caso de acidente?

Tombamento de carreta impõe bloqueio de pista entre quinta-feira e ontem em trecho da BR-262, em Juatuba. Problema é recorrente, apesar de cobrança de pedágio em estradas


postado em 27/05/2017 00:12 / atualizado em 27/05/2017 09:07

O bloqueio das pistas deixou motoristas parados e causou congestionamento de mais de oito quilômetros tanto na direção do Triângulo Mineiro, quanto no acesso a Belo Horizonte(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
O bloqueio das pistas deixou motoristas parados e causou congestionamento de mais de oito quilômetros tanto na direção do Triângulo Mineiro, quanto no acesso a Belo Horizonte (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
A infraestrutura de uma rodovia concedida à iniciativa privada e amparada pela cobrança de pedágio não foi suficiente para evitar um fechamento total de quase 24 horas na BR-262, em Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O tombamento de uma carreta bitrem carregada com 44 mil litros de óleo diesel ainda na tarde de quinta-feira impôs um bloqueio que só foi desfeito ontem e formou filas de mais de oito quilômetros tanto em direção ao Triângulo Mineiro quanto no acesso a Belo Horizonte. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Corpo de Bombeiros, o risco de explosão em virtude da carga perigosa e a demora para fazer o transbordo de uma pequena parte da carga que ainda ficou nos tanques dificultaram os trabalhos. É a segunda vez em três meses que isso ocorre na região metropolitana.

Na primeira, em março, foram mais de 12 horas de interdição na BR-040, em Nova Lima, na Grande BH, quando uma carreta carregada com ácido tombou na rodovia, que também é concedida a uma empresa. Ontem, outro tombamento desafiou uma terceira concessionária mineira, que gerencia a BR-381 entre BH e São Paulo. Foram quatro horas de fechamento no sentido São Paulo, em Itapeva, no Sul de Minas.

Ainda na tarde de quinta-feira, a carreta bitrem com dois tanques de combustível carregada de óleo diesel tombou ao fazer uma curva para a direita na altura do km 363, em Juatuba. Segundo o Corpo de Bombeiros, duas pessoas morreram no acidente. Imediatamente, a PRF acionou o Núcleo de Emergência Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), que constatou vazamento de combustível para a canaleta de escoamento da rodovia, e também o Corpo de Bombeiros.


A situação demandou um fechamento total da via, devido ao risco de explosão, mesmo com o caminhão tombado no canteiro central, sem ocupar as pistas de rolamento. “Quando ocorre um acidente com produto perigoso, acionamos os órgãos devidos e temos que seguir as instruções desses órgãos. Eles que passam a ditar as normas. Pelo risco de explosão, todos os dois sentidos foram interditados”, afirmou o inspetor Antônio Augusto Rodrigues Dias, chefe da Delegacia Metropolitana da PRF.

A carreta seguia para o Triângulo Mineiro e entregaria a carga nas cidades de Uberaba e Uberlândia. O acidente ocorreu por volta das 15h de quinta-feira, segundo a PRF. Apenas às 13h24 de ontem as pistas foram completamente liberadas. Os bombeiros informaram que depois de feito o transbordo do que restou do óleo ainda foi necessário injetar um produto inerte nos tanques para descontaminar as estruturas e garantir a segurança contra explosões.

Ver galeria . 29 Fotos Interdição da BR-262 já dura quase 20 horas. Equipes trabalham na limpeza e prevenção de incêndiosPaulo Filgueiras/EM/DA Press
Interdição da BR-262 já dura quase 20 horas. Equipes trabalham na limpeza e prevenção de incêndios (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press )

Para o policial rodoviário Wilton Filgueiras de Paula, agente da PRF de Minas  e especialista em produtos perigosos, as leis estipulam que as empresas são diretamente responsáveis pela carga que carregam e também deveriam ter contratos com firmas especializadas em acidentes com produtos perigosos, para uma ação que seja feita da maneira mais rápida possível na hora de uma emergência. “Poderíamos, ainda, solicitar à ANTT, agência responsável pela concessão de rodovias, que inclua nos processos de privatização o devido aparelhamento para que (as concessionárias) possam fazer os atendimentos primários necessários a acidentes desta natureza”, afirma o policial.

O caminhoneiro Ailton Sardinha Borges, de 46 anos, saiu de Marialva, no Paraná, na quarta-feira e deveria ter chegado em Betim às 17h de quinta-feira. Ele pernoitaria na cidade da Grande BH antes de seguir com a carga de 35 mil litros de glicerina para Vitória, no Espírito Santo. Depois de passar a noite na estrada, ele esperava uma solução mais ágil para o problema, já que a rodovia é concedida à iniciativa privada. “Creio que sim, poderia ser bem mais rápido. Por ser um caminhão de combustível, poderiam ter agilizado mais, colocar mais equipes.

Tem muito caminhão aqui e a gente tem que ficar esperando. Podiam ter feito outro desvio para a gente passar”, afirma. Sem opções no próprio local, restou aos motoristas aumentar a viagem em 45 quilômetros, passando pela Fernão Dias até Itatiaiuçu, para depois seguir para Itaúna e Pará de Minas, antes de voltar para a BR-262, ou então encarar o trânsito, que ficou caótico nas vias municipais de Betim e também na MG-050, passando por Vianópolis e Juatuba, até voltar para a rodovia interditada.

ATRASOS NA LIBERAÇÃO Em março, a demora na liberação da BR-040 em Nova Lima após acidente com caminhão carregado de ácido teve como um dos motivos a necessidade da presença de uma empresa de São Paulo no local. A especificidade da carga demandou a atuação de um grupo mais qualificado e, por isso, o trecho ficou cerca de 12 horas fechado.

É comum a necessidade do transbordo das cargas, o que atrasa o desbloqueio das rodovias, segundo o inspetor Antônio Augusto Rodrigues Dias. “A falta de veículos pesados que pudessem receber cargas perigosas imediatamente após o acidente é uma das questões que dificultam o processo. Normalmente, são veículos de fora do estado e até a empresa providenciar outros caminhões leva tempo”, afirma.

O major Anderson Passos, do Corpo de Bombeiros, concorda. “A legislação é falha. Existe uma multa caso as transportadoras não colaborem para a liberação da pista depois de um acidente. Porém, essa multa deveria ser proporcional à falta de colaboração, no caso de interrupção de serviços essenciais. No caso do acidente de quinta-feira, se a penalidade fosse maior, (a liberação) teria ocorrido mais rapidamente”, afirma.

A Triunfo Concebra, empresa responsável pela operação da BR-262 no trecho em que ocorreu o acidente, informou que o fechamento foi necessário por questões de segurança e que o fornecedor do óleo que vazou no tombamento tem contrato com uma empresa de atendimento emergencial. Porém, a firma encontrou dificuldades de acesso e só conseguiu chegar ao local do acidente às 19h04, com escolta da PRF e da concessionária. “Foi uma ocorrência atípica na concessionária e pela carga perigosa todas as providências de segurança foram tomadas tanto na contenção do óleo diesel quanto no transbordo, destombamento e remoção da carreta”, diz o texto enviado pela Triunfo.

A empresa destaca que a responsabilidade de contenção e remediação do problema é do fornecedor/transportador e atua no apoio caso ele não tenha condições de tomar as medidas necessárias.  A reportagem entrou em contato com o Grupo 50tão, que é o responsável pela carreta acidentada, mas ninguém atendeu às ligações do EM.

MEMÓRIA
Limpeza demorada

Em 13 de fevereiro, a BR-262 ficou fechada por 13 horas depois do tombamento de uma carreta bitrem tanque carregada com álcool, na altura do km 368, em Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O veículo tombou num trecho de reta, no sentido Belo Horizonte, quando passava sobre uma ponte. O motorista morreu no local e cerca de 5 mil litros do total de 50 mil litros da carga foram derramados na pista. Na ocasião, a Triunfo Concebra, concessionária responsável pela rodovia, justificou que o longo tempo de fechamento da via foi necessário para que equipes do Corpo de Bombeiros e de limpeza emergencial da empresa fizessem a lavagem no local, onde houve derramamento do álcool, para evitar novas ocorrências.


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