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Estado de Minas

Pontos que permitem acesso de pessoas levam perigo aos trilhos do metrô

Reportagem do EM encontrou pelo menos sete trechos nessa situação ao percorrer os 28,1 quilômetros de linhas entre BH e Contagem


postado em 29/05/2017 06:00 / atualizado em 29/05/2017 17:06

Em um trecho que segue na Avenida do Contorno, há três grandes buracos nos muros da linha férrea que permitem a passagem de um homem adulto(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
Em um trecho que segue na Avenida do Contorno, há três grandes buracos nos muros da linha férrea que permitem a passagem de um homem adulto (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
O conceito de transporte por metrô dispensa a utilização de cintos de segurança por ser considerado o mais seguro e rápido transporte de massas disponível em áreas urbanas. Contudo, entre Belo Horizonte e Contagem, os trilhos que transportam diariamente 210 mil pessoas têm vários pontos que permitem acesso de pessoas estranhas até os trilhos, uma ameaça à segurança delas, dos condutores do sistema, dos passageiros e, ainda, uma fragilidade operacional que pode travar todo o sistema em caso de acidente grave. A reportagem do Estado de Minas percorreu os 28,1 quilômetros de linhas entre os dois municípios e encontrou pelo menos sete trechos que permitem o acesso direto à linha férrea por onde rodam os vagões do metrô.

A maioria desses acessos se dá por meio da linha férrea operada pela VLI Logística, que segue paralelamente ao metrô e que representa perigo pela própria operação de seus trens de carga. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), desde 2014 os hospitais conveniados da capital mineira atenderam a 35 pessoas feridas em acidentes ferroviários em BH e Contagem, sendo que quatro pessoas morreram dentro desse período.

O local mais inseguro é o trecho de quase um quilômetro de trilhos que seguem a Avenida do Contorno, entre os bairros Carlos Prates e Barro Preto, entre os elevados que levam à Avenida Nossa Senhora de Fátima. Naquele ponto, a reportagem encontrou três grandes buracos nos muros da linha férrea que permitem com tranquilidade a passagem de um homem adulto. Cinco passos adiante ficam os dois trilhos de sentidos opostos por onde viajam os trens de carga da VLI Logística. Depois deles, num elevado de concreto, deslizam as composições de quatro vagões do metrô. A única barreira que separa os dois espaços é um rolo de concertina, que naqueles pontos tem falhas de mais de três metros de extensão e permitem a passagem pela linha de passageiros.

Pessoas em situação de rua e usuários de entorpecentes entram e saem pelos orifícios do muro a todo instante. Muitos deles chegam a cruzar os trilhos do metrô para guardar seus pertences na cabeceira do Viaduto Helena Greco, que fica do outro lado da linha. “A gente costuma entrar aqui para usar o banheiro ou para guardar algumas coisas”, disse um dos moradores de rua encontrados pela reportagem passando pelo buraco.

De acordo com ele, os acessos pelos muros são mais usados para suprir as necessidades fisiológicas na margem da ferrovia, mas há quem utilize também os espaços para outros fins. “Tem quem aproveite para namorar, tem quem fique lá para pôr fogo em sucata, outros para fumar pedra e também para esconder alguma coisa das outras pessoas que moram na rua ou da própria polícia”, disse um senhor de idade que também está em situação de rua e vaga por aquela região. “Já vi camarada cambaleando pela linha, sobe e atravessa na frente do metrô para chegar na ponte (elevado)”, conta.

Cerca de arame farpado improvisada pode ser facilmente ultrapassada, deixando o caminho livre até os trilhos(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
Cerca de arame farpado improvisada pode ser facilmente ultrapassada, deixando o caminho livre até os trilhos (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)

IMPROVISO No Bairro Eldorado, em Contagem, há falhas nos muros que são frutos de acidentes na Via expressa, e que em vez de terem recebido reparos, optou-se por improvisar um cercamento com arame farpado que pode ser facilmente ultrapassado, deixando livre o caminho até os trilhos. Nas imediações da Estação Santa Efigênia, entre a Avenida dos Andradas e o Bairro Santa Teresa, há pelo menos 10 falhas nos muros da rede ferroviária e que dão acesso aos trilhos dos trens de passageiros pela pista de caminhada. O espaço é usado por muito carregadores de objetos para reciclagem e usado até mesmo para separar esse material, muitas vezes utilizando para isso fogo.

Em alguns desses pontos, a separação dos trilhos do metrô é feita apenas por uma tela com um metro e meio de altura facilmente transposta pelas pessoas que perambulam pela linha férrea. “Acho que a segurança do metrô e da rede ferroviária são muito falhas. Tinha que dar mais atenção a isso já que os trens vivem lotados. Imagina se tiver um acidente”, disse a vendedora Amanda Pires Garcia, de 46 anos, que utiliza o metrô diariamente entre o trabalho, em Contagem, e a sua casa, no Bairro São Geraldo, na Região Leste de BH.

De acordo com o diretor jurídico do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais, Robson Zeferino Gonçalves, a entidade de classe tenta notificar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) sempre que são localizadas falhas de segurança como essa. “O grande problema é a rede ferroviária, que segue paralela ao metrô e que tem buracos tão grandes que daria para passar até um caminhão. Essa é uma situação de altíssima gravidade e todos os lugares onde possa haver um acesso aos trilhos do metrô devem ser imediatamente fechados”, afirma. Segundo o diretor do sindicato, as inspeções da CBTU deveriam identificar e sanar todas essas falhas.

A CBTU e a VLI Logística informaram que vão fazer vistorias nas suas linhas férreas para identificar e bloquear os acessos que forem encontrados. A VLI, empresa que administra a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), se manifestou por meio de nota. Segue o texto na íntegra:

"A VLI, empresa que administra a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), informa que nenhuma norma da ANTT, órgão regulador do transporte ferroviário, exige obrigatoriedade sobre construção de muros de vedação na linha férrea. O uso de cercas e muros, em muitos casos, pode dificultar a mobilidade da população e, por isso, a implantação de vedação na linha férrea é estudada caso a caso pela empresa, levando em consideração além da mobilidade, o grau de risco de acidentes.

A VLI destaca que entre 2011 e 2012 foi realizada obra de vedação da avenida do Contorno entre a rua Espírito Santo, próximo à rodoviária e ao restaurante popular e finalizada na rua Rio Grande do Sul, próximo à associação Asmare no bairro Barro Preto. O investimento foi de aproximadamente R$1,5 milhão.

Neste e nos demais trechos referentes à sua concessão, a empresa realiza periodicamente manutenção nos muros de vedação existentes, entretanto, atos de vandalismo acabam por danificar as estruturas. Para coibir esse tipo de ação, a VLI mantém uma equipe de vigilância realizando rondas nas regiões e, quando identifica a presença de qualquer indivíduo, aciona a polícia militar.

Na extensão da Avenidas dos Andradas, por exemplo, a empresa realizou no final de 2016 a recuperação de 32 perfis de concreto que haviam sido vandalizados. O investimento foi de R$ 30 mil reais.

Para reforçar o andamento dessas ações de vigilância e recuperação dos muros, foi realizada uma reunião na tarde desta última terça feira, (23/05) entre VLI e a 5ª Cia da PMMG sobre ações de vandalismo nos muros da FCA na região central de Belo Horizonte e, consequente adentramento de pessoas na linha férrea.  

As duas instituições somarão esforços para melhorar a situação. Uma inspeção conjunta será feita em breve para avaliar os pontos mais críticos e programar as ações necessárias.

Em relação aos casos de acidente, em Belo Horizonte não foi registrado em 2017 nenhum acidente na linha férrea envolvendo a comunidade. Já em Contagem, houve um atropelamento com vítima fatal.

Dentre os trechos mencionados pelo Estado de Minas, a VLI esclarece que a faixa de domínio que margeia a Via Expressa assim como a Rua Joaquim Correia de Aquino pertence à Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e não à FCA."

Palavra de especialista
Risco para todos

Fábio Nascimento, especialista em medicina do tráfego e membro da Sociedade mineira de Medicina do Tráfego


“Os trilhos dos trens e do metrô numa cidade grande como Belo Horizonte precisam ser isolados com o máximo de urgência. O ser humano é imprevisível e as atitudes de usuários de álcool e drogas que têm acesso aos trilhos são ainda piores, trazendo riscos para a segurança dessas próprias pessoas, dos passageiros e condutores. Geralmente um acidente ferroviário é de extrema gravidade, são mortes instantâneas, nos hospitais vemos muitas amputações, lacerações de grande extensão. Tem gente que acaba dormindo no meio da linha e acaba atingido, outros vão realizar travessias e o acidente pode ocorrer. Imagine que um carro leva cerca de 4 segundos para frear, um trem ou metrô precisa de mais tempo e se arrasta por uma extensão grande até cessar, de um a três quilômetros, dependendo da composição. Um acionamento dos freios de forma brusca, no caso de o maquinista do metrô tentar evitar um atropelamento da pessoa que invadiu a ferrovia, pode provocar vários ferimentos nos passageiros, já que não há cintos de segurança no veículo e a grande maioria dos passageiros viaja em pé. No caso de um atendimento a feridos isso poderia gerar, inclusive, uma sobrecarga nos sistemas de resgate e de pronto-socorro, mesmo que para atendimento de feridos. Por sorte, em Belo Horizonte, a maioria dos cruzamentos de trens e metrô com as ruas é feito por viadutos e túneis, o que evita significativamente os acidentes. Temos casos como o da cidade de Juiz de Fora, onde as ferrovias atravessam várias partes da cidade e entram em conflito com o trânsito e com as pessoas, causando vários acidentes.”



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