Expedição alerta para problemas no Rio das Velhas

"Rio Velhas te quero vivo" tenta mais uma vez chamar a atenção e reiniciar um processo de renovação do manancial que abastece 60% de Belo Horizonte

Mateus Parreiras
No primeiro dia de expedição, ambientalistas desceram de canoa no alto Rio das Velhas: erosões ao redor do curso d'água chamaram a atenção - Foto: Túlio Santos/EM/DA Press
Ouro Preto e Itabirito – Cada remada desloca uma massa de água tão pura que pode ser consumida diretamente pelo homem. Pode não parecer, para quem conhece o rio como um canal praticamente de esgoto na Grande BH, mas no alto Rio das Velhas ainda se mata a sede diretamente das águas mansas que escorrem pelas pedras negras em Ouro Preto, onde nasce o manacial. E é neste cenário, no distrito de São Bartolomeu, que a expedição “Rio Velhas te quero vivo”, tenta mais uma vez chamar a atenção e reiniciar um processo de renovação do manancial que abastece 60% da capital mineira e é o segundo mais volumoso afluente do Rio São Francisco. A reportagem do Estado de Minas acompanha desde ontem os expedicionários e ambientalistas do projeto Manuelzão, da UFMG, da Copasa e das prefeituras de BH, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Itabirito e Brumadinho nesse percurso, para mostrar as agressões que esse manancial sofre e as formas de preservá-lo.

Uma das piores formas de agressão encontradas no alto Rio das Velhas são as erosões gigantes ocorridas após os desmatamentos. “É impressionante: primeiro se desmata a floresta ao redor do rio, depois se usa a mata para carvão e vem o gado e pisoteia tudo. A água da chuva entra nesse contexto, escavando seus caminhos e levando sedimentos para baixo, até o rio, que vai sendo enterrado”, aponta o membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH-Velhas) Ronald Guerra. Ronald, que já foi secretário de Turismo de Ouro Preto, é um dos canoeiros que navega pelo Rio das Velhas e critica a devastação desse manancial. “Se não nos unirmos pelo rio, não teremos mais nada.

A seca está tornando a navegação mais difícil, mas depois de tantas promessas de investimento, ainda temos um rio com, no máximo, 50% de pureza”, afirma.

Logo nos primeiros metros, quando o rio ainda é estreito, os canoístas precisam lutar contra a fina lâmina d’água e as pedras para poder prosseguir. O Rio das Velhas ali é assim: paisagem e não protagonista. “A gente tem de pensar nesse rio como um dos primeiros lugares onde o europeu mexeu. Não fosse por ele, não conseguiriam chegar aqui, e o que queremos é ter alguma memória preservada, matas ciliares, ambiente propício para que a natureza se desenvolva”, afirma o presidente do CBH-Velhas, Marcus Vinícius Polignano. De acordo com ele, as agressões ao Velhas são conhecidas e demandam mais fiscalização. “Vemos áreas degradadas, espaços destruídos e quem faz isso sai impune. O Projeto Manuelzão foi muito importante para a saúde do rio, mas é preciso manter essas iniciativas”, afirma.
- Foto: Túlio Santos/EM/DA Press

PANORAMA Do líquido puro que brota no Parque Natural Municipal das Andorinhas, em Ouro Preto, às cargas de esgoto, lixo e rejeitos que turvam o Rio das Velhas na Grande BH, um panorama atual sobre a qualidade e a quantidade das águas desse curso hídrico começou a ser traçado ontem. Apesar dessa importância, o rio é duramente maltratado ao longo do seu curso, com a devastação de suas matas ciliares, erosão das margens e poluição das águas. A expedição terá uma parte aquática, com navegadores descendo em caiaques por 107 quilômetros, entre o distrito ouro-pretano de São Bartolomeu e o município de Santa Luzia, colhendo amostras, registrando problemas e paisagens belas. Enquanto isso, com o apoio das prefeituras da região, serão feitas ações de conscientização nas comunidades ribeirinhas e também rodas de discussão sobre a situação do Rio das Velhas.

No dia 4 de junho, o grupo de expedicionários chega a Belo Horizonte. Na capital mineira, a partir das 9h, entidades ambientais se reúnem na Praça da Liberdade para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente e encerrar a expedição. Ao final, um cortejo com todos os participantes descerá a Avenida João Pinheiro, em direção ao Parque Municipal.

 

Parque da Serra do Curral será reaberto hoje


As visitas ao Parque da Serra do Curral serão retomadas hoje, a partir das 8h, depois de 96 dias de interdição.

No final de fevereiro, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) recomendou o fechamento do espaço em ação para prevenir o risco de contaminação pela febre amarela, já que macacos foram encontrados mortos em matas na região. Afastados os riscos da doença, o parque volta a funcionar, sempre de terça-feira a domingo, das 8h às 17h, com horário limite para entrada até as 16h. Porém, a trilha Travessia da Serra do Curral, que percorre o alto do paredão da serram, segue suspensa, sem previsão de ser retomada.

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