Tanto para humanos quanto para gatos contaminados há tratamento e a saída não é abandonar ou sacrificar o animal. “Há de ser levada em conta a probabilidade de risco à saúde pública, pelo contágio da esporotricose, que, apesar de ser uma doença curável, pode, nas condições atuais do Parque Municipal, se alastrar sem qualquer tipo de controle e se tornar uma epidemia”, informa nota da Secretaria do Meio Ambiente. Apesar de afirmarem que houve aumento no número de gatos na capital, nenhuma das duas secretarias tem números sobre essa população. De modo geral, os felinos contraem a doença em brigas e traumatismos, que ocorrem principalmente durante o acasalamento, quando os animais vão às ruas.
No Parque Municipal, o plano preventivo traçado pela Secretaria de Meio Ambiente começa com a contagem dos animais. Eles serão capturados por equipe coordenada por uma bióloga do Centro de Controle de Zoonoses, que atualmente é responsável pelo manejo dos felinos no parque. Eles serão castrados, microchipados e posteriormente encaminhados a lares temporários para o pós-operatório. A secretaria vai tentar ainda encontrar lares definitivos para esses animais e fará eventos e palestras de conscientização, para explicar que abandono é crime. Apesar do alerta, a pasta informou que não há previsão de fechamento da área verde.
Sem residência desde 1994, Alexandre Rocha da Silva, de 31 anos, é um dos muitos moradores de rua que frequentam o Parque Municipal diariamente. Ele confirma o aumento da população felina no local. “Eles aumentaram muito mesmo, especialmente nos últimos dois anos. Mas não vi nenhum doente. No dia a dia, a gente brinca com eles, pega e tem contato o tempo todo”, disse. Segundo o homem, ele nunca recebeu nenhuma informação de funcionários da prefeitura para evitar aproximação com os animais.
CASOS Os números da epidemia de esporotricose registrados no Rio de Janeiro dão a dimensão do problema em relação à facilidade de transmissão, que se dá por meio de arranhões, mordidas e contato direto com a pele lesionada dos gatos. O fungo causador da esporotricose, o Sporothrix schenckii, geralmente vive no solo, em restos de vegetais e madeira, e pode ser transmitido também por meio de materiais contaminados, como farpas ou espinhos. No estado vizinho, a doença teve um salto entre os animais no ano passado. Em 2016 foram feitos 13.536 atendimentos, bem mais que em 2015, quando foram registrados 3.253.
Em BH, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a esporotricose não tem notificação compulsória, ou seja, casos em humanos e animais não têm a obrigatoriedade de registro. Por isso, as autoridades de BH afirmam não ter como dimensionar o número de casos da enfermidade, apesar de informar que eles se mantêm estáveis, por “percepção dos profissionais nas unidades de saúde, onde os casos são tratados”. A secretaria informou ainda que a doença é comum nos consultórios de dermatologia.
Multa e serviços obrigatórios
Ainda dentro do pacote de ações para o Parque Municipal, a Secretaria de Meio Ambiente promete aplicar sanções para barrar o abandono de animais, como informa ocorrer no parque. “Com o controle da população dos gatos no parque ficará mais fácil a fiscalização. Placas e faixas exibirão leis que são violadas quando se um animal é abandonado e quais penalidades e sanções às quais a pessoa estará sujeita”, informa. Ainda segundo o órgão, multas e serviços obrigatórios serão impostos a quem abandonar felinos no parque. Outra medida administrativa está baseada em um termo de ajustamento de conduta firmado com o Ministério Público, para que protetores de animais sejam orientados a, com o tempo, não colocar alimentos no parque, afim de não incentivar o aumento da população.
O controle dos gatos no parque é necessário, segundo a secretaria, para garantir maior qualidade de vida aos animais, que necessitam de cuidados, e também para redução dos impactos que eles têm causado ao microecossistema local. Segundo o órgão, por serem animais domésticos, eles trazem um desequilíbrio considerável a esse ambiente.
Um deles está descrito em parecer técnico apresentado pela Fundação de Parques Municipais, informando que a presença dos felinos no espaço de preservação afetou significativamente “a fauna silvestre, o que também contribuiu para a proliferação de insetos, como os cupins, que comprometeram a flora local, provocando relevante desequilíbrio ambiental e acarretando o corte de centenas de espécimes vegetais no interior do parque, após a morte de uma cidadã vitimada pela queda de uma árvore”, diz a nota enviada pela secretaria.
O órgão informou ainda que parecer semelhante do Ibama relata o potencial impacto da população de gatos domésticos no local, alertando para a possibilidade de, na situação atual, a colônia de felinos fatalmente levar à extinção de várias espécies de aves, mamíferos e répteis silvestres.
Críticas de ativista
A ativista Adriana Araújo, integrante do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, critica a postura da prefeitura em relação à população felina, a qual classifica como “demonização” dos animais. “O aumento da população de gatos no parque é resultado do abandono desses animais por seus donos e da falta de política pública para cuidar do assunto. É muito raso o discurso da prefeitura em dizer que são os animais que estão dando problema e, em seguida, anunciar a retirada deles do local onde a maior parte vive há anos”, afirma Adriana.