Primeiro, foram as capivaras na orla da Lagoa da Pampulha, onde o carrapato-estrela ocasionou a morte de um menino por febre maculosa. Aí veio o besouro metálico, com todo apetite para devorar troncos de árvores no Centro e bairros de Belo Horizonte; na sequência, entraram em cena macacos mortos, trazendo o perigo da febre amarela e causando o fechamento de três parques municipais. Enquanto isso, pairava o medo de que o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, pudesse também ser o vetor da própria febre amarela urbana. E, quando a população apenas se recuperava de tantos sustos, eis que surgem a esporotricose, mal que pode matar gatos e contaminar humano, e a lagarta Lonomia obliqua, potencialmente mortal, que queimou uma criança de 5 anos no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na vizinhança da capital. Em meio a tantos desafios envolvendo bichos de variados tamanhos e graus de periculosidade, especialistas afirmam que é possível a convivência pacífica entre homem e animais nas metrópoles, desde que o primeiro seja educado para se relacionar com a natureza.
Leia Mais
Criança é queimada em Nova Lima por lagarta venenosa que pode levar à morte Ativistas atacam remoção de gatos pelo risco de micose que pode contaminar humanosMicose que tem gatos como hospedeiros preocupa em BHMorte de homem vacinado alerta para cuidados em áreas de risco de febre amarelaExame determina áreas de maior incidência do carrapato-estrela na orla da PampulhaDefesa Civil corta outra árvore infectada por besouro que virou praga em BH Grande enxame de marimbondos ataca residência em Ribeirão das NevesEm período inativo, Samarco suspende contrato de mais 800 funcionários
“O animal não é o vilão”, garante o ecólogo Alexandre Magno Junqueira Enout, da Fundação Biodiversitas, certo de que situação como a que Belo Horizonte tem vivido nos últimos meses é fruto de um descontrole no ecossistema. “As alterações acabam por levar ao aumento da população animal. Cada vez que a área urbana invade as áreas verdes naturais e as pessoas não sabem lidar com todos os animais silvestres ocorrem essas mudanças”, afirma Alexandre Magno.
Para o ecólogo, falta preparo ao ser humano, principalmente educação para conviver com a fauna que cerca cidades como BH. “É preciso aprender a se comportar em ambientais naturais, e, de modo específico, nos condomínios cercados de matas”, diz Alexandre Magno, explicando que, em situações como a da lagarta em Nova Lima, torna-se importante aprender a evitá-las para prevenir queimaduras. Uma das soluções para alertar a população está na adoção de diretrizes no sentido de orientar as pessoas sobre ocupação dos espaço e de criar infraestrutura para segurança.
Cuidado com as crianças
Com as férias de julho próximas, é bom ficar esperto e evitar surpresas desagradáveis com as crianças. No sábado, foi atendido no Pronto-Socorro João XXIII, na região hospitalar da capital, o pequeno Gabriel. Ele foi queimado pela Lonomia obliqua, tida como uma das mais venenosas da espécie. No momento, ele estava numa área com brinquedos no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, e foi socorrido pelos pais. Por sorte não teve complicações e se recupera bem.
A mãe de Gabriel, Vanessa Greco, contou que estava em um evento ao ar livre, na Rua das Flores, quando o menino chegou chorando com uma queimadura no dedo. “Parecia uma queimadura de panela quente. Fomos até o lugar em que ele estava brincando e vimos que a árvore na qual ele encostou estava com a base tomada por lagartas”, disse a mãe. Bombeiros civis que estavam no local identificaram a espécie e instruíram a mãe a procurar atendimento médico. Eles também removeram os montes de lagartas da árvore e isolaram a área. Especialistas alertam para os riscos de envenenamento pela Lonomia, que pode levar à morte e causar hemorragias graves.
CONVIVÊNCIA Para Adriana Araújo, integrante do Movimento Mineiro pelos Direitos dos Animais, a implantação de políticas públicas que visem não ao combate, mas ao bem-estar e à manutenção saudável dos animais poderia ao menos diminuir os conflitos do tipo e zoonoses em Belo Horizonte. “É preciso que as gestões se mobilizem de modo a mapear doenças e coletar indicadores para saber o que fazer e quando agir, de modo que humanos, animais e o meio ambiente como um todo permanecessem saudáveis.”
O manejo ético, que consiste no controle populacional de animais de forma respeitosa, em procedimentos como a castração, a microchipagem e o monitoramento constante é apontado como ação mais que necessária para o convívio saudável entre espécies. Adriana destaca, ainda, que é indispensável que a população seja educada, por meio de cartilhas e campanhas constantes, para conviver com os animais. Além disso, ela afirma que é necessário aplicar a Lei 22.231, de 2016, que dispõe sobre os maus-tratos contra animais no estado.
*Estagiária sob a supervisão do editor André Garcia